Sob a roupagem de uma crise diplomática, causada por um ativista chinês de “direitos (des)humanos”, se insere a mais nova provocação ianque contra a poderosa semicolônia chinesa. A crise internacional teria começado com um verdadeiro “conto de fadas”, quando o ativista cego pró-ianque, Chen Guangcheng, detido em prisão domiciliar por criticar duramente a política de planejamento familiar do Estado chinês, fugiu espetacularmente de sua residência para procurar asilo na embaixada norte-americana em Pequim. Chen se notabilizou mundialmente por sua admiração a Secretária de Estado Hillary Clinton, a quem considera uma notável paladina na defesa dos direitos humanos. Talvez sua “cegueira” ideológica o impeça de enxergar os monstruosos crimes de guerra cometidos sob os auspícios da madame Clinton no recente conflito militar ocorrido na Líbia, com um saldo de mais de cem mil civis mortos, incluindo crianças com idade menor que dez anos. Os serviços de inteligência dos EUA, sob o comando da CIA, mostraram que estão bastante ativos no interior do território chinês, ajudando o cego Chen a “pular mais de dez muros na madrugada e encontrar abertas as portas da embaixada norte americana”. A partir desta verdadeira epopeia, nada mais fácil do que mobilizar a opinião pública ianque (e mundial) na defesa de um ativista cego que luta em defesa do “sagrado” direito a maternidade, tolhido por “ex-comunistas chineses totalitários”. Agora, o “caso” Chen se encontra no âmbito do “humanista” congresso norte-americano, o mesmo que avalizou a invasão militar do Iraque e Afeganistão, que exige uma posição “firme” do governo Obama contra a China.
Chen insiste em obter permissão das autoridades chinesas para deixar seu país natal e embarcar para o que considera o “paraíso da democracia e dos direitos humanos”, talvez por idiotia não saiba que no império ianque exista fome e segregação racial, além de mais cem mil cidadãos condenados à prisão perpétua por sua condição social. Ah, mas é claro, que o Estado norte-americano não impede nenhuma mãe de ter quantos filhos se desejar... para depois colocá-los nos guetos sem proteção social ou prisões de trabalho escravo. A ídola de Chen, madame Clinton, em função de seu “afilhado” chinês, agora tem que dividir seu tempo entre as tarefas de armar sabotadores para assassinar apoiadores do regime Assad na Síria e preparar uma nova provocação contra um país potencialmente adversário. Por sua vez, Obama às vésperas da eleição presidencial quer marcar sua gestão, anteriormente considerada “frouxa” (Obanana), com um matiz belicoso e guerreirista, tendo como ponto de inflexão política a decisiva intervenção ianque na farsesca “revolução árabe”.
O governo Chinês, diante da flagrante intromissão norte-americana em uma questão “doméstica”, reagiu como um tradicional governo burguês semicolonial submisso, tentando colocar “panos quentes” na ofensiva ianque. A burocracia ex-comunista chinesa, hoje convertida em uma força social capitalista, com grande potencial de mercado, não pretende confrontar seus amos imperialistas, patrocinadores da restauração que destruiu as bases históricas do antigo Estado operário. Assim ocorreu na invasão do Iraque, do Afeganistão e, mais recentemente, na Líbia, que apesar dos protestos da diplomacia chinesa, nada de concreto fizeram para auxiliar na resistência dos povos oprimidos. Os burocratas chineses do PC a frente do Estado capitalista, hoje estão empenhados na empreitada de desarmar a Coreia do Norte para quebrar as bases sociais do Estado operário, além da demagogia diplomática que praticam contra uma possível intervenção militar dos EUA na Síria. Como prognosticou brilhantemente o grande revolucionário russo León Trotsky, “o Estado operário convertido em modo de produção capitalista jamais se tornaria um país imperialista, mas uma nova semicolônia subordinada aos ditames de Washington”.
Os marxistas revolucionários estão na primeira linha de defesa da nação chinesa contra as agressões imperialistas, apesar de afirmamos claramente o caráter venal e corrompido dos ex-burocratas “comunistas” que liquidaram as principais bases sociais do Estado operário, para se converterem em uma nova classe social dominante. Apesar da restauração capitalista, o que proporcionou a China a criação de um dos maiores mercados do mundo, parte das conquistas do proletariado ainda estão de pé e sob ameaça da ofensiva imperialista. É exatamente neste ponto que se concentram todo o ódio da burguesia ianque contra a China, não podem admitir que um país recém-convertido à economia “livre” de mercado, mantenha conquistas operárias que devem ser eliminadas pelo “ajuste financeiro” global que promovem contra os povos. Portanto, mantém-se plenamente vigente o prognóstico do Programa de Transição, apontando que os bolcheviques-leninistas devem combinar a luta pela revolução socialista nos ex-Estados operários com as tarefas pendentes da luta política em defesa das conquistas ainda existentes.