sexta-feira, 18 de maio de 2012


PRI é a opção preferencial do imperialismo ianque enquanto Obrador “corre por fora” para ser o novo gerente dos negócios da burguesia no México

Estamos praticamente a um mês das eleições presidenciais mexicanas que ocorrerão em 1º de julho. Pesquisas publicadas nesta semana pelo jornal El Universal colocam o candidato Andrés Manuel Lopez Obrador em segundo lugar nas intenções de voto para a Presidência do país. Com esse percentual, Obrador, que dirige o “Morena” (Movimento de Regeneração Nacional), um racha "à esquerda" do PRD, ultrapassa Josefina Vasquez Mota, do PAN (Partido da Ação Nacional), legenda do atual presidente Felipe Calderón. No entanto, os dois permanecem muito atrás de Enrique Peña Nieto, do direitista PRI (Partido Revolucionário Institucional), que subiu meio ponto percentual e soma 49,6%, sendo o candidato preferencial do imperialismo ianque e da burguesia mexicana.
No mesmo momento em que foi divulgada a pesquisa eleitoral foram encontrados 49 corpos mutilados em uma estrada na fronteira com os EUA, perto da cidade de Monterrey. O cartel Los Zetas, que luta contra os grupos do Golfo e Sinaloa pelo controle do tráfico de drogas assumiu a autoria do último ataque. O México vive momentos dramáticos. Durante o governo Calderón (PAN) já foram mortas cerca de 50 mil pessoas em torno da disputa pelo controle do tráfico de drogas entre os cartéis que dominam o país, todos vinculados a setores da burguesia e ao próprio aparato do Estado. Por sua vez, ao lado de Honduras, foi o país da América Latina que teve o maior incremento do índice de pobreza. Esta aberta tensão social se reflete na militarização do regime e na disputa por quem será o “novo” gerente a frente do governo nacional.

O PRI, partido tradicional da extrema-direita mexicana, que controlou a presidência durante 70 anos, sendo derrotado pelo PAN em 2000, com a vitória de Vicente Fox, irá disputar essas eleições presidenciais com grandes chances de vitória. Esse realinhamento político mostra que setores fundamentais da burguesia mexicana, associada ao imperialismo ianque, desejam a volta do PRI porque percebem que o débil governo de Felipe Calderón, do PAN e sucessor de Fox, eleito por via de uma imensa fraude contra Obrador, foi incapaz de estabilizar o regime ante o aprofundamento da crise econômica e cedeu espaço, através da profunda corrupção estatal, para o avanço das máfias e do narcotráfico no país, tanto que mais de 50 mil pessoas, incluindo muitos políticos burgueses e sindicalistas foram mortos nos últimos três anos. Na realidade, a atual “guerra contra as drogas” não é uma guerra entre o governo e o narcotráfico, mas uma disputa entre setores da classe dominante pelo controle de territórios e mercados. Leva-se a cabo chacinas e assassinatos brutais pela mercadoria oferecida: as redes de distribuição de entorpecentes proibidos e migrantes “ilegais”. Os diferentes grupos comerciais (Cartel do Golfo, A Família, Os Zetas, etc.) não poderiam existir sem seus vínculos com o Estado burguês, até porque a maior organização criminosa é o próprio Estado capitalista que expropria violentamente as massas. Tanto que o general reformado Ricardo Escorcia foi preso nesta quinta-feira, 17/05, pelo Exército mexicano e entregue à Procuradoria Geral da República por envolvimento com o tráfico de drogas. Escorcia é o terceiro general mexicano detido nos últimos três dias, após a prisão do ex-ministro da Defesa Tomás Ángeles e do general da ativa Roberto Dawe. Com Angeles, Dawe e Escorcia, desde 1997 somam ao menos oito os generais do Exército mexicano investigados por ligações com o narcotráfico,  mas todo esse teatro faz parte da disputa por quem controla o narcotráfico no interior do aparelho do Estado burguês.
Obrador fundou o “Morena” e postula a presidência, valendo-se da crise do PRD e tendo o apoio do Partido do Trabalho (PT), de corte neo-estalinista, da Convergência além de setores descontentes do PRD e de todo arco revisionista do trotskismo. Ele saiu-se vitorioso na consulta para escolher qual seria o candidato único da centro-esquerda burguesa mexicana, derrotando Marcelo Ebrard, prefeito da cidade do México e dirigente da ala direita do PRD. Com o resultado, Obrador declarou, visando se credenciar junto aos empresários e ao imperialismo, que “Gostaria de ser o Lula mexicano, apesar de que cada um tem suas características e sua própria história (G1, 16/05). Por isto, Obrador quer “convencer os Estados Unidos que, para o bem de ambos, é mais eficaz aplicar uma cooperação para o desenvolvimento do que insistir na cooperação policial e militar” (Idem) buscando se apresentar junto a Obama como alternativa a um PRI alinhado a ala republicana do imperialismo ianque.

O avanço das máfias e do narcotráfico no México revela que a burguesia e o imperialismo vão dar corpo a um regime ainda mais recrudescido e policialesco contra o movimento operário e as massas, optando até agora preferencialmente pelo PRI apesar de todos os “esforços” empreendidos por Obrador para se credenciar para ser o “novo” gerente dos negócios da burguesia. A evolução da crise econômica, porém, poder fazer com que um governo de colaboração de classes ao molde do brasileiro se imponha. Essa dinâmica coloca como necessidade imperiosa a construção de uma direção revolucionária à altura da situação que o país se encontra. Forjar um partido autenticamente comunista, operário e internacionalista oposto aos atalhos patrocinados pelos revisionistas do trotskismo (CMI ligada a Alan Woods, OST lambertista) que apoiam Obrador é uma necessidade fundamental da vanguarda classista mexicana. Longe de apoior o "Lula mexicano" nestas eleições é preciso construir uma ferramenta revolucionária que se oponha pelo vértice a esse curso de colaboração de classses, arrancando os sindicatos das mãos das corruptas máfias priristas e da nefasta influência de Obrador, do “Morena” e seus satélites é parte fundamental da tarefa histórica dos marxistas revolucionários neste momento dramático que vive o país de Villa e Zapata.