PRI é a opção preferencial do imperialismo ianque enquanto Obrador “corre por fora” para ser o novo gerente dos negócios da burguesia no México
Estamos
praticamente a um mês das eleições presidenciais mexicanas que ocorrerão em 1º
de julho. Pesquisas publicadas nesta semana pelo jornal El Universal colocam o
candidato Andrés Manuel Lopez Obrador em segundo lugar nas intenções de voto
para a Presidência do país. Com esse percentual, Obrador, que dirige o “Morena”
(Movimento de Regeneração Nacional), um racha "à esquerda" do PRD,
ultrapassa Josefina Vasquez Mota, do PAN (Partido da Ação Nacional), legenda do
atual presidente Felipe Calderón. No entanto, os dois permanecem muito atrás de
Enrique Peña Nieto, do direitista PRI (Partido Revolucionário Institucional),
que subiu meio ponto percentual e soma 49,6%, sendo o candidato preferencial do
imperialismo ianque e da burguesia mexicana.
No mesmo
momento em que foi divulgada a pesquisa eleitoral foram encontrados 49 corpos
mutilados em uma estrada na fronteira com os EUA, perto da cidade de Monterrey.
O cartel Los Zetas, que luta contra os grupos do Golfo e Sinaloa pelo controle
do tráfico de drogas assumiu a autoria do último ataque. O México vive momentos
dramáticos. Durante o governo Calderón (PAN) já foram mortas cerca de 50 mil
pessoas em torno da disputa pelo controle do tráfico de drogas entre os cartéis
que dominam o país, todos vinculados a setores da burguesia e ao próprio
aparato do Estado. Por sua vez, ao lado de Honduras, foi o país da América
Latina que teve o maior incremento do índice de pobreza. Esta aberta tensão social
se reflete na militarização do regime e na disputa por quem será o “novo”
gerente a frente do governo nacional.
O PRI,
partido tradicional da extrema-direita mexicana, que controlou a presidência
durante 70 anos, sendo derrotado pelo PAN em 2000, com a vitória de Vicente
Fox, irá disputar essas eleições presidenciais com grandes chances de vitória.
Esse realinhamento político mostra que setores fundamentais da burguesia
mexicana, associada ao imperialismo ianque, desejam a volta do PRI porque
percebem que o débil governo de Felipe Calderón, do PAN e sucessor de Fox,
eleito por via de uma imensa fraude contra Obrador, foi incapaz de estabilizar
o regime ante o aprofundamento da crise econômica e cedeu espaço, através da
profunda corrupção estatal, para o avanço das máfias e do narcotráfico no país,
tanto que mais de 50 mil pessoas, incluindo muitos políticos burgueses e
sindicalistas foram mortos nos últimos três anos. Na realidade, a atual “guerra
contra as drogas” não é uma guerra entre o governo e o narcotráfico, mas uma
disputa entre setores da classe dominante pelo controle de territórios e
mercados. Leva-se a cabo chacinas e assassinatos brutais pela mercadoria
oferecida: as redes de distribuição de entorpecentes proibidos e migrantes
“ilegais”. Os diferentes grupos comerciais (Cartel do Golfo, A Família, Os
Zetas, etc.) não poderiam existir sem seus vínculos com o Estado burguês, até
porque a maior organização criminosa é o próprio Estado capitalista que
expropria violentamente as massas. Tanto que o general reformado Ricardo
Escorcia foi preso nesta quinta-feira, 17/05, pelo Exército mexicano e entregue
à Procuradoria Geral da República por envolvimento com o tráfico de drogas.
Escorcia é o terceiro general mexicano detido nos últimos três dias, após a
prisão do ex-ministro da Defesa Tomás Ángeles e do general da ativa Roberto
Dawe. Com Angeles, Dawe e Escorcia, desde 1997 somam ao menos oito os generais
do Exército mexicano investigados por ligações com o narcotráfico, mas todo esse teatro faz parte da disputa por
quem controla o narcotráfico no interior do aparelho do Estado burguês.
Obrador
fundou o “Morena” e postula a presidência, valendo-se da crise do PRD e tendo o
apoio do Partido do Trabalho (PT), de corte neo-estalinista, da Convergência
além de setores descontentes do PRD e de todo arco revisionista do trotskismo.
Ele saiu-se vitorioso na consulta para escolher qual seria o candidato único da
centro-esquerda burguesa mexicana, derrotando Marcelo Ebrard, prefeito da
cidade do México e dirigente da ala direita do PRD. Com o resultado, Obrador
declarou, visando se credenciar junto aos empresários e ao imperialismo, que
“Gostaria de ser o Lula mexicano, apesar de que cada um tem suas
características e sua própria história (G1, 16/05). Por isto, Obrador quer
“convencer os Estados Unidos que, para o bem de ambos, é mais eficaz aplicar
uma cooperação para o desenvolvimento do que insistir na cooperação policial e
militar” (Idem) buscando se apresentar junto a Obama como alternativa a um PRI
alinhado a ala republicana do imperialismo ianque.
O avanço das
máfias e do narcotráfico no México revela que a burguesia e o imperialismo vão
dar corpo a um regime ainda mais recrudescido e policialesco contra o movimento
operário e as massas, optando até agora preferencialmente pelo PRI apesar de
todos os “esforços” empreendidos por Obrador para se credenciar para ser o
“novo” gerente dos negócios da burguesia. A evolução da crise econômica, porém,
poder fazer com que um governo de colaboração de classes ao molde do brasileiro
se imponha. Essa dinâmica coloca como necessidade imperiosa a construção de uma
direção revolucionária à altura da situação que o país se encontra. Forjar um
partido autenticamente comunista, operário e internacionalista oposto aos
atalhos patrocinados pelos revisionistas do trotskismo (CMI ligada a Alan
Woods, OST lambertista) que apoiam Obrador é uma necessidade fundamental da
vanguarda classista mexicana. Longe de apoior o "Lula mexicano"
nestas eleições é preciso construir uma ferramenta revolucionária que se oponha
pelo vértice a esse curso de colaboração de classses, arrancando os sindicatos
das mãos das corruptas máfias priristas e da nefasta influência de Obrador, do
“Morena” e seus satélites é parte fundamental da tarefa histórica dos marxistas
revolucionários neste momento dramático que vive o país de Villa e Zapata.