quarta-feira, 23 de maio de 2012


Cachoeira fica de bico calado, restando a CPI convocar Xuxa para “soltar o verbo”

O depoimento monocórdio do bicheiro Carlinhos Cachoeira dado ontem (22/05) a CPI do Congresso Nacional só veio a confirmar nossa caracterização acerca desta panacéia distracionista, montada pelo Parlamento sob orientação direta do Palácio do Planalto. Com a assessoria do ex-ministro da justiça, Márcio Tomaz Bastos, petista histórico da mais alta confiança pessoal de Lula, Cachoeira seguiu o script previamente acertado com o governo Dilma e afirmou que só falaria em juízo. Alguns “revoltados” congressistas que esperavam um verdadeiro show midiático, obviamente para a própria promoção eleitoral e não para qualquer apuração rigorosa da rede de tráfico de influência da empreitera Delta, pediram então a suspensão da sessão plenária da CPI o que equivaleu na prática a seu próprio “enterro” político. Diante da frustração da população que esperava ao menos ouvir as justificativas do bicheiro para a explicar como montou sua teia de corrupção estatal, ou com muita sorte até uma breve “lavagem de roupa suja” sob os holofotes da mídia, o congresso para “alimentar” o circo resolveu então convocar a apresentadora global Xuxa Meneguel para depor na CPI da exploração sexual de crianças. As revelações de Xuxa que “soltou o verbo” no programa “Fantástico” alavancaram em muito o combalido IBOPE da Rede Globo, fazendo crer a base dos parlamentares governistas que poderia produzir o mesmo resultado para o ultradesmoralizado Congresso Nacional.

Com a falência prematura da CPI, que na semana passada já tinha aberto mão da convocação dos principais protagonistas do “escândalo” Cachoeira, como governadores e a Delta, resta ao governo concluir o processo de transição da venda da empreiteira Delta ao poderoso grupo econômico JBS-Friboi e manter os “consorciados” estaduais da megaconstrutora em total sigilo. Quanto ao pivô da “crise”, senador Demóstenes Torres, que depõe esta semana no Conselho de Ética do Senado, tudo indica que deverá ser “degolado” pelos seus pares para fechar definitivamente mais este capítulo do “romance” das relações estruturalmente prostituídas entre a burguesia e o estado nacional. As eleições municipais de outubro se aproximam e o congresso quer limpar a pauta política do semestre, para liberar as frações das oligarquias dominantes de suas “árduas” tarefas legislativas.

Mas a questão de fundo que fez eclodir a céu aberto o “fenômeno” empresarial do bicheiro goiano permanece aberta. Estamos falando do processo do Mensalão, que está em vias de ser julgado no STF. Neste caso as forças sociais que se enfrentam são muito mais poderosas do que o escândalo Cachoeira, que não por acaso foi peça decisiva para “detonar” o capo petista José Dirceu. O julgamento dos “mensaleiros” petistas é capaz até mesmo de provocar uma grave fissura entre a ex-presidente poste e seu padrinho político Lula. Dilma está empenhada em se livrar de Dirceu e sua entourage do chamado “campo majoritário” do PT. Lula ao contrário sabe que necessita da liderança de Dirceu para manter o PT unido, inclusive na hipótese de seu falecimento físico. A burguesia nacional e a oposição Demo-Tucana está comprometida com Dilma em sua cruzada anti-Dirceu, já o PT tentou utilizar a manobra da CPI para neutralizar os futuros “algozes” dos mensaleiros, o tiro saiu pela culatra em conjunto com a próprio esgotamento precoce da CPI. A tendência dominante agora é o STF venha a banir da vida política Dirceu e seu grupo, enfraquecendo substancialmente a autoridade de Lula sobre os rumos do governo Dilma.

O movimento de massas permanece atomizado diante das lutas intestinas das classes dominantes. As greves em curso, como das universidades federais, carecem de uma perspectiva classista de combate mais abrangente ao regime político, limitando-se a reivindicações econômicas rebaixadas e um “cardápio” corporativista. É necessário lutar no seio da classe trabalhadora por outra orientação programática, capaz de colocar o movimento de massas no centro da cena política nacional. Para esta tarefa a vanguarda mais combativa do proletariado deve somar forças com o embrião do partido revolucionário, forjando a construção de uma nova direção política para a classe. As manobras distracionistas da burguesia, como as CPIs e as próximas eleições municipais devem ser totalmente secundarizadas em função da estratégia de uma alternativa de poder para as massas exploradas.