Com um percentual de 51,7% François Hollande foi
eleito presidente da França neste domingo (6 de maio), contra 48,3% de seu oponente
Nicolas Sarkozy (UMP). Este resultado vem confirmar todos os prognósticos
levantados pela LBI nos últimos meses acerca de que a vitória do PS estaria
sendo gestada há pelo menos dois anos para “quebrar” o ciclo neoliberal
clássico em meio à esteira da crise capitalista que arrasta países como
Espanha, Portugal, Grécia e Itália. A volta ao governo dos “socialistas” não
significa que a Europa esteja caminhando rumo a tendências “progressistas” em
seus regimes políticos, como querem nos convencer os “marxistas” domesticados
pela democracia burguesa. Ao contrário, a crise traz em seu bojo a ascensão da
extrema-direita, no caso a Frente Nacional de Marine Le Pen (terceira colocada
no primeiro turno das eleições). O imperialismo europeu tomou a França como um
tubo de ensaio para o retorno do PS no comando do Estado capitalista com um
projeto mais amplo de operar um processo de transição semelhante na Alemanha e
Inglaterra, a fim de escolher seus “novos” gestores da crise capitalista à
custa do sacrifício do proletariado europeu. Para tanto foi necessário eliminar
figuras “indesejáveis” como Dominique Strauss Kahn e Leonel Jospin por suas
passagens pela ultraesquerda “trotsquista” do defunto revisionista Lambert,
credenciais que não lhes conferiram “salvo-conduto” para assumir o governo da V
República.
Hollande em seu primeiro discurso como novo presidente
já mostrou a que veio: “Prometo ser o presidente de todos”, ou seja, dispor
seus serviços ao capital financeiro internacional (os rentistas), à burguesia
industrial, banqueiros etc. Convicto acerca do papel que cumpre na atual
conjuntura, acrescenta: “Hoje mesmo, responsável pelo futuro do nosso país,
estou ciente de que toda a Europa nos observa” (France Press, 6/05). Como
deixara claro desde o início, seu governo “para todos” inclui manter a parceria
com a Alemanha de Angela Merkel, quem “declarou que irá receber Hollande de
‘braços abertos’, garantindo que vai trabalhar de perto com ele” (Le Monde,
7/05), uma vez que este país ao lado da França são os marcos de
sustentabilidade do Euro e da União Europeia. Precisamente por isso, Hollande
procurará Merkel para “renegociar” acordos nos marcos draconianos do Euro, ou seja,
dando continuidade aos planos de austeridade de Sarkozy contra as conquistas
históricas da classe trabalhadora francesa, só que agora com a aquiescência das
direções sindicais encabeçadas pelo PCF que apoiaram entusiasticamente o novo
presidente: “Quero felicitar François Hollande por sua eleição. As mulheres e
os homens que se aglutinaram em torno de sua candidatura para infligir a
Nicolas Sarkozy a derrota que ele merecia abriram uma nova esperança na França
e na Europa”, afirmou em nota (6/05) o secretário nacional do Partido Comunista
Francês, Pierre Laurent, “de olho” em algum cargo ministerial do futuro governo
do PS.
Os marxistas revolucionários não defenderam o voto em
nenhum candidato nestas eleições, muito menos chamaram a apoiar “criticamente”
o PS no segundo turno. Postura que não teve a esquerda revisionista, uma vez
que em nenhum momento apresentou uma caracterização programática clara diante
da anunciada vitória do PS. O PTS argentino, por exemplo, não defendeu o voto
nulo no segundo turno buscando assim manter suas boas relações com o NPA,
partido que chamou voto em Hollande como “mal menor”. Desta forma o PTS
Argentino e sua fictícia “corrente comunista revolucionária do NPA” acabaram
por se centralizar pela política da direção do NPA. Já A LIT nem sequer se
pronunciou ou elaborou uma declaração sobre as eleições francesas, se abstendo
covardemente neste importante processo político de implicância mundial. A
posição do Partido Operário de Altamira foi ainda mais esdrúxula e delirante.
Em seu balanço do primeiro turno fez todo um malabarismo catastrofista para
demonstrar que o crescimento da extrema-direita foi “desprezível” e que a
vitória do PS e o “crescimento” da esquerda apontam uma “tendência à esquerda”
das massas (site PO, 26/4), situação que, segundo PO, pode conduzir a “uma
débâcle do regime político” (idem). Para o PO o “fim do mundo” sempre está
muito próximo quando ocorre alguma mudança eleitoral no regime burguês, mas
enquanto o “armagedon” não chega vão mesmo praticando seu cretinismo
parlamentar e apoiando em silêncio e com muita discrição a velha social
democracia europeia. Como os “melhores” oportunistas, não emitiram posição
eleitoral pelo voto nulo no segundo turno... para o bom entendedor meia palavra
basta!
Está claro para o marxismo revolucionário que as
tendências fascistizantes do regime político somente poderão ser derrotadas
através da ação consciente das massas, pela superação das direções sindicais
cooptadas pelo Estado imperialista, numa frente única operária de ação para
combater os novos ataques que virão dirigidos pelo “socialista” Hollande,
representante-mor do partido que deu início aos primeiros pacotes neoliberais a
partir da década de 80 patrocinados pelo também “socialista” Mitterrand. Ou seja,
a resistência aos planos de austeridade antioperários que se avizinham não deve
se limitar aos lobbies parlamentares como apregoa grande parte da esquerda
mundial, a qual assinala desde já a importância das próximas eleições
legislativas. A via eleitoral, neste sentido, é o caminho mais curto para as
derrotas do proletariado francês e europeu. É preciso ir mais longe! A tarefa
primordial para o momento é organizar os trabalhadores com total independência
dos setores “progressistas” da burguesia para derrotar o regime político
imposto pela União Europeia, pela via revolucionaria, em oposição ao programa
de ajuste fiscal da “Troika”, no qual o PS francês está completamente
integrado.