Com um roteiro de autoflagelação previamente traçado,
o senador Demóstenes Torres declarou nesta última terça feira (29/05) à
Comissão de Ética do senado que: “vive o pior momento de sua vida”. Tentando
atrair um sentimento de piedade dos seus pares, afirmou que é “apenas um
carola”, desconhecendo portanto o “lado da contravenção” do amigo bicheiro
Carlinhos Cachoeira. O Vestal do “pau oco” jurou que jamais intercedeu em favor
da empreiteira Delta e que apenas aceitou alguns “presentinhos insignificantes”
de Cachoeira. Que Demóstenes atravessa seu “inferno astral” não temos a menor
dúvida, o que não estava “previsto” nesta verdadeira “novela” da vida política
real era o fato da operação Vegas deflagrada pela PF para acuar a entourage de
Gilmar, VEJA e Cachoeira, acabar decretando a morte política de José Dirceu e
seus “bons companheiros”. Uma CPI que deveria fazer um “ajuste de contas” com
os “denuncistas” do mensalão, liquidando de uma vez por todas com a rede de
arapongas da oposição Demo-Tucana, acaba “emperrada” com a entrada em cena da
megaempreiteira Delta e parece que irá finalizar seus trabalhos levando
indiretamente (pelos desdobramentos extra-congresso) o ex-capo petista direto
para o presídio da Papuda. A turma do mensalão já sentiu o golpe e desconfia
até se a “estúpida ingenuidade” de Lula não tem o dedo da ex-presidenta poste
Dilma Rousseff com o objetivo de defenestrar seu arqui-inimigo Dirceu.
A completa inação de Lula em meio a vigorosa ofensiva
midiática de Gilmar e Demóstenes nos faz pensar que ele próprio pode ser
cúmplice da bandidagem que tem como objetivo sentenciar, antes mesmo do
veredito do STF, a condenação exemplar de todos os petistas indiciados como
réus no processo do mensalão. Ainda não está absolutamente claro em que time
está jogando atualmente o ex-presidente operário, se na defesa de Dirceu ou na
oferta da cabeça dos dirigentes petistas em troca de uma reeleição tranquila de
Dilma, caso se impossibilite fisicamente da disputa em 2014. O certo é que não
estamos tratando com “amadores”, nem Lula e sua experiente secretária Clara Ant
(ex-LIBELU), nem a dupla Gilmar/Jobim. O suposto “trunfo” de Lula para
intimidar Gilmar na CPI, ou seja, a viagem regional em um bimotor velho pago
por Cachoeira, não assustaria a um estafeta de segundo escalão, imaginem a um
ministro com cargo vitalício (até os 70) no Supremo. Se Lula realmente
pretendesse “emparedar” o gangster Gilmar o ameaçaria com provas que vão da
tentativa de assassinato até venda bilionária de sentenças para grandes
empresas.
Há um elemento realmente nebuloso em todo este
imbróglio, trata-se do real quadro de saúde de Lula, mais além das simplórias
versões de que seu câncer estaria definitivamente curado. O semblante
“abobalhado” da raposa mais arguta da política burguesa brasileira dos últimos
quarenta anos, chega a gerar dúvidas de sua plena sanidade mental. De qualquer
maneira, Lula nunca está só, sempre muito bem assessorado pelos mais capazes
quadros do PT, nos fazem crer que seria impossível cometer tolices primárias,
como comparecer a uma reunião fechada em um lugar impróprio (escritório de
Jobim em Brasília) com um mafioso do quilate de Mendes. Tudo leva a crer que a
repentina ofensiva política da quadrilha de Cachoeira (estavam há pouco
completamente nocauteados) tem aval do Palácio do Planalto, que já fala em
evitar uma crise institucional entre os poderes da república.
A tentativa da blogosfera em desatar uma
contraofensiva para denunciar o que seria uma grotesca armação de Gilmar contra
Lula, carece até o momento de respaldo político do próprio PT e também do seu
presidente de honra. Até o exato momento, assistimos a pronunciamentos
“protocolares” das lideranças petistas contra as acusações de Gilmar, que já
tomaram a forma judicial pelas mãos do Procurador-Geral Roberto Gurgel. Por
outro lado até o momento os ministros “lulistas” do STF, estranhamente
permaneceram calados, como é o caso de Joaquim Barbosa que por muito menos em
casos anteriores já “partiu para cima” do desafeto Gilmar. Mas o determinante
para o desenlace desta nova crise surgida nas entranhas do Estado burguês e
suas instituições apodrecidas como a suprema corte, é a entrada em cena da
classe operária, com seu próprio projeto de poder revolucionário.