A tão esperada eleição para presidente no Egito, que
segundo os cretinos revisionistas irá concluir a “primeira fase” da fraudulenta
revolução “made in USA”, acontece finalmente nesta quarta e quinta-feira (24/05).
Os principais candidatos “revolucionários” que disputam a gerência do Estado
burguês são completamente alinhados com a Casa Branca e de uma certa forma com
o próprio regime militar do deposto Mubarak. Acontece que não ocorreu revolução
alguma, nem social, tampouco democrática, e o conjunto dos “presidenciáveis”
reflete fielmente o processo de uma transição política conservadora controlada
pelas forças armadas, sob a tutela direta do governo Obama. Assim como ocorreu
no Brasil, os genocidas militares saíram do primeiro plano do regime político
para dar lugar a um “governo civil”, mantendo intactas as instituições da
ditadura a serviço do capital financeiro. As multitudinárias mobilizações
populares que tomaram as praças reivindicando a derrubada do odiado Mubarak
careciam de uma direção e programa autenticamente revolucionário, sendo desta
forma facilmente manipuladas pela via “democrática”, ou seja, de uma transição
ordenada da ditadura militar “substituída” por um regime político burguês legitimado
pelas urnas. Só para se ter uma dimensão das profundas limitações políticas das
mobilizações ocorridas há cerca de um ano, um dos principais movimentos “revolucionários”
surgidos da Praça Tahrir o “6 de Abril”, segundo as próprias palavras de seu
dirigente máximo Abdallah Sadaui: “Não somos nem de direita nem de esquerda”,
para depois concluir: “Nosso grupo tem espaço para todos que querem mudar o
Egito, sejam eles nacionalistas, comunistas ou liberais” (Site G1,22/03).
Os verdadeiros protagonistas das eleições
presidenciais já se distanciaram bastante da demagogia reformista do movimento “6
de Abril”, alguns inclusive bem cotados nas mais recentes pesquisas chegam a
defender abertamente o regime do facínora Mubarak. Este é o caso de Ahmed
Shafiq, último primeiro-ministro do senil carniceiro, que vem crescendo em sua
campanha e está colado nos dois favoritos, Amr Musa e Abdel Moneim duas figuras
do mais alto establishment egípcio. Musa foi até pouco tempo secretário geral
da asquerosa Liga Árabe, além de ostentar em seu currículo a participação no
governo Mubarak. Como “capo” da Liga Árabe, Musa articulou a aprovação da
entrada militar da OTAN no conflito nacional Líbio, o que lhe rendeu a simpatia
da Madame Clinton em sua campanha política. Já Abdel Monein se apresenta como
um ex-dirigente da Irmandade Muçulmana, totalmente formatado e palatável aos
interesses do imperialismo e seu gendarme sionista na região. Correno por fora
e com poucas chances de vitória, o candidato oficial da própria Irmandade,
Mohamed Morsi, debilitado pelo “racha” sofrido por sua organização,
anteriormente franca favorita a ganhar a disputa. Com a renúncia da candidatura
de El Baradei, o imperialismo ianque vem centralizando seu apoio em Monein, um
personagem político “híbrido”, que afirma respeitar as tradições religiosas
árabes e ao mesmo tempo defende a “ocidentalização” do Egito. Como as eleições
se realizam em dois turnos, é muito provável que as potências europeias
prefiram o nome de Musa, com largos serviços prestados ao imperialismo, para
rivalizar com Monein Abulfutú, um domesticado “novato” no tabuleiro das
operações de Washington no Oriente Médio.
A esquerda Árabe vem apostando suas fichas no Nasserista
Handeen Sabahi, referendado pela Coalizão da Juventude Revolucionária que reúne
jovens independentes e de forças políticas de diversas correntes que estiveram
à frente das manifestações da Praça Tahrir. O veterano Sabahi se apresenta
nestas eleições reivindicando o legado do caudilho nacionalista burguês Abdel
Nasser, o mesmo que “forneceu” fuzis danificados e sem munição para que os
palestinos expulsassem as tropas sionistas de seu território ocupado. Também
declararam apoio ao candidato Sabahi a “Frente Livre por Mudanças Pacíficas”,
cujos líderes declaram que o programa do Nasserista está em consonância com os
objetivos da “Revolução”. Como se pode constatar, o candidato da esquerda “socialista”,
um parlamentar de longa trajetória de colaboração com o regime Mubarak, não
ultrapassa os limites do nacionalismo árabe, com seu inerente caráter de classe
burguês e “modernizado” com a inclinação em colaborar com a ofensiva do
imperialismo na região, nomeada por estes cretinos traidores de “primavera
árabe”.
O movimento operário egípcio está acorrentado por uma
orientação programática completamente equivocada, que insiste em caracterizar
uma transição conservadora como uma “revolução”, exatamente por essa razão não
se postulou de forma independente nestas eleições presidenciais. O proletariado
também vem retraindo suas ações diretas, como greves e ocupações, em função da
demagogia reformista que se cristalizou nas manifestações “ordinárias” da Praça
Tahrir. O resultado político deste amálgama supostamente “revolucionário” é que
sequer mobilizações anti-imperialistas vem acontecendo na cidade do Cairo, como
a corajosa invasão da embaixada israelense ocorrida no ano passado. O
imperialismo ianque vem ocupando cada vez mais espaços políticos, aparecendo
como um dos promotores da malfadada “revolução”. Os marxistas revolucionários
que desde o primeiro momento desmascararam os charlatões que “venderam o conto
da revolução”, como uma força auxiliar à serviço da OTAN, declaram abertamente
que nestas eleições as massas árabes oprimidas não possuem nenhuma opção
política, a não ser a de continuar o combate pela genuína revolução socialista
contra os neos Mubaraks capitalistas maquiados de “revolucionários”.