O Banco Central, nosso FED tupiniquim, acaba de anunciar nesta última
quarta-feira (30/05) mais uma redução na taxa básica de juros. Foi a sétima
redução consecutiva da SELIC, que chega ao patamar de 8,5% ao ano, o menor nível
desde 1999 quando os atuais critérios monetários do COPOM foram estabelecidos. A
taxa de juros praticada pelo BC (SELIC) foi ao longo dos últimos trinta anos um
importante instrumento das equipes econômicas governamentais para “capitalizar”
o país e equalizar nossa deficitária
balança de pagamentos. Por esta razão, historicamente os juros pagos pelos
títulos públicos brasileiros sempre se situaram entre os mais bem remunerados
do planeta, gerando um hiperaquecimento da taxa de juros na economia nacional. Os
juros reais praticados pelo mercado financeiro doméstico chegam a atingir a
marca de mais de 300% ao ano, para pequenos e médios credores. Agora o governo
da frente popular resolveu demagogicamente impulsionar uma “cruzada cívica”
contra os altos juros, utilizando a redução da SELIC como mais um elemento de
pressão para o sistema financeiro nacional. Outra arma utilizada por Dilma na “guerra”
contra os juros são os bancos estatais, BB e CAIXA, que aliviaram suavemente
seus spreads, forçando a concorrência a enveredar na mesma direção proposta
pelo governo. Mas, foi tungando a remuneração da poupança popular, que a partir
desta nova taxa do BC passa a render bem menos, que a equipe econômica
palaciana “convenceu” os banqueiros a embarcar na campanha midiática do “juro
baixo”. Na realidade, a base concreta que vem permitindo ao governo acenar com
uma pequena queda em sua estratosférica taxa de juros é a abundância de capital
internacional estacionado no país, para investimentos diretos. Paradoxalmente,
o crash financeiro nos centros imperialistas vem favorecendo
circunstancialmente a economia brasileira, “porto seguro” para grandes
corporações que apostam no potencial de nosso mercado interno. Com um cambio
extremamente favorável a exportação de commodities agrominerais, em função da
atual crise bursátil, o cenário econômico nacional não poderia ser mais
favorável na atual conjuntura de turbulência financeira mundial, permitindo
todo este espetáculo político protagonizado pela frente popular da colaboração
de classes.
Por sinal, a “cruzada pelo juro baixo” vem permitindo ao governo
sedimentar seu pacto social, unificando apoios nesta empreitada “cívica” desde
a FIESP até o conjunto das centrais sindicais “chapa branca”. O sindicalista do
PCdoB, Wagner Gomes, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do
Brasil (CTB), declarou ao site Vermelho que a decisão do COPOM “está no rumo
certo”. Em nota emitida na noite desta quarta-feira, Gomes afirma que a medida
“reorienta a política monetária e se soma às iniciativas adotadas pelo governo
Dilma para fazer frente aos efeitos da crise mundial do capitalismo e reverter
o processo de desaceleração da economia nacional”. Os ex-estalinistas
convertidos à ordem capitalista não estão sozinhos no apoio ao engodo do
governo Dilma, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) disse
que o corte na taxa básica de juros (SELIC) anunciado é bem-vindo. Na mesma
senda a ultrarreacionária Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio-SP)
também considerou acertada a decisão do Banco Central de diminuir a taxa básica
de juros (SELIC) para 8,5% ao ano. Os oficialistas da CUT fecham o “círculo do
poder” saudando as medidas do BC e aconselhando mais reduções para “fomentar a
indústria nacional”. Com um arco social bastante amplo Dilma vai consolidando
sua base política de apoio popular, apesar de ser patrona da ofensiva patronal
para liquidar as conquistas operárias.
Para a população trabalhadora a “cruzada” governista poderá significar perdas
significativas nas reservas do Fundo de Garantia, que deverá ter seus
rendimentos reduzidos neste idealizado cenário de juros mais baixos. Também é
certa uma relativa retomada da escalada inflacionária, onde o incentivo ao
consumo e ao crédito são os signos da atual etapa, ironicamente chamada de “neodesenvolvomentista”.
Com uma política econômica neoliberal de arrochar ao máximo salários públicos,
o governo Dilma espera encontrar seu superávit primário as custas do corte das
verbas nos setores mais essenciais para o povo oprimido.
O proletariado que se vê empurrado a contrair dividas, principalmente
pela via dos empréstimos consignados, não atravessa nenhum “ciclo virtuoso”, ao
contrário da nova burguesia emergente, subsidiada pelo governo do PT. A enorme “bolha”
de crédito que encobre o país cobrará seu preço mais cedo do que tarde, com a
acumulação da renda concentrada em um pequeno estrato social. Romper com esta
lógica do capital, impulsionando uma vigorosa jornada nacional de protestos,
greves e ocupações, se coloca como tarefa imediata para a vanguarda classista que
não se vergou ao “encantos” das campanhas publicitárias estatais, geridas pela
frente popular para amordaçar a ação direta do movimento de massas.