quarta-feira, 16 de maio de 2012


Qual é a verdadeira disputa em torno da convocação do Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel?

Todos os dias, nas TVs, jornais e blogs se noticiam os lances da “quebra de braço” na CPI para a convocação do Procurador-Geral da República (PGR). O último foi a sub-procuradora, Cláudia Sampaio, esposa de Gurgel, afirmar que a PF havia pedido para ela “aguardar novas informações” e não dar qualquer encaminhamento as conclusões da Operação Vegas, versão logo desmentida pelo delegado Raul Marques de Sousa. Imediatamente depois desse imbróglio, Gurgel fez um acordo com o relator da CPMI, o deputado Odair Cunha (PT-MG), indicado a dedo por Dilma, aceitando dar “esclarecimentos” por escrito das razões porque ele e sua esposa engavetaram em 2009 as informações que provavam as relações de Carlinhos Cachoeira com Demóstenes Torres e a Revista Veja. O que está por atrás dessa disputa que chega a unir setores do PT mais alinhados com a presidente Dilma com a oposição demo-tucana na defesa de Gurgel e que tem deixado os aliados do “campo majoritário” de José Dirceu no PT, a turma do mensalão e a blogsfera  “chapa branca” tão contrariados?
O grande pivô da disputa é o próprio José Dirceu, que tenta com seus comparsas do PT e da base do governo envolvidos até o pescoço em negociatas desde a gestão de Lula, vide o mesalão, colocar Gurgel na defensiva, desmoralizando-o justamente quando o Procurador-Geral vai pedir ao STF a prisão do ex-“capo” petista. Toda a pressão sobre Gurgel na CPMI vem justamente de setores petistas que desejam proteger Dirceu e os outros parlamentares envolvidos no esquema. Como Dirceu foi um dos principais articuladores da queda de Palocci da Casa Civil do governo Dilma, setores aliados a presidente tem atuado conjuntamente com membros do PSDB e do DEM para se “vingar” de Dirceu, ao mesmo tempo em que estes últimos protegem Demóstenes que tem vários negócios com caciques da oposição demo-tucana e do próprio PPS de Roberto Freire. Nessa empreitada, estão defendendo juntos Gurgel. Prova disso é que ele não precisou prestar depoimento a CPMI e sim apenas mandar “explicações” por escrito como solicitou o deputado Odair Cunha (PT-MG).

A disputa dentro da própria cúpula petista faz parte do conflito das camarilhas palacianas, já que Dilma está construindo um staff político próprio sob seu direito controle, distante de figuras como Rui Falcão, presidente nacional do PT e Dirceu, os dois hoje claramente fora das decisões mais importantes do Planalto. Esse quadro ganha importância com a doença de Lula, que pode tirar o ex-presidente da disputa de 2014. Nesse caso, Dilma será a candidata, mas o setor de Dirceu, Rui Falcão e o próprio Tarso Genro desejam ter mais peso nas decisões e no governo, já que não devem conseguir emplacar um nome alternativo a ex-“poste”, diga-se de passagem, sem qualquer tradição no partido já que é oriunda do PDT. Justamente por isso, enquanto a Revista Veja ataca virulentamente Dirceu e os setores “radicais” do PT elogia rasgadamente Dilma em seus editoriais! A política oficial do governo é a de manter Dirceu sobre seu controle e ver até onde pode barganhar com o ex-todo poderoso chefe da Casa Civil de Lula enquanto lhe fragiliza, tanto que o líder do PT no Senado, Humberto Costa declarou “Sugiro que tenhamos um pouco de paciência. Se ele (Gurgel) não responder ou a resposta não for convincente, as razões para trazer o procurador e a subprocuradora estarão dadas...Esta CPI não vai blindar ninguém” (OESP, 15/05).
Frente a isso, Dirceu reclama em seu blog: “Permanecem sem resposta perguntas importantes para o país. Por que a PGR decidiu arquivar o inquérito se já havia informações importantes sobre o envolvimento do senador Demóstenes Torres (DEM-GO até três semanas atrás, ao desfiliar-se) com o esquema do contraventor Carlos Cachoeira? Ou ainda: qual a razão do não encaminhamento do inquérito ao STF?... No caso da troca de informação por matérias entre o diretor da revista Veja em Brasília e o grupo de Cachoeira, da participação da revista em atividade ilegais como a tentativa de invasão do meu escritório no Hotel Naoum, assim como da utilização de imagens obtidas de forma também ilegal sobre minhas atividades no local onde eu residia, ainda há muito a esclarecer”. O ex-deputado petista na verdade ataca para se proteger, como fazem todos os bandos burgueses em disputa pela rapina do botim estatal, se valendo dos seus novos aliados da mídia (Rede Record) para atacar a Veja... Ao mesmo tempo Dirceu mede forças com a própria Dilma que no fundo controla a PGR, tanto que ela reconduziu Gurgel ao cargo em 2011. Dirceu tende a se dar mal!

Voltando a Gurgel, é obvio que ele recebeu uma milionária bolada e favores da “troika” Cachoeira/Demóstenes/Veja. Mas esse não é o centro da questão já que é assim que funciona a justiça burguesa e as “relações entre os (podres) poderes”. O que está claro é que nas disputas no interior da CPMI já se estabelecem claramente os rumos da sucessão presidencial de 2014, onde a oposição burguesa sem chance de vitória visa fragilizar o lulismo, mais particularmente o núcleo histórico do petismo de São Paulo e manter boas relações com Dilma e seu séquito tecnocrata ascendente. Como todos são faces da mesma moeda, os trabalhadores devem compreende que essas escaramuças fazem parte da disputa entre os partidos burgueses e suas próprias máfias internas, que são inimigos de classe dos explorados. Denunciar o conjunto do regime politico e suas instituições é fundamental para romper as ilusões na democracia dos ricos visando forjar uma alternativa própria de poder dos trabalhadores.