35 ANOS DA FUNDAÇÃO DA CUT: PAULATINA INTEGRAÇÃO DA CENTRAL
OPERÁRIA AO ESTADO BURGUÊS PROVOCOU SUA TRANSFORMAÇÃO EM UM APARATO
BUROCRÁTICO PELEGO A SERVIÇO DA COLABORAÇÃO DE CLASSES
Por: Hyrlanda Moreira - Fundadora da CUT, encabeçando a chapa de oposição que unificou a esquerda revolucionária em 1997
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) celebra hoje seus 35
anos de fundação como principal entidade operária da classe trabalhadora
brasileira. Fundada no Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo, durante a ditadura
militar na época sob o comando do general Figueiredo e opondo-se, via o chamado
“novo sindicalismo”, aos pelegos do PCB, PCdoB e MR-8, a CUT hoje está
completamente integrada ao Estado capitalista após os mandatos do PT no governo
central. Mesmo agora estando na “oposição” ao golpista Temer a CUT não tem
quase poder de reação operária pelos seguidos anos de sua política de
colaboração de classes. Enquanto o ascenso das greves operárias no final dos
anos 70 provocou o nascimento da CUT, uma central operária que centralizava a
luta dos trabalhadores contra a ditadura militar, defendendo liberdade e
autonomia sindical, significando um acontecimento histórico progressivo, a
ascensão do governo de frente popular do PT, por sua vez, é um acontecimento
político importante porque completou o processo de integração e cooptação
política e material da CUT ao Estado burguês. Tal fato representa também um
marco histórico que decretou a morte e a falência política dessa entidade como
instrumento de luta das massas exploradas. Coube, por exemplo, ao VIII CONCUT
em 2003 inaugurar essa nova etapa histórica em que a CUT dá um salto de
qualidade no caráter de classe da Central. Se antes a CUT era um braço sindical
do PT, depois de 14 anos de gestão da Frente Popular ela consolidou-se como uma
sucursal do próprio governo petista, intervindo como guardiã dos interesses
econômicos e políticos da burguesia, ao ponto de agora frente ao Golpe
Institucional contra Dilma seguir a política da direção nacional do PT de
apenas desgastar eleitoral e midiaticamente o governo Temer apostando na volta
da Frente Popular em 2019, somando-se aos que já planejam apoiar a chapa
Haddad-Manuela diante da impugnação arbitrária da candidatura Lula.
Desde o primeiro mandato de Lula, a CUT se transformou em
uma autarquia no Ministério do Trabalho, integrada orgânica e materialmente ao
governo da frente popular. Não é à toa que abandonou a luta pela reposição e
aumentos salariais, estabilidade no emprego, passando a abraçar as propostas da
burguesia industrial paulista como “crescimento econômico”, reivindicando
mudanças na política econômica do governo, como redução de taxa básica de juros
e isenção de impostos para o setor automotivo. Sem nenhum constrangimento, a
CUT apoiou as reformas previdenciária, universitária, sindical e trabalhista do
governo Lula que subtraíram direitos históricos dos trabalhadores e estudantes,
além de representar, no caso da reforma sindical, a regulamentação legal do
Estado para garantir à CUT o controle completo sobre os sindicatos, combinando
centralização burocrática com a política de defesa dos interesses do capital. A
CUT, que neste momento comemora seus 30 anos, além de ser sustentada pelas
verbas do FAT e dos convênios governamentais, indica seus “quadros” para assumirem
postos-chaves no governo burguês da frente popular, o mesmo que ataca os
trabalhadores em greve. Diante disso, é necessário buscar uma intervenção
independente das massas exploradas, capaz de romper as mordaças das direções
governistas ao movimento operário, estudantil e popular, cujas greves e
mobilizações dispersas são criminosamente abortadas. Esta situação,
contraditoriamente, também abre uma possibilidade histórica que aponta para um
processo de reorganização sindical e política que implica no reagrupamento de
forças para superar a paralisia do movimento operário e popular. Neste sentido,
a LBI, que foi a primeira organização a denunciar o caráter paraestatal da CUT,
ao contrário daqueles que vendiam a farsa da “autonomia crítica” das entidades
em relação ao governo Lula, tendo convocado toda a vanguarda classista e
combativa do país a romper não só com a CUT, mas também com a UNE, e iniciar,
desde já, o processo de construção de um polo sindical revolucionário, cujo
caráter de frente única deve nuclear todos os setores explorados numa mesma
perspectiva de classe para derrotar o governo da frente popular e suas medidas
antioperárias.
Neste marco, o surgimento da Conlutas em 2004 correspondeu
historicamente ao esgotamento do ciclo cutista, iniciado em 1983, enquanto uma
referência de independência e superação do velho sindicalismo getulista que
perdurou até os últimos anos de vida da ditadura militar. A ascensão da frente
popular ao gerenciamento do Estado burguês foi o golpe de misericórdia no espectro
político de uma CUT que já há algum tempo tinha consolidado seu “espaço”
burocrático, impermeável à luta das tendências classistas que ainda habitavam
seu interior. Nós, da LBI, fomos pioneiros em caracterizar este processo e
propor a construção de uma nova central, classista e independente dos patrões e
seus capatazes da frente popular. Estávamos balizados não só por um “desejo”,
mas sim pelo surgimento de toda uma nova vanguarda sindical e popular em clara
rota de choque com os neopelegos da CUT que tinham transformado a central em
uma autarquia semiestatal, conselheira de “esquerda” do governo monetarista e
pró-imperialista do PT. Neste contexto, surge a Conlutas, após um breve período
de vacilação do próprio PSTU em abandonar a parte que lhe cabia no aparelho
burocrático cutista, afinal passaram anos de convivência pacífica com a
“Articulação” (direção majoritária da CUT), chegando até mesmo a representarem
a central no congresso internacional da OIT, órgão imperialista a serviço das
grandes transnacionais econômicas. Fundada a Conlutas sob a orientação
revisionista do PSTU, que declarava apenas uma autonomia formal em relação ao
governo da frente popular (política de “oposição de esquerda” nos marcos do
regime vigente), estava colocada a tarefa para os setores classistas de travar
uma árdua luta política no sentido de não permitir uma rápida reedição da
trajetória de integração da CUT ao Estado capitalista. No congresso de 2006 já
se delineava a inflexão à direita da Conlutas, colocada a serviço da candidatura
reacionária de Heloísa Helena sem ao menos um debate minimamente democrático em
sua base. A precoce falência política da Conlutas não corresponde aos mesmos
fatores históricos do esgotamento da CUT. O PSTU, força majoritária da nova
central, está longe de assumir qualquer responsabilidade na gestão estatal
capitalista, não por sua própria vontade política e sim por sua absoluta
inexpressão eleitoral, mas isto não significa que esteja isento de seguir os
passos de colaboração de classes. A falta do ascenso do movimento operário
nestes últimos anos e a consolidação da hegemonia do projeto da frente popular
aprofundaram os desvios programáticos que marcaram a gênese da Conlutas,
fazendo com que os sintomas de burocratização do organismo se transformassem em
uma orientação “regimental” e política. No afã de unificar-se com outras alas
burocráticas “de esquerda”, a Conlutas embarcou em uma rota de completa
descaracterização de um projeto original classista, chegando mesmo ao fiasco de
um congresso de unificação com os sindicalistas reformistas do PSOL. A
estratégia de “crescimento” imposta pela direção da Conlutas, controlada pelo
PSTU auxiliado por pequenos satélites, resultou em um estancamento organizativo
ou até mesmo em diminuição de sua influência sindical. Ao contrário da própria
CUT, que em seu nascimento apostou fortemente nas oposições sindicais, a
Conlutas praticamente cassou o direito de representação das oposições em suas
instâncias internas, sofrendo rupturas e abrindo espaço para o surgimento da
Intersindical ligada ao PSOL.
Hoje, mais do que nunca, quando a CUT celebra seus 35 anos,
faz-se necessário travar uma vigorosa delimitação programática com todas as
variantes frente-populistas, além da inevitável disputa política no interior do
movimento operário e popular em defesa da ruptura com a CUT, que deverá ser
fruto não de uma manobra superestrutural de forças políticas centristas, mas
sim produto das discussões e resoluções de um Congresso Nacional de Base do
movimento de massas, convocado ampla e democraticamente, para preparar um plano
de lutas com um eixo ofensivo de classe que, partindo das reivindicações
históricas dos trabalhadores. Mais do que um “encontro sindical”, este
congresso tem a tarefa de colocar-se como ponta de lança, mesmo que
embrionariamente, desse novo polo classista. Tal iniciativa política assenta-se
na necessidade do movimento operário e popular superar a política de
colaboração de classes de suas direções para que possa dar uma resposta à
ofensiva do governo Temer, através da ação direta das massas, que aponte como
alternativa um governo operário e camponês. Sabemos que não é tarefa fácil, ao
contrário, trata-se de um hercúleo desafio que depende fundamentalmente da
capacidade dos setores que não se vergaram à cooptação sindical e da disposição
daqueles que fizeram a experiência no interior da Conlutas e sabem que ela está
completamente esgotada como ferramenta de organização classista dos
trabalhadores. Neste combate, a LBI não poupará esforços políticos no sentido
de agrupar em torno de uma plataforma revolucionária todas as oposições
classistas e coletivos revolucionários que estejam dispostos a estabelecer uma
frente única para apresentar esse reagrupamento como um canal de expressão
política às lutas dos setores operários mais explorados, além de ser um
instrumento ativo da denúncia do circo eleitoral de democracia dos ricos em
curso!