TROTSKY: O ÚLTIMO GRANDE COMBATE
Nesse mês de agosto, quando se completa o 78º Aniversário da
morte de Leon Trotsky, assassinado a mando de Stalin, na cidade do México, os
revolucionários de hoje estão absolutamente convictos da justeza e correção de
seus prognósticos em relação à crise fundamental de nossa época, ou seja, a
ausência de uma direção revolucionária assim como a necessidade da construção
do instrumento capaz de superar este paradigma, o partido mundial da revolução,
a Quarta Internacional. Mas o que de tão extraordinário pode dimensionar a
figura do velho bolchevique são os acertos de suas caracterizações, e muito em
especial aquelas que dão os fundamentos teóricos da gênese de sua corrente, o
trotskismo. Na realidade o termo trotskismo foi pela primeira vez
utilizado por Stalin contra a Oposição de Esquerda formada por Trotsky no
início dos anos 20. Neste momento, Trotsky rejeitou a "classificação"
por considerá-la uma provocação, que se destinava a difundir a ideia de sua
suposta oposição ao leninismo. A Oposição de Esquerda assumiu a designação de
"bolchevique-leninista" afirmando sua completa lealdade política ao
Partido Bolchevique e seu dirigente máximo, Lenin. Nesta etapa, o processo de
burocratização da URSS não estava completamente consolidado, apesar do curso
dos acontecimentos apontar nesta perspectiva. O stalinismo ainda era uma
corrente interna do Partido Bolchevique (comunista) que oscilava entre posições
do ultraesquerdismo ao oportunismo sem princípios, por isso mesmo considerada
por Trotsky como "centrista".
A morte de Lenin em 24, levando o controle absoluto do
Partido Bolchevique e da Internacional Comunista para as mãos de Stalin, assim
como a cristalização do processo degenerativo da URSS, fizeram com que Trotsky
alterasse qualitativamente suas definições sobre o caráter da URSS e por
consequência da própria camarilha stalinista. A URSS já não poderia ser como
"Estado Operário com deformações burocráticas" (tese defendida por
Lenin e Trotsky) e tampouco o stalinismo como um agrupamento politicamente
contrista. Sua passagem ao campo da contrarrevolução é inteiramente confirmada
na arena da revolução alemã, pavimentando com sua política a ascensão do
nazismo. É neste marco, que Trotsky dá início às caracterizações de
"Estado operário burocratizado" e do stalinismo como uma "casta
burocrática termidoriana dentro do Estado operário". Estas duas categorias
teóricas vão marcar o surgimento do trotskismo como uma corrente política que
incorporou elementos novos e valiosos à doutrina do marxismo-leninismo. Sua
última e heroica luta para restabelecer a ditadura do proletariado na URSS, ao
mesmo tempo em que impulsionava a construção de um novo partido da revolução
mundial é definida assim por Trotsky: "Eu creio que faço neste momento,
apesar de extremamente insuficiente e fragmentário, o trabalho mais importante
da minha vida, mais importante que em 1917, mais importante do que o da guerra
civil" (Diário do Exílio, Leon Trotsky).
A DEFESA INCONDICIONAL DA URSS
Trotsky dedica toda sua energia para o combate conceitual acerca
do caráter de classe do Estado soviético, contra as variantes políticas que
diante da burocratização stalinista, passaram a considerar a URSS como
capitalismo de Estado ou coletivismo burocrático. "As classes se definem
pela posição que ocupam na economia social e, sobretudo, com relação aos maios
de produção. A nacionalização do solo, dos meios de produção, dos transportes,
das finanças, assim como o monopólio do comércio exterior formam as bases da
sociedade soviética. Para nós, estas aquisições da revolução proletária definem
a URSS como um Estado Operário" (Revolução Traída, Leon Trotsky).
Quando surgiram os primeiros sinais da segunda guerra
imperialista, com a expansão desenfreada do exército nazista sobre a parte
oriental da Europa, a URSS ocupará um papel decisivo. A política de derrota da
revolução européia, implementada pela burocracia do Kremlin, a obrigará assinar
um tratado de não agressão com Hitler em 1939, conhecido como pacto
Ribbentrop-Molotov. Nos países "democráticos" do imperialismo
(Inglaterra, EUA), toma corpo uma imensa propagando anti-soviética, na
expectativa de que fosse declarada guerra também à URSS, como aliada de Hitler.
Mas é justamente nas fileiras de seu próprio partido que
Trotsky travará a última e mais importante luta política de sua vida, no
sentido de dar uma aplicação prática aos conceitos teóricos que fundamentam o
programa da IV Internacional. A seção mais importante da IV Internacional, O
SWP (norteamericano), organização que detinha uma importante referência junto
ao proletariado industrial, é atingida por pressões pequeno-burguesas da
opinião pública imperialista em relação à posição a ser tomada diante de uma
guerra contra a URSS. É formada no interior do SWP uma fração liderada por Max
Shachtamn e James Burhnam (depois esta fração acaba por ganhar algumas seções
inteiras da IV, como no caso do Brasil, com o alinhamento de Mario Pedrosa),
que rejeitava a defesa incondicional da URSS, assim como negava-se a
estabelecer uma frente única com o stalinismo neste terreno sob a justificativa
do caráter contra-revolucionário deste último.
O programa de fundação da IV Internacional, formulado em 38,
já apontava a necessidade do estabelecimento da frente única entre a
"fração Reiss" (referindo-se a Ignace Reiss, trotskista soviético
assassinado posteriormente por Stalin) com a burocracia termidoriana do
Kremlin, no caso de alguma ameaça ao Estado operário "esta perspectiva
torna bastante concreta a defesa da URSS. Se amanhã a tendência burguesa
fascista, isto é a "fração Butenko", entra em luta pela conquista do
poder, a "fração Reiss" tomará inevitavelmente, lugar no outro campo
da barricada... Se a ‘fração Butenko’ se achar em aliança militar com Hitler a
‘fração Reiss’ defenderá a URSS contra a intervenção militar, tanto no interior
do país, quanto a nível internacional. Qualquer outro comportamento seria uma
traição" (Programa de Transição).
E mais uma vez Trotsky entra em cena, como um gigante, para
defender o marxismo-revolucionário, contra aqueles que pretendiam "rejeitar,
desqualificar e destruir os princípios teóricos e os fundamentos políticos do
nosso movimento" (Carta Aberta ao camarada Burhnam, Leon Trotsky). A
justificativa supostamente "esquerdista" da fração Shachtman
"nem Hitler, nem Stalin" para a neutralidade em caso de agressão ao
Estado operário é demolida por Trotsky da seguinte forma: "uma coisa é
solidarizar-se com Stalin, defender sua política e outra, é explicar à classe
trabalhadora mundial que apesar dos crimes de Stalin não podemos permitir que o
imperialismo mundial esmague a União Soviética, restabeleça o capitalismo e
converta a terra da revolução em uma colônia. É esta aplicação que proporciona
bases para nossa defesa da União Soviética" (Balanço dos Acontecimentos
finlandeses, Leon Trotsky). Quanto à consideração feita pela fração que a
burocracia stalinista por seus crimes cometidos contra revolução já seria uma
nova classe social, Trotsky volta a carga. "Na sua política atual, tanto
interna como externa, a burocracia coloca em primeiro e principal lugar a
defesa de seus próprios interesses parasitários. Nesta medida, travamos uma
luta mortal contra ela, mas em última análise, através dos interesses da
burocracia, de uma forma muito retorcida, refletem-se os interesses do Estado
operário. Assim não lutamos de forma nenhuma que a burocracia salvaguarde (a
seu modo!) a propriedade estatal!" (Em defesa do Marxismo, Leon Trotsky).
Sobre a eliminação do stalinismo no interior do Estado
operário, Trotsky deixa bem claro a quem consistiria essa tarefa: "o
proletariado tem razões suficientes para derrubar a burocracia stalinista
corrompida até a medula, mas não pode, nem direta, nem indiretamente, deixar
esta tarefa a Hitler ou a Mikado. Stalin derrubado pelos trabalhadores é um
grande passo para o socialismo, Stalin eliminado pelos imperialistas é a contra
revolução que triunfa" (Idem).
OS SHACHTMANISTAS DE HOJE
A luta fracional instalada no interior do SWP (e também da
IV) era o reflexo direto das pressões da luta de classes. As posições
defendidas pela fração pequeno burguesa de Shachman e Burhnam, recusando-se à
defesa incondicional da URSS, colocavam-se objetivamente no campo da política
do imperialismo "democrático". A evolução política destes elementos
(apesar de terem obtido as mais amplas liberdades no interior do SWP); que
rompendo com o trotskismo foram abrigar-se, primeiro, no seio da
social-democracia para depois acabarem nos braços do maccarthysmo
anticomunista; confirmou plenamente a caracterização de Trotsky sobre o caráter
de classe hostil ao proletariado deste agrupamento. Ao longo da II Guerra
Mundial os autênticos trotskistas souberam combater as tropas nazistas lado a
lado do exército vermelho, em defesa da URSS.
Passados 78 anos da morte do grande revolucionário, a Quarta
Internacional fundada por Trotsky já não mais existe, foi destruída pelos
epígonos do trotskismo, que eufeministicamente ainda se reclamam formalmente
(outros agora não mais) do legado de Trotsky. Estes revisionistas foram os
mesmos que durante a destruição do Estado operário soviético pelo bando
criminoso e restauracionista de Ieltsin saudaram o fim da URSS como uma
"triunfante revolução democrática", não tendo o menor descaramento de
emblocarem-se com a contra-revolução imperialista. Os shachmanistas de hoje,
mandelistas, morenistas e altamiristas, não por coincidência, cometeram a mesma
traição dos de ontem, ao renegarem a defesa incondicional da URSS. A única
diferença é que Trotsky, morto, não pôde esmagá-los como o fez há 78 anos
atrás, permanecendo estes charlatões do marxismo a serviço da burguesia mundial
com a aura de "revolucionários". É tarefa da nova geração, de autênticos trotskistas,
resgatar o último e mais importante combate da vida de Trotsky, lutando pela
defesa incondicional dos Estados operários e pela
revolução política nestes, assim como dedicar o melhor dos nossos esforços para
a reconstrução da IV Internacional.