segunda-feira, 27 de agosto de 2018

TROTSKY: O ÚLTIMO GRANDE COMBATE


Nesse mês de agosto, quando se completa o 78º Aniversário da morte de Leon Trotsky, assassinado a mando de Stalin, na cidade do México, os revolucionários de hoje estão absolutamente convictos da justeza e correção de seus prognósticos em relação à crise fundamental de nossa época, ou seja, a ausência de uma direção revolucionária assim como a necessidade da construção do instrumento capaz de superar este paradigma, o partido mundial da revolução, a Quarta Internacional. Mas o que de tão extraordinário pode dimensionar a figura do velho bolchevique são os acertos de suas caracterizações, e muito em especial aquelas que dão os fundamentos teóricos da gênese de sua corrente, o trotskismo. Na realidade o termo trotskismo foi pela primeira vez utilizado por Stalin contra a Oposição de Esquerda formada por Trotsky no início dos anos 20. Neste momento, Trotsky rejeitou a "classificação" por considerá-la uma provocação, que se destinava a difundir a ideia de sua suposta oposição ao leninismo. A Oposição de Esquerda assumiu a designação de "bolchevique-leninista" afirmando sua completa lealdade política ao Partido Bolchevique e seu dirigente máximo, Lenin. Nesta etapa, o processo de burocratização da URSS não estava completamente consolidado, apesar do curso dos acontecimentos apontar nesta perspectiva. O stalinismo ainda era uma corrente interna do Partido Bolchevique (comunista) que oscilava entre posições do ultraesquerdismo ao oportunismo sem princípios, por isso mesmo considerada por Trotsky como "centrista".

A morte de Lenin em 24, levando o controle absoluto do Partido Bolchevique e da Internacional Comunista para as mãos de Stalin, assim como a cristalização do processo degenerativo da URSS, fizeram com que Trotsky alterasse qualitativamente suas definições sobre o caráter da URSS e por consequência da própria camarilha stalinista. A URSS já não poderia ser como "Estado Operário com deformações burocráticas" (tese defendida por Lenin e Trotsky) e tampouco o stalinismo como um agrupamento politicamente contrista. Sua passagem ao campo da contrarrevolução é inteiramente confirmada na arena da revolução alemã, pavimentando com sua política a ascensão do nazismo. É neste marco, que Trotsky dá início às caracterizações de "Estado operário burocratizado" e do stalinismo como uma "casta burocrática termidoriana dentro do Estado operário". Estas duas categorias teóricas vão marcar o surgimento do trotskismo como uma corrente política que incorporou elementos novos e valiosos à doutrina do marxismo-leninismo. Sua última e heroica luta para restabelecer a ditadura do proletariado na URSS, ao mesmo tempo em que impulsionava a construção de um novo partido da revolução mundial é definida assim por Trotsky: "Eu creio que faço neste momento, apesar de extremamente insuficiente e fragmentário, o trabalho mais importante da minha vida, mais importante que em 1917, mais importante do que o da guerra civil" (Diário do Exílio, Leon Trotsky).

A DEFESA INCONDICIONAL DA URSS

Trotsky dedica toda sua energia para o combate conceitual acerca do caráter de classe do Estado soviético, contra as variantes políticas que diante da burocratização stalinista, passaram a considerar a URSS como capitalismo de Estado ou coletivismo burocrático. "As classes se definem pela posição que ocupam na economia social e, sobretudo, com relação aos maios de produção. A nacionalização do solo, dos meios de produção, dos transportes, das finanças, assim como o monopólio do comércio exterior formam as bases da sociedade soviética. Para nós, estas aquisições da revolução proletária definem a URSS como um Estado Operário" (Revolução Traída, Leon Trotsky).

Quando surgiram os primeiros sinais da segunda guerra imperialista, com a expansão desenfreada do exército nazista sobre a parte oriental da Europa, a URSS ocupará um papel decisivo. A política de derrota da revolução européia, implementada pela burocracia do Kremlin, a obrigará assinar um tratado de não agressão com Hitler em 1939, conhecido como pacto Ribbentrop-Molotov. Nos países "democráticos" do imperialismo (Inglaterra, EUA), toma corpo uma imensa propagando anti-soviética, na expectativa de que fosse declarada guerra também à URSS, como aliada de Hitler.

Mas é justamente nas fileiras de seu próprio partido que Trotsky travará a última e mais importante luta política de sua vida, no sentido de dar uma aplicação prática aos conceitos teóricos que fundamentam o programa da IV Internacional. A seção mais importante da IV Internacional, O SWP (norteamericano), organização que detinha uma importante referência junto ao proletariado industrial, é atingida por pressões pequeno-burguesas da opinião pública imperialista em relação à posição a ser tomada diante de uma guerra contra a URSS. É formada no interior do SWP uma fração liderada por Max Shachtamn e James Burhnam (depois esta fração acaba por ganhar algumas seções inteiras da IV, como no caso do Brasil, com o alinhamento de Mario Pedrosa), que rejeitava a defesa incondicional da URSS, assim como negava-se a estabelecer uma frente única com o stalinismo neste terreno sob a justificativa do caráter contra-revolucionário deste último.

O programa de fundação da IV Internacional, formulado em 38, já apontava a necessidade do estabelecimento da frente única entre a "fração Reiss" (referindo-se a Ignace Reiss, trotskista soviético assassinado posteriormente por Stalin) com a burocracia termidoriana do Kremlin, no caso de alguma ameaça ao Estado operário "esta perspectiva torna bastante concreta a defesa da URSS. Se amanhã a tendência burguesa fascista, isto é a "fração Butenko", entra em luta pela conquista do poder, a "fração Reiss" tomará inevitavelmente, lugar no outro campo da barricada... Se a ‘fração Butenko’ se achar em aliança militar com Hitler a ‘fração Reiss’ defenderá a URSS contra a intervenção militar, tanto no interior do país, quanto a nível internacional. Qualquer outro comportamento seria uma traição" (Programa de Transição).

E mais uma vez Trotsky entra em cena, como um gigante, para defender o marxismo-revolucionário, contra aqueles que pretendiam "rejeitar, desqualificar e destruir os princípios teóricos e os fundamentos políticos do nosso movimento" (Carta Aberta ao camarada Burhnam, Leon Trotsky). A justificativa supostamente "esquerdista" da fração Shachtman "nem Hitler, nem Stalin" para a neutralidade em caso de agressão ao Estado operário é demolida por Trotsky da seguinte forma: "uma coisa é solidarizar-se com Stalin, defender sua política e outra, é explicar à classe trabalhadora mundial que apesar dos crimes de Stalin não podemos permitir que o imperialismo mundial esmague a União Soviética, restabeleça o capitalismo e converta a terra da revolução em uma colônia. É esta aplicação que proporciona bases para nossa defesa da União Soviética" (Balanço dos Acontecimentos finlandeses, Leon Trotsky). Quanto à consideração feita pela fração que a burocracia stalinista por seus crimes cometidos contra revolução já seria uma nova classe social, Trotsky volta a carga. "Na sua política atual, tanto interna como externa, a burocracia coloca em primeiro e principal lugar a defesa de seus próprios interesses parasitários. Nesta medida, travamos uma luta mortal contra ela, mas em última análise, através dos interesses da burocracia, de uma forma muito retorcida, refletem-se os interesses do Estado operário. Assim não lutamos de forma nenhuma que a burocracia salvaguarde (a seu modo!) a propriedade estatal!" (Em defesa do Marxismo, Leon Trotsky).

Sobre a eliminação do stalinismo no interior do Estado operário, Trotsky deixa bem claro a quem consistiria essa tarefa: "o proletariado tem razões suficientes para derrubar a burocracia stalinista corrompida até a medula, mas não pode, nem direta, nem indiretamente, deixar esta tarefa a Hitler ou a Mikado. Stalin derrubado pelos trabalhadores é um grande passo para o socialismo, Stalin eliminado pelos imperialistas é a contra revolução que triunfa" (Idem).

OS SHACHTMANISTAS DE HOJE

A luta fracional instalada no interior do SWP (e também da IV) era o reflexo direto das pressões da luta de classes. As posições defendidas pela fração pequeno burguesa de Shachman e Burhnam, recusando-se à defesa incondicional da URSS, colocavam-se objetivamente no campo da política do imperialismo "democrático". A evolução política destes elementos (apesar de terem obtido as mais amplas liberdades no interior do SWP); que rompendo com o trotskismo foram abrigar-se, primeiro, no seio da social-democracia para depois acabarem nos braços do maccarthysmo anticomunista; confirmou plenamente a caracterização de Trotsky sobre o caráter de classe hostil ao proletariado deste agrupamento. Ao longo da II Guerra Mundial os autênticos trotskistas souberam combater as tropas nazistas lado a lado do exército vermelho, em defesa da URSS.

Passados 78 anos da morte do grande revolucionário, a Quarta Internacional fundada por Trotsky já não mais existe, foi destruída pelos epígonos do trotskismo, que eufeministicamente ainda se reclamam formalmente (outros agora não mais) do legado de Trotsky. Estes revisionistas foram os mesmos que durante a destruição do Estado operário soviético pelo bando criminoso e restauracionista de Ieltsin saudaram o fim da URSS como uma "triunfante revolução democrática", não tendo o menor descaramento de emblocarem-se com a contra-revolução imperialista. Os shachmanistas de hoje, mandelistas, morenistas e altamiristas, não por coincidência, cometeram a mesma traição dos de ontem, ao renegarem a defesa incondicional da URSS. A única diferença é que Trotsky, morto, não pôde esmagá-los como o fez há 78 anos atrás, permanecendo estes charlatões do marxismo a serviço da burguesia mundial com a aura de "revolucionários". É tarefa da nova geração, de autênticos trotskistas, resgatar o último e mais importante combate da vida de Trotsky, lutando pela defesa incondicional dos Estados operários e pela revolução política nestes, assim como dedicar o melhor dos nossos esforços para a reconstrução da IV Internacional.