quinta-feira, 17 de novembro de 2016

“NOVO ACORDO” ENTRE AS FARC E SANTOS: HUMILHANTE RENDIÇÃO RECRUDESCE PERSEGUIÇÃO A GUERRILHA EM SUA INTEGRAÇÃO AO REGIME DA DEMOCRACIA DOS RICOS NA COLÔMBIA


O governo colombiano e as FARC anunciaram neste 14.11 os pontos do “novo acordo de paz”, refazendo parte do pacto que foi rejeitado no referendo realizado no começo de outubro. Sobre pressão da extrema-direita comandada por Álvaro Uribe e com a vitória de Trump nos EUA, a direção da guerrilha cedeu ainda mais e aceitou de forma humilhante impor mais regras de perseguição a seus militantes assim como se compromete a indenizar as “vítimas” da guerra civil provocada pela oligarquia dominante. A versão original já dizia que ex-combatentes que reconhecessem o envolvimento em crimes ligados ao conflito e entregassem informações a esse respeito poderiam cumprir a pena dentro de áreas desmilitarizadas, mas não necessariamente na prisão - como ocorre nas condenações ao regime aberto.  Na nova versão, explicita a restrição de mobilidade que será imposta aos guerrilheiros nessas condições, determinando diferentes tipos de zonas com restrição de movimento e com liberdade vigiada. Além disso, os guerrilheiros que não confessarem seus crimes, mas forem condenados, continuam sujeitos a penas de até 20 anos no regime fechado. A nova versão diz agora explicitamente que “nada do estabelecido no acordo deve afetar o direito constitucional à propriedade privada”. O novo texto também afirma de forma clara a prevalência da reacionária Corte Constitucional sobre o Tribunal Especial para a Paz, que tornou-se ainda mais decorativo. O chefe negociador das Farc, Iván Márquez, declarou “De nossa parte cedemos, inclusive estendendo as fronteiras que tínhamos traçado, levando-as até os limites do razoável e aceitável para uma organização político-militar, cujas armas não foram vencidas”, buscando uma aceitação rápida do novo texto por parte do parlamento. Na verdade, parte das condições impostas por Uribe foram incorporadas ao “novo acordo” como o endurecimento da chamada “Jurisdição Especial para a Paz”, a entrega total dos bens e finanças das FARC através de um inventário em 180 dias assim como a reafirmação da garantia plena de defesa da propriedade privada. As reacionárias Igrejas evangélicas também arrancaram concessões com relação a manter a opressão da mulher em contrate com o papel de vanguarda das guerrilheiras. O mais escandaloso é que a direção das FARC defende a prisão dos guerrilheiros que não se subordinarem ao novo acordo, em uma clara chantagem contra o ELN e as frentes dissidentes da guerrilha. Em entrevista a BBC, Iván Márquez afirmou: “Aqueles que se recusam a ir a tribunal paz, tem que pagar uma sanção punitiva e deve ir para a cadeia” (13.11). A LBI denunciou desde o início das negociações o conteúdo contrarrevolucionário dos “acordos de paz”, baseado em uma rendição unilateral da guerrilha e sua adaptação a democracia burguesa. Não apoiamos nem o Sim e muito menos o Não no referendo, apresentamos uma saída revolucionária para a crise do regime burguês colombiano contra o engodo da democracia dos ricos: Não ao falso "Acordo de Paz"! Unidade da guerrilha com o movimento operário para lutar contra o governo Santos, Uribe e o imperialismo. Alertamos que esse “novo acordo” se celebra me um quadro em totalmente fragilizada e vulnerável do ponto de vista político e militar, as FARC tornou-se um alvo fácil das reacionárias FFAA e dos grupos paramilitares aliados a Uribe e das oligarquias que patrocinaram a campanha do Não. Apesar do quadro extremamente difícil em que a direção das FARC impôs ao conjunto da guerrilha, cabe a seus militantes romperem com essa orientação pacifista e suicida, para voltar a empunhar as armas contra Santos, Uribe e o capitalismo na Colômbia, em unidade de ação com o movimento de massas e com o ELN e outras frentes guerrilheiros que já tinham denunciado os termos inaceitáveis do primeiro “Acordo de Paz” que agora se recrudescem ainda mais!
     
Os Marxistas Revolucionários sempre declararam seu apoio incondicional à guerrilha diante de qualquer ataque militar do imperialismo e do aparato repressivo de Santos. Simultaneamente, apontamos como alternativa a superação programática da estratégia reformista da direção das FARC baseada na reconciliação nacional com a oposição burguesa e a unificação da luta armada com o movimento operário urbano sob a estratégia da revolução socialista para liquidar o regime facistóide e organizar a tomada do poder pelos explorados colombianos. Defendemos que uma política justa para o confronto entre as forças guerrilheiras (ELN, Frente 1 e 7)  e o Estado burguês passa por aplicar a unidade de ação contra Santos, com a mais absoluta independência política em relação ao programa destes agrupamentos. Ao lado dos heroicos guerrilheiros e honrando o sangue derramado pelos comandantes Afonso Cano, Manuel Marulanda e Mono Jojoy, que morreram em combate, apontamos como alternativa programática a defesa da estratégia da revolução socialista e da ditadura do proletariado, sem patrocinar nenhuma ilusão na possibilidade de construir uma “Nova Colômbia” sem liquidar o capitalismo e seus títeres, como hoje desgraçadamente defende o atual comandante das FARC, Timoleón Jiménez.

Fica cada vez mais claro que a única “paz” que sairá destas negociações é a dos cemitérios, já que desgraçadamente as vidas dos heroicos combatentes das FARC foram sacrificadas em nome de uma política que em nada serve para a luta revolucionária e, muito menos, para libertar a Colômbia do domínio da burguesia e do imperialismo. Não resta dúvida que Santos e Uribe são dois lados da mesma moeda na política de eliminação física e política da FARC patrocinada pelo imperialismo ianque, sendo o atual presidente partidário de uma orientação que está sendo bem mais sucedida que a do chacal Uribe, de quem foi ministro da defesa, já que vem neutralizando tanto a guerrilha como a própria “esquerda” colombiana. A direção da guerrilha nos últimos anos veio cada vez mais apostando em uma ilusória solução negociada para o enfrentamento que já duram várias décadas. Tanto que as FARC anunciaram que pretendem formar um partido político submetido às regras da democracia burguesa. A história está prestes a se repetir na Colômbia, desta vez como uma segunda tragédia, posto que as FARC parecem ter esquecido o desastre do passado quando se “converteu” em partido institucional, em nome da “paz” e teve a maioria de seus quadros dirigentes assassinados pelo regime burguês. Por esta razão, assim como o ELN, as dissidente Frente 1 e 7, denunciamos este acordo e o consideramos parte da estratégia de Obama de deixar como seu legado antes da posse de Trump não só a reaproximação com Cuba, mas a aniquilação das FARC pela via da “reação democrática”.