terça-feira, 4 de junho de 2013


Colômbia na OTAN é parte da estratégia imperialista de eliminar as FARC e provocar uma guerra contra a Venezuela

O pedido de ingresso da Colômbia na OTAN, anunciado pelo facínora presidente Manoel Santos, poucos dias depois das FARC terem chegado a um “pré-acordo” com o governo colombiano no tema da reforma agrária nos chamados “diálogos de paz”, parece que pegou de “surpresa” a “esquerda” que apoia as negociações entre a guerrilha e Santos. Diversas declarações indignadas de partidos reformistas e stalinistas latino-americanos reclamando da decisão de Santos em estabelecer um acordo de cooperação com a OTAN vieram à tona, como se sentissem “traídos” pelo chacal colombiano, o mesmo, lembremos, que foi ministro da defesa do governo narcotraficante de Uribe e responsável, já como presidente, pelos ataques à direção da guerrilha que levou ao assassinato de Afonso Cano em 2011, dirigente máximo das FARC. Para os marxistas-leninistas que sempre denunciaram publicamente as negociações como parte de um plano traçado pela Casa Branca para eliminar as FARC – tanto que durante o processo mais de 100 guerrilheiros já foram mortos – a decisão de Santos se enquadra perfeitamente na estratégia do imperialismo de preparar uma ofensiva militar contra a Venezuela. A recém-criada “Aliança do Pacífico”, constituída de México, Colômbia, Peru e Chile, patrocinada por Washington e que já organizou nada menos que sete reuniões de cúpula em pouco mais de um ano demonstra que se trata de um plano continental para avançar no controle sobre o continente latino-americano.


Os que ao longo das negociações, previstas para se encerrarem em novembro, vinham aplaudindo os “avanços” nos acordos e chegaram a apoiar a marcha pela “paz dos cemitérios” promovida por Santos em conjunto com Piedad Córdoba em abril, agora, como em um passe de mágica, denunciam que o pedido de ingresso na OTAN “trata-se de uma ofensiva para tentar desestabilizar a Venezuela e encurralar as FARC na mesa de diálogo em Havana, no intento de levar a insurgência a aceitar um acordo de paz rebaixado, o menos oneroso possível para a oligarquia. Não se pode descartar também a possibilidade desta ação representar uma estratégia camuflada para forçar o rompimento do diálogo, atribuir o impasse à insurgência e desatar a violência contra toda a resistência popular colombiana, independente de sua forma de luta” (site PCB, 02/06). Nada mais falso! Santos sempre reafirmou seu objetivo de eliminar as FARC e sua “aproximação” com o governo da Venezuela teve como base a perseguição aos dirigentes das FARC. Agora, a Venezuela e a guerrilha colombiana estão sendo vítima de sua própria política de concessões vergonhosas a Santos. O exército colombiano, controlado diretamente pelo Pentágono, sempre combateu firmemente as FARC mesmo durante as “negociações de paz”, atacando suas colunas e assassinando seus dirigentes, enquanto a guerrilha anunciou um “cessar-fogo” unilateral por pressão do chavismo e da burocracia castrista.

O pedido de ingresso na OTAN corresponde às necessidades políticas da Casa Branca que vem desencadeando uma ofensiva contra os governos da centro-esquerda burguesa no continente, vide os golpes no Paraguay e Honduras e o plano de desestabilização da Venezuela. Não por acaso, Santos recebeu o fascistóide Capriles há poucos dias em Bogotá. Um fustigamento militar futuro na fronteira dos dois países, tendo como pretexto o combate às FARC, poderá levar até mesmo a uma guerra, em que a OTAN auxilie a Colômbia a derrotar as FARC e, de quebra, desmoralizar as forças armadas venezuelanas, hoje relativamente bem aparelhadas. Tanto que a Casa Branca publicamente defendeu a posição de Santos, declarando: “Nosso objetivo é apoiar a Colômbia como membro capaz e fonte de muitas organizações multilaterais, o que pode incluir a OTAN” afirmou Roberta Jacobson, secretária assistente de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental. Jacobson destacou ainda a afinidade entre EUA e Colômbia, lembrando-se da atuação conjunta há mais de uma década no Plano Colômbia. Ao comentar a aproximação do país latino-americano com a OTAN, ela disse ver como um reflexo da capacidade da Colômbia se relacionar em escala global, “seja como aliado no Conselho de Segurança da ONU, seja buscando coordenação com a OTAN”. Recordemos que o governo da Colômbia já havia participado no mês passado, na condição de convidado, de uma reunião da OTAN para planejar a transformação das Ilhas Malvinas em base militar dessa organização imperialista. Além disso, através da IV Frota ianque que foi reativada por Obama e com o auxílio das bases militares norte-americanas instaladas na Colômbia, Santos vinha conseguindo impor duros golpes à guerrilha, enquanto usa a “pressão democrática” para forçar a entrega unilateral dos reféns pelas FARC e seu desarmamento.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, preocupado declarou: “lamentamos muito esta decisão da Colômbia e estamos de acordo com a proposta do presidente Evo Morales de convocar uma reunião de emergência da Unasul, pois um país do continente dizer que quer ser membro da OTAN coloca em risco a estabilidade da região. Denuncio os planos de guerra que a OTAN quer trazer para a América do Sul. Temos que denunciar através da Unasul e da Celac, e o governo da Colômbia tem que refletir sobre isso” (Telesur, 31/05). Já o Partido Comunista Colombiano declarou que “A reunião do presidente Santos com o conspirador Capriles não é um fato casual. Sucede logo após a visita do senhor Biden, vice-presidente dos Estados Unidos cuja política instiga a desestabilização da Venezuela. Este fato político marca a ofensiva da ultradireita continental para mudar a correlação de forças e reverter os processos democráticos de independência e autodeterminação latino-americanos. A pretensão é destruir as conquistas bolivarianas na Venezuela que consideram um bastião estratégico da Alba, Unasul, Mercosul e Celac. Após a cúpula da Aliança do Pacífico, com a presidência colombiana na mesma e a aceitação da candidatura para ingressar na OECD, é evidente o compromisso de Santos com a nova orientação de Washington. É nesta estrutura de fatos e não exclusivamente na situação interna da Venezuela onde temos que analisar a virada de Santos. Trata-se de enquadrar o processo de diálogos e acordos entre o governo e as Farc em Havana em um contexto de derrota e contrarrevolução na América Latina. Esta conduta põe em grave risco o diálogo em curso e representa uma concessão aos declarados inimigos da paz na Colômbia. Amplia a  dúvida, uma vez mais, sobre a real vontade de paz do governo colombiano. Perante esta situação crítica, o PaCoCol exige do presidente Santos aclarar sua posição diante do povo colombiano e da América Latina com relação ao governo legítimo da Venezuela, reconhecido oficialmente. Fazemos um chamado ao governo nacional para priorizar as relações amistosas, de respeito e não ingerência nos assuntos internos de um ou outro país. Alertamos o movimento popular para a necessidade de se ampliar o acompanhamento internacional sobre o processo de diálogo em Havana e chamamos a redobrar o respaldo popular mais decidido ao processo de diálogo para a solução política” (site PCCol, 31/05). Como se vê, a centro-esquerda burguesa, os partidos reformistas e stalinistas “acreditam” que Santos ainda pode ser um “parceiro” da Venezuela e das FARC!

Os marxistas revolucionários nunca patrocinaram nenhuma ilusão nem nos chamados “diálogos de paz” e muito menos na capacidade de reação dos governos da centro-esquerda burguesa latino-americana. Ainda que defendamos frente militares com governos atacados ou ameaçados pelo imperialismo, desde já declaramos que a tarefa de combater os planos da ofensiva ianque e da OTAN em nosso continente está nas mãos da classe operária e seus aliados, o campesinato pobre e os estudantes. Cabe aos leninistas na trincheira da luta contra o imperialismo e pelas reivindicações imediatas e históricas dos trabalhadores, inclusive em frente única com os governos atacados pelas tropas da OTAN, combater os planos de agressão das potências capitalistas sobre as nações semicoloniais da região. Para tanto, faz-se necessário forjar um autêntico partido revolucionário marxista e marchar com independência política pela senda do combate de classe pela revolução socialista. Para derrotar a ofensiva política e militar das potências abutres e de seus aliados internos é preciso que o proletariado em aliança com seus irmãos de classe latino-americanos se levantem em luta contra a investida imperialista na região. Neste momento, é fundamental estabelecer uma clara frente única anti-imperialista com as forças populares que se colocam contra os planos imperialistas. Combatendo nesta trincheira de luta comum, os revolucionários têm autoridade política para rechaçar inclusive as concessões feitas pela centro-esquerda burguesa, como o chavismo.

Por fim, diante do cerco crescente neste momento de maior fragilidade das FARC, declaramos nosso apoio incondicional à guerrilha diante de qualquer ataque militar do imperialismo e do aparato repressivo de Santos. Simultaneamente, apontamos como alternativa a superação programática da estratégia reformista da direção das FARC baseada na reconciliação nacional com a oposição burguesa e a unificação da luta armada com o movimento operário urbano sob a estratégia da revolução socialista para liquidar o regime fascistóide e organizar a tomada do poder pelos explorados colombianos. Defendemos que uma política justa para o confronto entre a guerrilha e o Estado burguês passa por aplicar a unidade de ação contra Santos, com a mais absoluta independência política em relação ao programa reformista das FARC. Ao lado dos heroicos guerrilheiros das FARC e honrando o sangue derramado pelos comandantes Afonso Cano, Manuel Marulanda, Mono Jojoy e agora Guillermo Pequeño, que morreram em combate, apontamos como alternativa programática a defesa da estratégia da revolução socialista e da ditadura do proletariado, sem patrocinar nenhuma ilusão na possibilidade de construir uma “Nova Colômbia” sem liquidar o capitalismo e seus títeres.