Colômbia na OTAN é parte da estratégia imperialista de eliminar as FARC e provocar uma guerra contra a Venezuela
O pedido de ingresso da
Colômbia na OTAN, anunciado pelo facínora presidente Manoel Santos, poucos dias
depois das FARC terem chegado a um “pré-acordo” com o governo colombiano no
tema da reforma agrária nos chamados “diálogos de paz”, parece que pegou de “surpresa”
a “esquerda” que apoia as negociações entre a guerrilha e Santos. Diversas
declarações indignadas de partidos reformistas e stalinistas latino-americanos
reclamando da decisão de Santos em estabelecer um acordo de cooperação com a
OTAN vieram à tona, como se sentissem “traídos” pelo chacal colombiano, o
mesmo, lembremos, que foi ministro da defesa do governo narcotraficante de
Uribe e responsável, já como presidente, pelos ataques à direção da guerrilha
que levou ao assassinato de Afonso Cano em 2011, dirigente máximo das FARC.
Para os marxistas-leninistas que sempre denunciaram publicamente as negociações
como parte de um plano traçado pela Casa Branca para eliminar as FARC – tanto
que durante o processo mais de 100 guerrilheiros já foram mortos – a decisão de
Santos se enquadra perfeitamente na estratégia do imperialismo de preparar uma
ofensiva militar contra a Venezuela. A recém-criada “Aliança do Pacífico”,
constituída de México, Colômbia, Peru e Chile, patrocinada por Washington e que
já organizou nada menos que sete reuniões de cúpula em pouco mais de um ano
demonstra que se trata de um plano continental para avançar no controle sobre o
continente latino-americano.
Os que ao longo das
negociações, previstas para se encerrarem em novembro, vinham aplaudindo os
“avanços” nos acordos e chegaram a apoiar a marcha pela “paz dos cemitérios”
promovida por Santos em conjunto com Piedad Córdoba em abril, agora, como em um
passe de mágica, denunciam que o pedido de ingresso na OTAN “trata-se de uma
ofensiva para tentar desestabilizar a Venezuela e encurralar as FARC na mesa de
diálogo em Havana, no intento de levar a insurgência a aceitar um acordo de paz
rebaixado, o menos oneroso possível para a oligarquia. Não se pode descartar
também a possibilidade desta ação representar uma estratégia camuflada para
forçar o rompimento do diálogo, atribuir o impasse à insurgência e desatar a
violência contra toda a resistência popular colombiana, independente de sua
forma de luta” (site PCB, 02/06). Nada mais falso! Santos sempre reafirmou seu
objetivo de eliminar as FARC e sua “aproximação” com o governo da Venezuela
teve como base a perseguição aos dirigentes das FARC. Agora, a Venezuela e a
guerrilha colombiana estão sendo vítima de sua própria política de concessões
vergonhosas a Santos. O exército colombiano, controlado diretamente pelo
Pentágono, sempre combateu firmemente as FARC mesmo durante as “negociações de
paz”, atacando suas colunas e assassinando seus dirigentes, enquanto a
guerrilha anunciou um “cessar-fogo” unilateral por pressão do chavismo e da
burocracia castrista.
O pedido de ingresso na
OTAN corresponde às necessidades políticas da Casa Branca que vem desencadeando
uma ofensiva contra os governos da centro-esquerda burguesa no continente, vide
os golpes no Paraguay e Honduras e o plano de desestabilização da Venezuela.
Não por acaso, Santos recebeu o fascistóide Capriles há poucos dias em Bogotá.
Um fustigamento militar futuro na fronteira dos dois países, tendo como
pretexto o combate às FARC, poderá levar até mesmo a uma guerra, em que a OTAN
auxilie a Colômbia a derrotar as FARC e, de quebra, desmoralizar as forças
armadas venezuelanas, hoje relativamente bem aparelhadas. Tanto que a Casa
Branca publicamente defendeu a posição de Santos, declarando: “Nosso objetivo é
apoiar a Colômbia como membro capaz e fonte de muitas organizações
multilaterais, o que pode incluir a OTAN” afirmou Roberta Jacobson, secretária
assistente de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental. Jacobson destacou
ainda a afinidade entre EUA e Colômbia, lembrando-se da atuação conjunta há
mais de uma década no Plano Colômbia. Ao comentar a aproximação do país
latino-americano com a OTAN, ela disse ver como um reflexo da capacidade da
Colômbia se relacionar em escala global, “seja como aliado no Conselho de
Segurança da ONU, seja buscando coordenação com a OTAN”. Recordemos que o
governo da Colômbia já havia participado no mês passado, na condição de
convidado, de uma reunião da OTAN para planejar a transformação das Ilhas Malvinas
em base militar dessa organização imperialista. Além disso, através da IV Frota
ianque que foi reativada por Obama e com o auxílio das bases militares
norte-americanas instaladas na Colômbia, Santos vinha conseguindo impor duros
golpes à guerrilha, enquanto usa a “pressão democrática” para forçar a entrega
unilateral dos reféns pelas FARC e seu desarmamento.
O presidente da
Venezuela, Nicolás Maduro, preocupado declarou: “lamentamos muito esta decisão
da Colômbia e estamos de acordo com a proposta do presidente Evo Morales de
convocar uma reunião de emergência da Unasul, pois um país do continente dizer
que quer ser membro da OTAN coloca em risco a estabilidade da região. Denuncio
os planos de guerra que a OTAN quer trazer para a América do Sul. Temos que
denunciar através da Unasul e da Celac, e o governo da Colômbia tem que
refletir sobre isso” (Telesur, 31/05). Já o Partido Comunista Colombiano
declarou que “A reunião do presidente Santos com o conspirador Capriles não é
um fato casual. Sucede logo após a visita do senhor Biden, vice-presidente dos
Estados Unidos cuja política instiga a desestabilização da Venezuela. Este fato
político marca a ofensiva da ultradireita continental para mudar a correlação
de forças e reverter os processos democráticos de independência e autodeterminação
latino-americanos. A pretensão é destruir as conquistas bolivarianas na
Venezuela que consideram um bastião estratégico da Alba, Unasul, Mercosul e
Celac. Após a cúpula da Aliança do Pacífico, com a presidência colombiana na mesma
e a aceitação da candidatura para ingressar na OECD, é evidente o compromisso
de Santos com a nova orientação de Washington. É nesta estrutura de fatos e não
exclusivamente na situação interna da Venezuela onde temos que analisar a
virada de Santos. Trata-se de enquadrar o processo de diálogos e acordos entre
o governo e as Farc em Havana em um contexto de derrota e contrarrevolução na
América Latina. Esta conduta põe em grave risco o diálogo em curso e representa
uma concessão aos declarados inimigos da paz na Colômbia. Amplia a dúvida, uma vez mais, sobre a real vontade de
paz do governo colombiano. Perante esta situação crítica, o PaCoCol exige do
presidente Santos aclarar sua posição diante do povo colombiano e da América
Latina com relação ao governo legítimo da Venezuela, reconhecido oficialmente.
Fazemos um chamado ao governo nacional para priorizar as relações amistosas, de
respeito e não ingerência nos assuntos internos de um ou outro país. Alertamos
o movimento popular para a necessidade de se ampliar o acompanhamento
internacional sobre o processo de diálogo em Havana e chamamos a redobrar o
respaldo popular mais decidido ao processo de diálogo para a solução política”
(site PCCol, 31/05). Como se vê, a centro-esquerda burguesa, os partidos reformistas
e stalinistas “acreditam” que Santos ainda pode ser um “parceiro” da Venezuela
e das FARC!
Os marxistas
revolucionários nunca patrocinaram nenhuma ilusão nem nos chamados “diálogos de
paz” e muito menos na capacidade de reação dos governos da centro-esquerda
burguesa latino-americana. Ainda que defendamos frente militares com governos
atacados ou ameaçados pelo imperialismo, desde já declaramos que a tarefa de
combater os planos da ofensiva ianque e da OTAN em nosso continente está nas
mãos da classe operária e seus aliados, o campesinato pobre e os estudantes.
Cabe aos leninistas na trincheira da luta contra o imperialismo e pelas
reivindicações imediatas e históricas dos trabalhadores, inclusive em frente
única com os governos atacados pelas tropas da OTAN, combater os planos de
agressão das potências capitalistas sobre as nações semicoloniais da região.
Para tanto, faz-se necessário forjar um autêntico partido revolucionário
marxista e marchar com independência política pela senda do combate de classe
pela revolução socialista. Para derrotar a ofensiva política e militar das
potências abutres e de seus aliados internos é preciso que o proletariado em
aliança com seus irmãos de classe latino-americanos se levantem em luta contra
a investida imperialista na região. Neste momento, é fundamental estabelecer
uma clara frente única anti-imperialista com as forças populares que se colocam
contra os planos imperialistas. Combatendo nesta trincheira de luta comum, os
revolucionários têm autoridade política para rechaçar inclusive as concessões
feitas pela centro-esquerda burguesa, como o chavismo.
Por fim, diante do cerco
crescente neste momento de maior fragilidade das FARC, declaramos nosso apoio
incondicional à guerrilha diante de qualquer ataque militar do imperialismo e
do aparato repressivo de Santos. Simultaneamente, apontamos como alternativa a
superação programática da estratégia reformista da direção das FARC baseada na
reconciliação nacional com a oposição burguesa e a unificação da luta armada
com o movimento operário urbano sob a estratégia da revolução socialista para
liquidar o regime fascistóide e organizar a tomada do poder pelos explorados
colombianos. Defendemos que uma política justa para o confronto entre a
guerrilha e o Estado burguês passa por aplicar a unidade de ação contra Santos,
com a mais absoluta independência política em relação ao programa reformista
das FARC. Ao lado dos heroicos guerrilheiros das FARC e honrando o sangue
derramado pelos comandantes Afonso Cano, Manuel Marulanda, Mono Jojoy e agora
Guillermo Pequeño, que morreram em combate, apontamos como alternativa
programática a defesa da estratégia da revolução socialista e da ditadura do
proletariado, sem patrocinar nenhuma ilusão na possibilidade de construir uma “Nova
Colômbia” sem liquidar o capitalismo e seus títeres.