Na calada dos protestos Brasil sofre ataque especulativo e perde dez bilhões de Dólares de suas reservas cambiais
Foram cinco dias que “abalaram
as ruas” do país, com protestos multitudinários da juventude na maioria das
grandes cidades, também foram cinco dias seguidos de disparada da moeda norte-americana,
obrigando o Banco Central (BC) do Brasil a “torrar” cerca de dez bilhões de
Dólares para “acalmar” o mercado. O primeiro fato narrado teve ampla
repercussão na mídia “murdochiana”, ocupando integralmente a grade da
programação da poderosa Rede Globo, o segundo fato mereceu algumas “notinhas”
de fundo de página da imprensa burguesa e absolutamente nenhuma atenção da
esquerda em suas raras publicações físicas ou virtuais na internet. A verdade é
que rentistas internacionais tem se aproveitado da crise política por que passa
o governo Dilma, forçando uma sobrealta do Dólar no Brasil, atingindo o mesmo
patamar alcançado na crise mundial de 2009, em pleno crash financeiro mundial.
O Real está sofrendo uma maxidesvalorização na calada dos protestos sem que
aconteça a menor resistência por parte da equipe econômica palaciana. Ao
contrário, a resposta dos tecnocratas do BC tem sido alimentar com Dólares (de
nossas reservas cambiais) cada vez mais a sede dos agiotas, o que corresponde a
apagar um “incêndio com gasolina”. A cotação da moeda ianque fechou a semana
(21/06) na marca de 2,25 por Real, mesmo após o BC realizar consecutivos leilões
de Swap cambial, desfalcando em mais de dez bilhões de dólares as reservas
cambiais do Tesouro nacional. Vale ressaltar que a “gordura” de mais de
trezentos bilhões de Dólares em reservas do Tesouro é uma das principais
ancoras da estabilidade econômica brasileira, o maior símbolo financeiro dos
governos da Frente Popular, que permitiu a enorme expansão de crédito no país.
Atacar esta “fortaleza” do Brasil significa uma aposta dos rentistas
internacionais na instabilidade política e crise econômica, gerando uma pressão
inflacionária artificial às vésperas das eleições gerais de 2014 e no meio de
uma conjuntura altamente explosiva.
Funcionários do capital
financeiro, travestidos de “analistas econômicos”, têm declarado na grande
mídia que a hipervalorização do Dólar é um processo internacional e que o
governo brasileiro nada pode fazer... a não ser “alimentar” a sede voraz do
mercado. Outros “experts” afirmam que o único “remédio” contra a desvalorização
do Real é o aumento da taxa de juros, acompanhada de um duro ajuste fiscal que
reduza o déficit orçamentário. Esta corja de tecnocratas mente descaradamente
quando receitam a mesma e velha “dieta” neoliberal ao Brasil. É certo que a
economia norte-americana apresenta leves sinais de recuperação, trazendo o
debate do fim da política de expansão monetária até então praticada pelo FED. A
verdade é que a “catástrofe” econômica pós-2008 não ocorreu nos EUA, a despeito
das projeções da esquerda revisionista, e o Dólar volta a tomar seu lugar de “carro-chefe”
(na verdade nunca perdeu seu posto) no mercado cambial do planeta. Mas isto não
significa de modo algum que o Brasil tenha que perder em um único mês cerca de
10% de suas reservas, assistindo “passivo” a um ataque especulativo de tamanhas
proporções.
Como já tínhamos
denunciado há cerca de uma semana, a direção do BC tem atuado na alta do Dólar
como verdadeira agente dos rentistas, zerando alíquotas das aplicações de curto
prazo na esperança de atrair investidores do mercado internacional. As medidas
de “subsídios” se mostraram nulas e a hipervalorização do Dólar continua,
ameaçando quebrar a barreira histórica dos 2,30. Não são poucas as vozes dentro
do governo Dilma (desgraçadamente também na esquerda “marxista”) que entendem
como positiva a perda do poder de compra do Real, afirmam que o “fenômeno” pode
beneficiar exportadores do agronegócio (commodities) e reduzir a importação de
bens de capital, o que geraria um impacto “positivo” em nossa balança
comercial. Nesta concepção de “colonizado” seria péssimo para o país possuir
uma moeda nacional “forte”.
Acontece que com uma
moeda subvalorizada obriga ao governo lançar mãos de instrumentos de arrocho
fiscal e monetário para equilibrar sua conta em transações correntes, já
conhecemos este “filme” na era FHC. Um país realmente soberano deve sim ter uma
política de controle de divisas, estabelecendo as chamadas bandas cambiais com
um piso e um teto pré-estabelecido pela autoridade do BC. Somado a estas
medidas o governo deveria confiscar todos os ativos financeiros dos agiotas do
mercado que lucram fortunas “apostando” na quebra do país, através do superendividamento
mobiliário. Somente através da completa estatização da banca será possível
induzir o país a uma política soberana de desenvolvimento econômico. Mas este
submisso governo do PT sequer elabora um projeto “nacional” de crescimento
capitalista (como China e Rússia), seguindo a cartilha do neomonetarismo
imposta por Washington. O resultado concreto é o atraso e reprodução das velhas
estruturas semicoloniais, que no máximo permitem uma evolução anual média do PIB
na ordem de 3%, “pibinho”.