terça-feira, 11 de junho de 2013


“Vazamento” sobre espionagem doméstica desmoraliza Obama e pavimenta caminho do Tea Party rumo à Casa Branca

Com a restauração capitalista da URSS e o fim da chamada “Guerra Fria”, a partir da queda do Muro de Berlim, ou seja, o desaparecimento do Pacto de Varsóvia que fazia um contraponto político e militar ao imperialismo ianque, ganhou força uma campanha ideológica movida por intelectuais a soldo das potências ocidentais e da grande mídia burguesa, afirmando que o mundo de forma homogênea caminhava para a “democracia” - entenda-se um regime de aparente liberdade civil tendo por base a economia de mercado. A pequena-burguesia acomodada foi vanguarda em “incorporar” esses valores em nome da sua “liberdade individual”, enquanto o proletariado, carente de referência programática e ideológica comunista, foi arrastado para tal armadilha ao mesmo tempo em que era atacado em suas mais elementares conquistas sociais. Passados quase 25 anos do fim da chamada “cortina de ferro”, uma referência aos Estados operários do Leste Europeu, vemos que o imperialismo ianque incrementou seu controle político, militar e ideológico sobre o planeta. Neste marco, não causou qualquer surpresa os recentes “escândalos” sobre o monitoramento em massa da vida dos cidadãos estadunidenses pelos órgãos de vigilância internos. Veio à tona o que já se sabia: o Estado burguês nos EUA, que assume o papel de polícia planetária, é uma verdadeira máquina de guerra para manter sua dominação sobre os povos e nações oprimidas, enquanto vigia seus próprios cidadãos para que nada “saia do controle” em casa. A classe média, fã do Facebook, uma ferramenta de monitoramento controlada pela CIA, crente na falsa “liberdade de expressão” na internet e na comunicação via celular, é que se “chocou” com as informações que vieram a público com as denúncias de Edward Snowden, antigo membro da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos e atual funcionário de uma empresa subcontratada pela Agência de Segurança Nacional ianque (NSA). Tais “vazamentos”, que deixam o governo Obama fragilizado frente a sua base social “progressista” no interior dos EUA enquanto o desmoralizam diante da direita que o acusa de incompetente em zelar pela “segurança nacional”, pavimentam o caminho para a transição da atual gestão democrata fragilizada para um futuro mandato republicano de corte fascistizante a ser comandado pelo Tea Party.

O vazamento de documentos sobre a espionagem feita pelo governo Obama por meio do programa PRISM revelou detalhes do consórcio existente entre as agências de informação ianque (CIA, NSA...) com as operadoras de telefonia e empresas de tecnologia como a Verizon, a Apple, o Yahoo, o Google e o Facebook, que fornecem dados tidos como sigilosos sobre seus usuários. Na verdade, a questão é bem mais profunda. Essas empresas imperialistas utilizam a tecnologia militar que o Pentágono disponibiliza para seus “sócios” comerciais e para Israel, responsáveis por monitorar o planeta inteiro. Tanto que o programa foi iniciado em 2007, ainda na administração de George W. Bush e incrementado pelo governo Obama, demonstrando que esta é uma política de Estado do imperialismo ianque. Segundo o próprio governo dos EUA, o PRISM é responsável por filtrar comunicações e dados “sensíveis ou perigosos” transmitidos por servidores localizados no país. Mas, como a maioria das empresas de tecnologia e de Internet está baseada em território norte-americano (já sob o controle da CIA e outras agências), o alcance do PRISM é muito maior. Segundo matéria do jornal Washington Post, um em cada sete relatórios da inteligência dos EUA é elaborado com dados obtidos pelo PRISM. Ainda segundo o jornal, 98% dos dados do PRISM provêm de Yahoo, Google e Microsoft. Os dados obtidos nos servidores das empresas de tecnologia eram retrabalhados pela Unidade de Interceptação de Dados do FBI e, então, reenviados para a NSA. Conversas via Skype usando um telefone convencional, mas também áudios, vídeos e chats feitos no programa de telefonia recém-adquirido pela Microsoft também eram colhidos. Já o Google entregava os e-mails, chats, documentos armazenados no Google Drive e até mesmo as buscas feitas em tempo real. Em suma, o governo ianque tem acesso a quase toda atividade online dos usuários das grandes empresas de tecnologia. Cinicamente, o Facebook diz nunca ter ouvido falar da iniciativa do governo em coletar dados pessoais dos cidadãos. Pela legislação ianque, não há nada de ilegal na execução do PRISM.

Após os ataques de 11 de setembro, ainda no primeiro mandato de George W. Bush, foi promulgado o Patriot Act. Assinado por Bush em 26 de outubro de 2001. O dispositivo permite a invasão de lares, espionagem, interrogatórios e torturas de cidadãos em caso de ameaça real ou hipotética de terrorismo contra os Estados Unidos. A legislação foi renovada por Obama em dezembro de 2012. Agora, esse modelo irá se aprofundar com a chegada em 2016 de uma possível gestão do Tea Party na Casa Branca. O governo do “Partido Democrata”, após a reeleição, atravessa seu pior momento político, acossado pelo reacionário Tea Party que o acusa de ter sido negligente no ataque da embaixada da Líbia e de incompetente em manipular dados de “segurança nacional”. Na verdade, o “sinal verde” dado por Obama para a CIA, NSA e o FBI realizarem os monitoramentos em massa são a aceitação das reivindicações da extrema-direita Republicana, que exige uma mudança mais profunda no próprio regime institucional norte-americano. Obama deve sua reeleição ao fato ter sabido conduzir a suposta “revolução árabe” na direção da derrubada dos governos nacionalistas burgueses adversários dos interesses ianques na região, mas agora se encontra empantanado na guerra civil na Síria e com a falta de perspectiva militar e política na preparação da invasão ao Irã.

Estamos vendo a volta com força do neonazismo ianque em escala interna e planetária. Para se opor à essa escalada arquirreacionária deve-se ter claro que ela é uma expressão da dura etapa de contrarrevolução e profunda ofensiva imperialista em curso, onde ao lado dos mortos de massacres internos estão os cadáveres de mais de 200 mil líbios trucidados pelos bombardeios da OTAN ou as vítimas dos mercenários “rebeldes” na Síria, ao melhor estilo dos jogos de guerra vendidos às crianças estadunidenses. Somente a ação revolucionária do proletariado mundial poderá reverter estas tendências nefastas, se valendo da luta pela liquidação do modo de produção capitalista e tendo como estratégia a imposição de seu próprio projeto de poder socialista. Os marxistas revolucionários devem compreender com muita clareza que a completa supressão das liberdades democráticas no país mais poderoso do planeta não é uma questão menor. O proletariado norte-americano pela sua importância política mundial deve estar bastante atento a esta nova conjuntura nacional pré-contrarrevolucionária que se abriu com o 11 de setembro na gestão Bush e que, todavia, ainda não foi encerrada com os Democratas no comando estatal. A burguesia ianque acionou a “válvula de escape” com Obama logo após o crash financeiro de 2008 e agora prepara a nova transição para uma ofensiva imperial ainda mais agressiva e violenta contra o seu próprio povo e a classe operária mundial!