Falsa simetria entre “Diretas Já”, o “Fora Collor” e as atuais mobilizações pode levar a esquerda a cometer gravíssimos equívocos
Por ignorância ou mesmo
por concepções políticas muito equivocadas, assistimos hoje a um “consenso”
generalizado entre a esquerda (para não falar da própria mídia “murdochiana”)
ao comparar na mesma escala política as atuais mobilizações nacionais com a
campanha das “Diretas Já” e o “Fora Collor”. Este grave erro político levou a
esquerda revisionista a abonar acriticamente a dinâmica assumida pelos
protestos do “Passe Livre”, logo após estes terem assumido um caráter
multitudinário nacional, com o “patrocínio” da imprensa burguesa (PIG). Em
primeiro lugar, é preciso desmistificar a “identidade” política entre as “Diretas
Já” e o “Fora Collor” que em comum mesmo só tiveram a massiva participação da
juventude nas praças e atos públicos, mas com objetivos políticos totalmente
díspares. A campanha das “Diretas Já” foi o desaguadouro concentrado de vinte
anos da encarniçada luta democrática-popular contra o regime militar,
representou as maiores manifestações populares (com forte presença proletária)
que o país vivenciou desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Mais além da
traição cometida pelo PT em 84, que aceitou desarmar o movimento de massas
quando a emenda Dante Oliveira foi rejeitada no Congresso (abrindo assim o
caminho para a transição pactuada do regime militar), a campanha das “Diretas”
tinha um norte político inicial bem definido, ou seja, a realização de uma
tarefa democrático-burguesa pendente que permitia aos comunistas
revolucionários o estabelecimento de uma unidade de ação tática com setores das
classes dominantes. Como Lenin assim definiu muito bem: “Marchar separados e
golpear juntos”, era o móvel que permitia a convocação em frente única de
gigantescos atos políticos contra o regime, onde a classe operária e a
juventude mantiveram suas próprias bandeiras como: “Abaixo a ditadura militar”
e “Por um governo dos trabalhadores”. Embora o desfecho das mobilizações pelas “Diretas”
não tenha desembocado em nenhuma “revolução democrática” (sequer alcançaram a
eleição direta para presidente), permitiu que o conjunto das organizações de
esquerda no país, até então vivendo na semiclandestinidade, fossem livremente às
ruas com suas bandeiras e colunas militantes. Pela primeira vez em vinte anos
de ditadura a “foice e o martelo” ganhava as praças diante de milhões de
brasileiros e só não concluiu o curso revolucionário das massas em função da
operação política de desmobilização, batizada na época de “Transição/Transada”
protagonizada pelo PT em aliança com os partidos da oposição burguesa (PMDB e PDT).
As mobilizações democráticas dos anos 80, apesar do nascimento da conservadora “Nova
República”, deixaram um “saldo” progressista que permitiu a legalização dos
partidos comunistas (desgraçadamente os revisionistas preferiram permanecer
debaixo das asas do PT e os Maoístas do MR8 ficaram na sombra do PMDB), assim
como a convocação de um arremedo democratizante do que seria uma verdadeira
assembleia nacional constituinte.
O governo Collor que sucedeu a chamada “Nova República” comandada por Sarney, desta vez “eleito” pelo voto popular, não conseguiu sustentação política necessária no interior das classes dominantes exatamente por representar um setor lúmpen e marginal da burguesia, utilizado como alternativa de emergência diante da vitória eleitoral roubada de Lula em 89. O movimento “Fora Collor”, de composição majoritariamente juvenil, foi impulsionado diretamente pela famiglia Marinho que resolveu abandonar sua “criatura” quando esta tornou-se inútil e obsoleta diante das perspectivas que a economia mundial estava abrindo para o Brasil. A mobilização dos jovens do “Fora Collor”, levados às ruas pela Rede Globo, assumiu como eixo a luta “contra a corrupção” e pela “ética na política” em função das “pequenas comissões” cobradas pelo tesoureiro de Collor (PC Farias) a empresários que pretendessem realizar “negócios” com o Estado brasileiro. Galvanizando rapidamente nas ruas o ódio por um governo que confiscou a poupança da população, o “Fora Collor” serviu como instrumento para a burguesia nacional agilizar a troca de uma “gerência” capitalista arcaica por outra neoliberal “moderna” (no marco do mesmo regime político), capaz de realizar as privatizações que o capital financeiro exigia. O “Impeachment” de Collor, longe de representar o “resgate da cidadania” ou o “Brasil passado a limpo”, como pregam até hoje os reformistas de todos os calibres, expressou um movimento da própria burguesia para utilizar melhor seu “fundo estatal”, apeando do poder um governo de “ladrões de galinha” em benefício de “tubarões” da corrupção em um mundo recém globalizado no início da década de 90. Movimentos como o “Fora Collor” e as “Diretas Já” muito pouco tiveram em comum (objetivos completamente distintos), a não ser o profundo desgaste popular comum aos governos Collor e do General Figueiredo.
O governo Collor que sucedeu a chamada “Nova República” comandada por Sarney, desta vez “eleito” pelo voto popular, não conseguiu sustentação política necessária no interior das classes dominantes exatamente por representar um setor lúmpen e marginal da burguesia, utilizado como alternativa de emergência diante da vitória eleitoral roubada de Lula em 89. O movimento “Fora Collor”, de composição majoritariamente juvenil, foi impulsionado diretamente pela famiglia Marinho que resolveu abandonar sua “criatura” quando esta tornou-se inútil e obsoleta diante das perspectivas que a economia mundial estava abrindo para o Brasil. A mobilização dos jovens do “Fora Collor”, levados às ruas pela Rede Globo, assumiu como eixo a luta “contra a corrupção” e pela “ética na política” em função das “pequenas comissões” cobradas pelo tesoureiro de Collor (PC Farias) a empresários que pretendessem realizar “negócios” com o Estado brasileiro. Galvanizando rapidamente nas ruas o ódio por um governo que confiscou a poupança da população, o “Fora Collor” serviu como instrumento para a burguesia nacional agilizar a troca de uma “gerência” capitalista arcaica por outra neoliberal “moderna” (no marco do mesmo regime político), capaz de realizar as privatizações que o capital financeiro exigia. O “Impeachment” de Collor, longe de representar o “resgate da cidadania” ou o “Brasil passado a limpo”, como pregam até hoje os reformistas de todos os calibres, expressou um movimento da própria burguesia para utilizar melhor seu “fundo estatal”, apeando do poder um governo de “ladrões de galinha” em benefício de “tubarões” da corrupção em um mundo recém globalizado no início da década de 90. Movimentos como o “Fora Collor” e as “Diretas Já” muito pouco tiveram em comum (objetivos completamente distintos), a não ser o profundo desgaste popular comum aos governos Collor e do General Figueiredo.
As gigantescas
mobilizações nacionais que ganharam as ruas nos últimos dias, a partir da luta
inicial do Movimento Passe Livre, sequer foram ainda “batizadas”, tamanha é a
confusão política e a ausência de uma “hegemonia” que possa definir claramente
os objetivos deste movimento. A tentativa do “PIG” (sinônimo político da
imprensa capitalista) em “pautar” os protestos de rua com consignas “contra a
corrupção e os partidos políticos” lembra de alguma maneira a “operação”
midiática do “Fora Collor”. Mas as semelhanças param por aí, já que o
Impeachment de Collor conseguiu construir um certo “consenso nacional”
lastreado no justo ódio da população ao seu governo. Agora a genuína revolta da
juventude (não a instrumentalizada pela Rede GLOBO) tem como foco a opressão
geral do regime capitalista, no curso de um governo de Frente Popular
relativamente bem avaliado pela maioria da população trabalhadora. A rebeldia
mais radicalizada da juventude é hoje um fenômeno mundial, até em países
capitalistas considerados com excelente IDH (como a Suécia), é produto da falta
de horizontes do regime burguês e da mediocridade da sociedade de classes. A “violência”
difusa e geralmente “desfocada” demonstrada nas ações da juventude substituiu
em certa medida a falta de um norte ideológico, consequência direta da etapa
histórica contrarrevolucionária que atravessamos.
É bem verdade que
organizações estranhas aos movimentos sociais, como o “Anonymous” tem
conseguido imprimir sua marca política reacionária na maioria das cidades do
país, notadamente em São Paulo. O braço político do PIG, a impopular oposição Demo-Tucana,
tem grande dificuldade em se apresentar de “cara limpa” nos protestos e por
isso utiliza apêndices como o “gigante despertou”, granjeando assim a simpatia
de setores fascistizantes da classe média. Já o MPL, diante da enorme mitigação
política do movimento nacional, resolveu suspender temporariamente suas
convocatórias, no sentido de clarificar os rumos que os protestos poderão
tomar, sem a utilização de sua chancela original. A repressão neofascista
dirigida contra as organizações da esquerda, sejam ou não integrantes da base
de apoio ao governo Dilma, é a expressão política concentrada da dinâmica social
que vem assumindo este movimento e não são apenas “episódios isolados”, como
tentam nos convencer os revisionistas mais embriagados com possibilidade de
aproveitar o momento para se cacifar eleitoralmente.
Com a saída do MPL do “jogo”
em pleno andamento, o PIG terá que assumir sozinho o “apadrinhamento” do
movimento, fazendo seu tradicional “teatro” de apoiar as reivindicações “cívicas”
e criticar as ações dos “vândalos”, ocorridas coincidentemente sempre no final
das manifestações. Fica cada vez mais evidente que enquanto a Globo resolver
suspender a grade de sua programação normal para transmitir “on line” os
protestos, perdendo inclusive o faturamento dos anunciantes do período, estará
incentivando em muito a participação tanto dos “cívicos” quanto dos “vândalos”.
No campo “oficial”, Dilma fez um pronunciamento em rede nacional em apelo à “ordem”,
além de promessas demagógicas genéricas para melhorar o serviço dos transportes
públicos.
As centrais sindicais, “chapa
branca” ou de “oposição”, vem mantendo o movimento operário totalmente à margem
das mobilizações. A CONLUTAS em especial, em razão do PSTU apoiar quase que
acriticamente o movimento, poderia convocar uma paralisação nacional dos
trabalhadores, precedida de marchas com verniz de esquerda pautadas pelas
verdadeiras reivindicações do proletariado, permanece inerte, orientando seus
sindicatos a completa paralisia. Na ausência de uma perspectiva classista, o
movimento nacional dos protestos seguirá refém de uma dinâmica mais à direita,
a espera de um “mártir” ideal, vítima direta da repressão policial-militar do
governo do PT. Se realmente chegarmos a este ponto de ebulição política, as
condições para o “start” de uma ampla campanha do PIG pelo Impeachment da
presidente Dilma estarão plenamente colocadas. Como Marx afirmou há um século e
meio atrás: “A história se repete a primeira vez como tragédia, a segunda como
farsa!”...