Governo Dilma pretende mesmo conter a alta do Dólar ou beneficiar rentistas e os exportadores do agronegócio?
Uma certa “tensão” ronda
os chamados “mercados emergentes”, como o Brasil, trata-se da possibilidade do
FED (Banco Central) norte-americano alterar sua política de expansão monetária
para combater a recessão interna e no bojo voltar a elevar as taxas de juros
dos títulos públicos emitidos pelo Tesouro, congeladas desde o crash financeiro
de 2008. Caso o FED decida tornar mais “atraente” a taxa de juro ianque espera-se
uma corrida de investidores, que voltariam para o “lar” no sentido de especular
com os “papéis” mais garantidos do planeta. A economia norte-americana
apresenta leves sinais de recuperação após quatro anos de estagnação, o sistema
bancário foi parcialmente “saneado” (não há ameaças de falência) e até mesmo os
valores imobiliários voltaram a subir. Vale destacar que o custo social da “recuperação”
econômica ianque é bastante elevado, os índices de desemprego ainda são
praticamente os mesmos de 2009, acompanhado das perdas de conquistas operárias
históricas com o fim do “Welfare State”. O Brasil foi diretamente beneficiado
com a crise mundial de 2009, logo após o “susto” que implicou em uma
interrupção momentânea do fluxo de crédito ao país, assistimos uma verdadeira “enxurrada”
de investimentos financeiros “globais” a procura do binômio de juros altos e
estabilidade política e social vigente no “reino” petista do pacto social. Mas
agora a “onda” financeira promete virar da “periferia para o centro” e o
desprestigiado Dólar ameaça tomar seu lugar de volta, esboçando uma valorização
mundial, que no Brasil já chegou a casa de 6% em apenas 30 dias.
A forte desvalorização
do Real pôs a equipe econômica palaciana em alerta máximo, pois coincidiu com a
campanha midiática (em uníssono com a oposição Demo-Tucana) que alardeava a
volta do ciclo inflacionário, elegendo até um novo “vilão” nacional, o tomate.
Atendendo prontamente a histeria midiática, supostamente muito “preocupada” com
os efeitos inflacionários no bolso da população, o governo Dilma retomou a
escalada do viés de alta na taxa SELIC, acalmando desta maneira a ira dos
rentistas contra a pequena redução dos juros praticada pelos bancos estatais.
Mas se os tecnocratas do BC conseguiram manter o índice inflacionário dentro do
teto das metas definidas pela autoridade monetária, o mesmo não pode ser feito
quando a questão se trata da taxa cambial. Com a vigência da política do cambio
flutuante, tão defendida pelos apóstolos do neoliberalismo, o Dólar (leia-se
rentistas internacionais que detém debêntures de grandes empresas atreladas à
moeda norte-americana) tem espaço livre para “voar” e promover um verdadeiro
ataque especulativo às nossas “gordas” reservas cambiais.
As medidas adotadas pelo
BC para conter a disparada do Dólar mais se assemelham à tentativa de “apagar
um incêndio com gasolina”. Primeiro isentaram o IOF de aplicações estrangeiras
em carteiras de renda fixa, o chamado “capital de motel”, como não surtiu
efeito algum a não ser auferir mais lucratividade às ações dos agiotas
internacionais, passaram a promover os chamados “swaps cambiais”, ou seja
leilões de venda de dólares (contratos futuros) a um preço muito convidativo
aos rentistas. O resultado foi somente o de “queimar” em um único dia mais de
dois bilhões de nossas reservas cambiais e mesmo assim assistir de “camarote” a
uma nova elevação da cotação da moeda norte-americana. O movimento especulativo
em torno da taxa de câmbio também tem estimulado grandes empresas
transnacionais que operam no país a aumentarem drasticamente suas remessas ao
exterior para tirarem vantagem da alta do Dólar, como nossa economia possui um
alto grau de desnacionalização esta movimentação financeira tem forte impacto
negativo no balanço de nossa conta de transações correntes.
Mas não só os rentistas
do mercado de capitais estão muito contentes com a política adotada pelo BC, em
nome da nova “cruzada contra a inflação”, os exportadores do agronegócio que
sempre clamaram pela maxi-desvalorização do Real vivem atualmente no “mundo dos
sonhos”. Com as commodities agrominerais cotadas em um Real fraco, aumenta a
competitividade das exportações brasileiras no mercado mundial, enquanto que
para o consumo interno os preços se elevam em função da escassez de produtos
alimentares. Em resumo, podemos afirmar que este governo da Frente Popular, como
legíitimo representante do capital financeiro e do agronegócio, não toma
qualquer medida efetiva no combate à especulação cambial, ao contrário caminha
na direção oposta entregando o patrimônio nacional do país nas mãos dos grandes
trustes imperialistas. A gerência do PT, pela sua própria natureza de classe, é
incapaz de interromper a desnacionalização de nossa economia e adotar medidas
elementares em defesa de nossa moeda, como o controle cambial e de remessa de
lucros, assim como a estatização do sistema (cassino) financeiro nacional,
medidas formuladas não por um governo “socialista”, mas pelo impotente
nacionalismo burguês do presidente deposto João Goulart. Como a própria
historia já demonstrou, somente a classe operária (suas organizações políticas
revolucionárias) será capaz de realizar as tarefas democrático-burguesas
pendentes, em plena etapa de decadência capitalista mundial.