Marchas nacionais de protesto no Brasil: Que rumo seguir?
Hoje, dia 19 de junho,
novas marchas de protesto tomaram conta do Brasil. Em Fortaleza, onde ocorre o
jogo da seleção brasileira na Copa das Confederações, cerca de 30 mil pessoas
se concentraram nas proximidades da Arena Castelão, sendo reprimidas pela PM na
barreira formada a mando da FIFA para impedir o tráfego de pedestres próximo ao
Estádio, deixando vários feridos. Em São Paulo, o MTST convocou um bloqueio na
via Anchieta que liga o ABC à capital e protestou em vários pontos da cidade,
sob o lema “A periferia vai ocupar São Paulo”. Em Belo Horizonte, manifestantes
hoje chegaram a empunhar faixas “Não precisamos de partidos políticos” e
“Democracia direta”, claramente influenciados pelos “Indignados” espanhóis. Já
ontem, também em São Paulo, “estranhos” manifestantes enfrentaram a Guarda
Municipal e só não ocuparam a prefeitura porque foram impedidos por setores do
próprio movimento que marcharam para a Av. Paulista, em uma clara divisão do
protesto. O que se viu neste verdadeiro mar de manifestações populares é que
elas carecem de um programa de luta e de uma direção classista, já que há muito
a questão da redução da tarifa foi superada. Em meio a este “vazio”, por uma
clara influência da mídia “murdochiana” e em particular de sua ala mais
belicosa, o PIG, que agora apoia abertamente o movimento “pacífico”, criticando
apenas os “radicais” ou “vândalos”, ganhou corpo demandas próprias da direita,
como a “prisão dos mensaleiros do PT”, “contra a PEC 37” e até mesmo o “Fora
Dilma”, com o evidente objetivo de fortalecer a candidatura do PSDB em 2014. A
LBI sempre denunciou que a frente popular com sua política de ataque e
desmoralização do movimento de massas estava abrindo caminho para as forças
fascistizantes em nosso país, fomos a primeira corrente política a alertar
sobre o risco das manifestações serem manipuladas pelo PIG para objetivos
reacionários. A despolitização que campeia os protestos, formada eminentemente
por setores de uma juventude sem referência socialista, uma direção combativa e
carente de um programa classista, acaba levando a atos de hostilização dos
partidos de “esquerda” como vimos ontem na Praça da Sé. Ao contrário, os
manifestantes passaram a enaltecer os símbolos nacionais, como o Hino e a
bandeira brasileira, o que vem agradando em muitos os grupos neofacistas.
Frente a estas contradições flagrantes, é necessário intervir ativamente nos
protestos que tem capitalizado o ódio popular, combatendo abertamente o curso
direitista que elas vêm tomando e levantando uma plataforma comunista. Por isto,
a questão colocada é: que rumo vão seguir as manifestações de tomam conta do
país?
Nas plenárias que
organizam as atividades, como a que ocorreu em Fortaleza para preparar a
manifestação contra os gastos da Copa do Mundo/Confederações pelo governo Dilma
que está se realizando hoje na capital cearense, o que se viu foi uma enorme
pressão dos setores autonomistas, anarquistas e “sem partido” para que não se
levassem bandeiras vermelhas e contra os partidos. Na verdade, estas forças
políticas são a caixa de ressonância da própria direita e dos grupos
neonazistas que aos poucos vão se organizando nas atividades de protesto,
sempre se valendo dos valores “patrióticos” e do “combate a corrupção”. Como os
protestos são reprimidos pela PM sempre com a justificativa de isolar os
“radicais”, esses mesmos setores defendem a “não violência”, em uma armadilha
voltada justamente para impor ao movimento a sua domesticação e o pacifismo
pequeno-burguês, aplaudida pela mídia venal tendo a frente à Rede Globo. Definitivamente,
a “esquerda” que se reivindica revolucionária e comunista vem perdendo terreno
nos protestos na medida em que eles ganharam quase o caráter de uma “jornada
cívica”, fato que ganha ainda mais relevo em plena Copa das Confederações. Como
o MPL, que iniciou o movimento em São Paulo, já fazia ampla campanha pelo
apartidarismo, esta cantilena reacionária foi reforçada nos últimos dias por
transformar as manifestações em protesto também contra os “partidos em geral”,
mas com o PIG tratando de jogar a conta principalmente no PT, no governo Dilma e
no esquema do “mensalão”. Em um quadro deste se reforça tremendamente o
recrudescimento do regime político e começa a ganhar corpo entre a burguesia à
necessidade de se criar uma força política organizada de direita com um claro
corte neonazista, para capitalizar o descontentamento com o governo do PT. Não por
acaso, vários policiais infiltrados estão trabalhando em conjunto com as
milícias anticomunistas nos atos, sempre com o discurso de “isolar os
extremistas”... de esquerda.
Produto do profundo
retrocesso ideológico que domina o planeta desde a queda da URSS e do Muro de
Berlim, aprofundado pelo apoio de grande parte da “esquerda” a mal chamada
“revolução árabe” que intensificou o domínio do imperialismo no Oriente Médio,
estamos vendo agora em nosso país a expressão concreta da situação mundial
maturada nos últimos 25 anos. Acrescenta-se a isso que o PT foi completamente
cooptado pelo regime político democratizante e hoje gerencia os negócios da
burguesia no Planalto. Como a classe dominante já trabalha para encerrar o
ciclo petista em 2018, os setores mais reacionários, como o PIG, querem
antecipar esta data, aproveitando-se das manifestações que carecem da presença
do proletariado e está permeada pela profunda confusão política. Não por acaso, o
ministro da Secretária-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho,
homem ligado diretamente a Lula, declarou nesta quarta-feira que o país
“contempla um pouco atônito” as manifestações que se alastraram pelas cidades
nos últimos dias: “Nosso país contempla um pouco atônito ainda toda essa
emergência, todo esse surgimento de um amplo processo de massas, de
mobilização, de movimentação, de reivindicação, de luta, em relação ao qual nós
temos que ter a generosidade de saber ouvir”. Mais do que “ouvir”, Lula, Dilma
e Gilberto Carvalho estão preocupados com o efeito dos protestos na eleição que
se aproxima. Por sua vez, o “OPUS DEI” Alckmin parece ser o homem escalado para
em futuro próximo (2018) centralizar as iniciativas da direita no campo
eleitoral.
De nossa parte, os
marxistas leninistas chamamos os ativistas classistas do MPL e os lutadores do
movimento estudantil e popular, como o MTST, a debater amplamente com os
participantes das manifestações qual o rumo político seguir e que próximos
passos tomar, combatendo abertamente os grupos neofacistas e a influência do
nacionalismo de direita nos protestos. A volta do discurso contra os “vândalos
e baderneiros” após o protesto em frente à prefeitura de São Paulo, buscando
claramente dividir os manifestantes e o chamando da grande mídia (Estadão e
Folha) a agir com o rigor contra os “extremistas” demonstram que o PIG vem
fazendo uma verdadeira caçada política e midiática contra os setores que não se
colocam sob o seu controle nos protestos. Esta cantilena no fundo está voltada
contra a “esquerda revolucionária”, única que pode dotar os protestos de uma
perspectiva classista, socialista, anticapitalista e de denúncia do conjunto do
regime político. Levantemos nossas bandeiras vermelhas e façamos o combate
político desde a trincheira viva da luta, contra os setores que dentro das
passeatas querem fazer de nosso combate um circo “patriótico” a serviço de seus
interesses reacionários. No marco desta luta, desmascaremos os revisionistas do
trotskismo, como o PSTU-LIT, que na Líbia se uniram ao neomonarquistas
“rebeldes” do rei Idris (utilizando a bandeira da monarquia), irmãos gêmeos
daqueles que no Brasil, usando a bandeira verde e amarela, querem proibir que a
foice e o martelo, símbolo do comunismo, esteja presente nos atos de protestos.