quinta-feira, 6 de junho de 2013


Odiado governo Erdogan, aliado incondicional da “revolução Síria”, é alvo de autênticas manifestações populares na Turquia

Uma onda de protestos populares tomou conta da Turquia a partir da tentativa de destruição da praça pública Taksim em Istambul pelo governo islamita do odiado primeiro-ministro Erdogan. Tudo ocorreu ao melhor estilo de uma faísca que faz incendiar uma fogueira. Logo, os impressionistas de sempre no interior da “esquerda” trataram de afirmar que Istambul estava sendo palco de um novo capítulo da chamada “Primavera Árabe”, como o surgimento de uma nova “Praça Tahrir”. Mas, ao que tudo indica, a transição controlada que o imperialismo ianque operou com sucesso no Egito e na Tunísia não parece estar nos planos da Casa Branca quando se refere à Turquia. País onde estão instaladas várias bases da OTAN e que serve como cabeça de ponte das potências capitalistas no suporte aos mercenários “rebeldes” na Síria, não há qualquer sinal que os EUA e a União Europeia desejem tirar de cena o seu importante aliado do governo turco. Ao contrário, a ordem é reprimir violentamente o movimento de massas para garantir a estabilidade do regime com o apoio dos amos ocidentais, justamente para a Turquia continuar dando suporte à agressão da OTAN a países como a Síria e o Irã. A fantasiosa “Primavera Árabe” não chegou à Turquia porque Ancara já se coloca plenamente como marionete do imperialismo, o que reforça a necessidade dos marxistas revolucionários apoiarem as manifestações contra o reacionário Erdogan, ainda que sejam limitadas, justamente porque elas estão ocorrendo por fora dos planos do imperialismo para a região e servem para questionar o apoio da Turquia às provocações contra a Síria, já que grande parte da população é contrária ao papel vergonhoso que assumiu o governo pró-imperialista do país no Oriente Médio e Norte da África.


Erdogan, homem forte do Partido islamita Justiça e Desenvolvimento (AKP), é odiado por um amplo setor das massas populares além, obviamente dos kurdos, perseguidos duramente em seu governo. Com os protestos, reprimidos pela polícia com canhões de água, spray de pimenta e gás lacrimogêneo, que já provocou quatro mortes, o principal partido da oposição burguesa, o Partido Republicano do Povo (CHP) tenta capitalizar o descontentamento para um voto de desconfiança no parlamento em nome da formação de um “governo de salvação nacional”, mas de fato visa desgastar o governo do AKP para as eleições parlamentares de... 2015. Até o momento, porém, tal proposta não avançou justamente porque o imperialismo ianque e a EU mantém apoio integral a Erdogan, cujo partido controla a prefeitura de Istambul. Ele é aliado das petromonarquias do Conselho de Cooperação do Golfo que atuaram na Líbia e agora na Síria para derrubar governos com fricções com a Casa Branca. Além disso, expressa um conservadorismo religioso aliado a um “neoliberalismo” linha dura que será reforçado com a mudança do sistema parlamentarista para presidencialista prevista para ser alterado após um referendo em 2015. Por isto, o silêncio dos “defensores da democracia” tipo Obama, Cameron, Hollande... que tanto ameaçam o Irã!

As contradições nacionais têm se acirrado nos últimos anos. A questão curda tem sido a mais candente para a estabilidade do regime político. Por esse motivo, o governo de Erdogan desenvolveu um grande esforço para tentar viabilizar um “acordo de paz” depois de anos de perseguição ao PKK (Partido Trabalhista do Curdistão). Os curdos representam 20% da população total da Turquia e habitam a estratégica província de Anatólia Oriental, estratégica para viabilizar os acordos comerciais com a União Europeia. A preocupação da Turquia também é com os curdos na Síria. Nos últimos meses, Assad praticamente liberou parcela dos território sírio para eles terem uma autonomia na região fronteira com a Turquia. Nesse contexto, os curdos na Síria incrementaram os contatos com o Curdistão iraquiano e com o PKK, brutalmente reprimido pelo governo de Erdogan. O PKK está organizando bases militantes no norte da Síria, o que impede as ações de sabotagem dos mercenários nas fronteiras com a Síria e também o uso do território turco nesta região do país para o lançamento de drones (aviões não-tripulados) com o objetivo de bombardear as principais cidades sírias como já vem ocorrendo. O centro da preocupação turca é que os curdos se fortaleçam ainda mais na região, porque o estabelecimento do governo autônomo curdo no norte do Iraque e a posse de cidades iraquianas de Mosul e Kirkut, após a ocupação, importantes centros de reserva e extração petrolífera, deu grande impulso a um sentimento popular que exige a constituição de um Estado independente. O ascenso do movimento nacionalista curdo também desestabiliza internamente a própria Turquia, já que em seu território existem mais de 12 milhões de curdos vivendo sob um férreo regime de opressão nacional, cuja expressão mais conhecida é a prisão do líder curdo nacionalista do PKK, Abdullah Ocalan. A consequente defesa do direito à autodeterminação curda através de um programa marxista revolucionário passa, neste momento, pelo chamado à unidade revolucionária dos trabalhadores turcos, iraquianos, iranianos, sírios e curdos, conformando milícias multiétnicas para derrotar o imperialismo e seu agente Erdogan.

Por outro lado, grande parte da população turca se opõe à política pró-imperialista de ataque ao Irã e a Síria. Como a Turquia é um estado-membro da OTAN, a aliança imperialista pode agredir a Síria sem a necessidade de aprovação formal de outras instâncias internacionais como a ONU se o país alegar que foi atacado. Na verdade, a Turquia já invadiu várias vezes o espaço aéreo sírio e montou uma verdadeira base militar do ELS na fronteira com o país, onde os mercenários recebem armas e treinamento. Não esqueçamos que em 2003 a mesma Turquia pediu assistência da OTAN para garantir sua segurança diante da iminência da guerra do Iraque. Não por acaso, o primeiro-ministro turco anunciou durante uma reunião especial da OTAN no final do ano passado que se as tropas sírias se aproximarem da fronteira com a Turquia serão considerados alvos militares, o que significa uma verdadeira declaração de guerra contra a Síria.

Para que a luta contra o governo Erdogan avance é preciso que ela reivindique não só a queda do seu governo, mas que tenha uma perspectiva mais ampla, o que passa pela reivindicação de que o país não preste nenhum apoio aos mercenários “rebeldes” na Síria. É sintomático neste sentido, que a LIT, que alega ter um grupo simpatizante no país (RED), na sua declaração política não dedique uma linha sequer sobre a questão síria e muito menos reivindique o fim das bases militares da OTAN no país, pois sabe claramente que um dos pontos de descontentamento popular com o governo do AKP é seu apoio a agressão das potências capitalistas ao país vizinho. Não se pode lutar consequentemente contra o governo Erdogan apoiando sua política se prestar suporte logístico e militar, via OTAN, aos “rebeldes” na Síria, como faz a LIT! Segundo comunicado o Partido Comunista da Turquia (TKP) “Enquanto as massas entoam a palavra de ordem ‘Renuncia, governo!’, as negociações limitadas ao futuro do parque Taksim-Gezi perdem o sentido. O governo finge não entender que a velha correlação foi abalada em seus fundamentos e não pode ser restaurada. Todos sabem que o movimento popular não é produto da sensibilidade quanto às árvores do parque Gezi. A ira das pessoas vem dos projetos de transformação urbana, do terror do mercado, das intervenções abertas e diretas em estilos de vida diferentes, do americanismo e da subordinação aos EUA, das políticas reacionárias, da inimizade dirigida contra o povo sírio” (Declaração do Comitê Central do Partido Comunista da Turquia, 04/06). Como se vê, a questão síria polariza as mobilizações na Turquia, o que coloca na ordem do dia a luta pelo fim das bases da OTAN do país, exigindo sua saída da aliança militar imperialista como um passo concreto para derrotar Erdogan, que não passa de uma marionete das potências capitalistas a frente do governo da Turquia!