segunda-feira, 17 de junho de 2013


Regime dos Aiatolás elege o “reformista” Hassan Rohani na tentativa de celebrar um acordo vergonhoso com o imperialismo ianque

As eleições no Irã, ocorridas no último dia 14 de junho, deram a “inesperada” vitória em primeiro turno ao “reformista” Hassan Rohani. O presidente eleito alcançou 50,7% dos votos em uma clara escolha orquestrada pelo regime dos Aiatolás do candidato mais simpático às potências capitalistas no espectro político-eleitoral delimitado previamente pelo Conselho dos Guardiões, órgão comandado pelo líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, que em maio vetou vários candidatos “liberais” e “conservadores”. Rohani obteve 18,6 milhões de votos (50,68%) ficando à frente do prefeito de Teerã, Mohammad Bagher Ghalibaf, que recebeu 6,07 milhões e do chefe dos negociadores na questão nuclear, Said Jalili, com 3,17 milhões, ambos mais próximos das posições da chamada “linha dura”. A vitória “surpresa” já em primeiro turno de um clérigo moderado no espectro xiita foi montada justamente para evitar a polarização interna no país persa. Não por acaso, logo nesta segunda-feira, 17/06, ocorreu a convocação de Mahmud Ahmadinejad, ainda presidente do país, pela Justiça Penal por acusações de corrupção. Tais fatos demonstram claramente que a burguesia iraniana deseja criar as condições para negociar um acordo com o imperialismo ianque que impeça a agressão militar ao país persa em troca de amplas concessões no terreno de sua soberania nacional, isolando os setores mais resistentes a tal giro servil. A base para alcançar este novo objetivo é o recuo no programa nuclear iraniano, uma exigência da Casa Branca para começar as negociações. Rohani, logo após a divulgação do resultado, se encontrou com Khamenei, que lhe desejou sucesso, chancelando oficialmente o nome já previamente “eleito” pela cúpula do regime islâmico. Na reunião, Khamenei indicou publicamente a Rohani “as diretrizes necessárias para seu futuro trabalho”, orientação que ficou mais que evidente no primeiro pronunciamento do presidente eleito, declarando ser a favor de “mais transparência” no programa nuclear do seu país, o que em outras palavras significa ceder à chantagem do Pentágono, via Agência Internacional de Energia Atômica, para “monitorar” o Irã, impedindo de fato o seu desenvolvimento nacional tanto no campo militar, científico e econômico.


A Casa Branca lançou um comunicado no domingo, 16, em que declara sua disposição de "colaborar" com o novo presidente. Obama afirmou que a eleição de Rohani “é um sinal potencialmente esperançoso se ele fizer jus às suas promessas de campanha de ser aberto sobre o programa nuclear. Para se chegar a esse ponto, precisamos que ele cumpra com as obrigações do programa nuclear, e se ele fizer isso, haverá grande oportunidade para o Irã e as pessoas desse país ter o tipo de futuro que seria justificável quererem” (G1, 16/06). Mais claro impossível!!! Obama deseja que o presidente eleito comande, sob as ordens de Khamenei, um recuo do armamento e da defesa nuclear iraniano, o que significa deixar o caminho livre para o enclave nazi-sionista de Israel não ter um contraponto militar na região e para novas agressões contras países não-alinhados automaticamente com os EUA, como é o caso da Síria! Rohani esteve à frente das negociações nucleares entre 2003 e 2005 sob a presidência do também “reformista” Mohammad Khatami. Na época, o Irã aceitou a suspensão do enriquecimento de urânio após negociações com a troika europeia (França, Grã-Bretanha e Alemanha). No bojo das saudações a eleição de Rohani, o chefe de gabinete da Casa Branca, Denis McDonough, declarou ainda que “Se o eleito cumprir com a obrigação de agir claramente em relação ao ilícito programa nuclear vai ter nos EUA um parceiro. Se ele estiver interessado, como disse em sua campanha, em consertar as relações do Irã com o resto do mundo, está aí a oportunidade de fazê-lo” (Idem). Rohani, que tomará posse em 3 de agosto, se reuniu também com o presidente do Parlamento, Ali Larijani, adversário político de Ahmadinejad, para discutir a formação de seu gabinete, que deve ser aprovado pelos deputados em um claro sinal ao imperialismo que mudará a política externa do país, como deseja os EUA. Ahmadinejad, que havia cumprido dois mandados e adotava até então uma conduta de relativo enfrentamento com o imperialismo, tanto que o país é alvo de várias sanções internacionais deliberadas pela ONU, foi claramente alijado do processo eleitoral. Sua aproximação com o chavismo e a centro-esquerda burguesa latino-americana contribuiu para ser rifado, além da contestação pública de algumas decisões de Khamenei. Seu candidato, Esfandiar Rahim Mashaei, foi vetado pelo Conselho dos Guardiões.

Rohani é um clérigo “moderado” e respaldado pelos “reformistas", especialmente pelos ex-presidentes Akbar Hashemi Rafsanjani e Mohamed Khatami. O apoio maciço a Rouhani veio após Mohammad Reza Aref, o único reformista ligado ao pró-imperialista “Movimento Verde” entre os candidatos à corrida presidencial, ter anunciado que estava desistindo de sua candidatura seguindo um conselho do ex-presidente Khatami. Por causa disso, Rouhani ganhou guarida de dois ex-presidentes - Khatami e Rafsanjani, este último também desqualificado das eleições pelo Conselho de Guardiães. Ambos haviam perdido poder durante a gestão Ahmadinejad porque justamente defendiam uma aproximação com o imperialismo ianque. Agora há um giro do Regime dos Aiatolás no sentido contrário. O decidido respaldo das potências capitalistas aos “rebeldes” mercenários pró-OTAN na Síria e os evidentes preparativos para a agressão imperialista em um futuro próximo para derrubar o governo da oligarquia Assad, que tem o Irã como aliado, certamente pesaram nesta decisão, já que a covarde burguesia persa, com esta nova orientação, parece que deseja rifar Bashar Al Assad para preservar o regime islâmico xiita, ainda que formalmente Rohani tenha declarado que Assad deve permanecer até as eleições de 2014. Lembremos que o objetivo central do Pentágono ao desestabilizar a Síria era neutralizar o regime para debilitar o Hezbollah e seguir sem maiores obstáculos em seu plano de atacar Irã. Ao que tudo indica, “preventivamente”, os Aiatolás agiram logo em busca de um acordo vergonhoso com a Casa Branca e para isso “elegeram” Hassan Rohani, que já foi negociador nuclear iraniano e, como representante dos chamados “reformistas”, tem bastante trânsito junto a União Europeia, Israel e EUA.

Também pesou nesta decisão as sanções internacionais impostas ao Irã. As medidas provocaram um aumento do desemprego, fizeram a inflação saltar para mais de 30% e causaram a desvalorização do rial em quase 70%. O presidente eleito prega uma política mais flexível em relação às grandes potências com o objetivo de amenizar as sanções e pediu para que os países ocidentais “reconheçam os direitos da República Islâmica nas negociações sobre energia nuclear. O princípio é tornar mais ativas as negociações com o grupo 5+1 (Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia, China e Alemanha). A questão nuclear só pode ser resolvida por meio de negociações. As ameaças e sanções não são eficazes” (Actualidad, 16/06). Com relação à Síria ele defendeu a aproximação com as petromonarquias aliadas dos EUA e que compõe o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG): “A prioridade do meu governo é fortalecer as relações com os países vizinhos. Os países do Golfo Pérsico e árabes têm uma importância estratégica e são nossos irmãos... A crise síria deve ser resolvida pelo povo sírio. Somos contra o terrorismo, a guerra civil e a intervenção estrangeira. O governo deve ser respeitado por outros países, até as próximas eleições (presidenciais de 2014) e, em seguida, é o povo quem decidirá” (G1. 16/06). Como se vê, Rohani prepara o terreno para se afastar do regime sírio e negociar com o imperialismo os termos para a não agressão.

A vitória de Hassan Rohani marca o retorno dos chamados “moderados” e “reformistas” ao governo persa, após um longo hiato iniciado depois das manifestações contra a reeleição de Ahmadinejad em junho de 2009, chamadas a época de “Revolução Verde”. Hassan Rohani apoiou os manifestantes que protestaram contra o resultado das eleições e criticou o governo pela repressão aos protestos. O imperialismo também deu respaldo às manifestações contra Ahmadinejad, acusando-o de fraudar as eleições. Na época, não podendo derrubar o governo iraniano, Washington buscou desestabilizá-lo, apoiando-se em um amplo setor da burguesia iraniana, alinhada em torno da candidatura de Mir Hossein Moussavi, uma caixa de ressonância das pressões imperialistas, turbinada após a campanha midiática contra os resultados eleitorais. Desde então a Casa Branca impulsionou oposição interna contra Ahmadinejad. No lastro da vitória alcançada com a fantasiosa “revolução árabe”, que promoveu com sucesso a transição conservadora no Egito e na Tunísia além de derrubar o regime nacionalista líbio e está impondo a desestabilização do governo da oligarquia Assad na Síria, Obama veio trabalhando e pressionando para construir no Irã um cenário de fortalecimento da oposição “reformista” que hoje volta novamente ao governo, ainda que em sua versão mais domesticada pelo aiatolá Ali Khamenei. O Regime dos Aiatolás entendeu a mensagem da Casa Branca e agiu “elegendo” Hassan Rohani como parte de uma tentativa de um acordo prévio com o imperialismo. Lembremos que a oposição interna a Ahmadinejad sempre foi relativamente forte e durante todo o último período da onda de “protestos contra as ditaduras sanguinárias” no Oriente Médio não entrou em cena. Esse retardamento não foi ocasional, o imperialismo e seus agentes internos esperaram primeiro enfraquecer ao máximo o regime da oligarquia Assad e ter mais controle da Líbia através de sua balcanização para desferir uma ofensiva militar direta contra o Irã, que pode ser temporariamente retardada com a “eleição” de Rohani, ao custo de uma capitulação vergonhosa do país persa.

Longe de expressar uma unidade do regime político islâmico, o resultado das eleições com a artificial vitória de Rohani no primeiro turno, demonstra a fissura crescente dentro da cúpula teocrática do Regime dos Aiatolás, corroída pela sedução imperialista, que teve em Obama um poderoso operador. Tanto a situação “linha dura” xiita quanto a oposição “reformista” buscaram uma reaproximação estratégica com o imperialismo ianque. Moussavi – ex-premiê durante a Guerra entre o Irã e o Iraque – foi apoiado nas eleições de 2009 pelo imperialismo ianque, europeu, pelo sionismo e pelos dois ex-presidentes do país que antecederam Ahrmadinejad. Um dos quais, o arquicorrupto empresário e aiatolá Hashemi Rafsanjani, quem detém nada menos que o posto de presidente da Assembleia dos Especialistas, órgão composto por 86 aiatolás com poderes para destituir tanto o líder Supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, quanto o Conselho de Discernimento (um colegiado não eleito, que resolve conflitos legislativos entre o parlamento iraniano, o Majlis, e o Conselho dos Guardiães). Hassan Rohani é relativamente próximo a Rafsanjani, representante da parcela da burguesia que se ressente por ser mantida afastada da globalização econômica pelos setores conhecidos como linha-dura do regime islâmico. Agora este setor até então alijado vai ganhar relativa força no novo governo, apesar da tutela de Khamenei.

Os revolucionários não são partidários do Regime dos Aitolás no Irã, embora reconheçamos os avanços anti-imperialistas conquistados pelas massas em 1979. Sempre alertamos que a burguesia iraniana, diante de seu isolamento internacional e das sanções impostas pela ONU, estava buscando um acordo estratégico com o imperialismo ianque e europeu. A escolha de Hassan Rohani reforça tremendamente este rumo de aberta concessão política, econômica e militar. Ainda assim, não está descartado um incremento da pressão do imperialismo ianque e de Israel sobre o país, exigindo sua rendição completa, perspectiva que sofre grande resistência interna, particularmente pelas massas iranianas que viram a barbárie imposta à Líbia e a destruição em curso na Síria. Justamente por isto, o governo de Hassan Rohani não será tranquilo, já que uma capitulação vergonhosa pode levar a enfrentamentos entre as diversas alas do regime. A atual perseguição a Ahrmadinejad é uma expressão imediata desse temor, já que o futuro ex-presidente poderia encabeçar a resistência a guinada pró-imperialista em curso. Frente a esta situação ainda incerta, defendemos integralmente o direito deste país oprimido a possuir todo arsenal militar atômico ao seu alcance. É absolutamente sórdido e cretino que o imperialismo ianque e seus satélites pretendam proibir o acesso à tecnologia atômica aos países que não se alinham com a Casa Branca, quando esta arma “até os dentes” Estados gendarmes como Israel com farta munição atômica. Como marxistas não dissimulamos em um só momento o caráter burguês e obscurantista dos regimes nacionalistas do Irã ou do próprio Hezbollah. Mas estes fatos em nada mudam a posição comunista diante de uma possível agressão imperialista contra uma nação oprimida.

Não nos omitiremos de estabelecer uma unidade de ação com o Regime dos Aiatolás, diante de uma agressão imperialista, ainda que este esteja claramente dando sinais que irá capitular. Por esta mesma razão, chamamos o proletariado persa a construir uma alternativa revolucionária dos trabalhadores que possa combater consequentemente o imperialismo e derrotar todas as alas do regime, denunciando desde já o papel servil do futuro governo de Hassan Rohani. É bom lembrar que os marxistas já estabeleceram uma frente única com os aiatolás na derrubada do Xá Reza Pahlevi e seu regime pró-imperialista, apesar de conhecermos o caráter de classe da direção religiosa muçulmana. A perspectiva de um governo republicano em 2016 de corte abertamente fascista comandado possivelmente por um representante do Tea Party ou alguém muito próximo de suas posições arquireacionárias pode abrir caminho, mesmo com todas as concessões feitas pelo regime dos Aiatolás e o futuro governo de Hassan Rohani, para uma vingança contra a humilhação sofrida pelos EUA na desastrosa tentativa de intervenção militar no Irã, ainda sob o governo democrata de Jimmy Carter. Não temos nenhuma dúvida que o império pretende somar para suas empresas transnacionais as reservas de petróleo do Irã às da Líbia e do Iraque para, desta forma, deter a hegemonia absoluta do controle energético do planeta. Somente idiotas úteis à Casa Branca podem ignorar estes fatos e declarar “solidariedade” às ações militares da OTAN contra os “bárbaros ditadores” que se recusam a aceitar a “democracia made in USA”. Os marxistas revolucionários defendem integralmente o direito do Irã a possuir todo arsenal militar atômico ao seu alcance para se defender do imperialismo e do sionismo. Porém compreendem que a tarefa de defender o Irã inclusive contra sua burguesia nativa está, antes de mais nada, nas mãos do proletariado mundial e das massas árabes. Somente elas podem lutar consequentemente pela derrota do imperialismo em todo o Oriente Médio, abrindo caminho para sepultar a exploração capitalista interna que condena a miséria os explorados da região.