Greves nacionais dos
bancários e correios foram covardemente traídas pelas direções burocráticas da
Contraf e Fentect
Nesta primeira quinzena
de outubro as greves nacionais dos bancários e trabalhadores dos correios (ECT)
foram encerradas. As entidades nacionais cutistas que representam as duas
categorias, CONTRAF e FENTECT, implodiram as fortes paralisações em curso para
aceitarem o arrocho salarial imposto pelo Palácio do Planalto, patrão na ECT e
nos bancos públicos (BB, CEF, BNB). O índice de reajuste para as duas
categorias é o mesmo, miseráveis 8%. Nos bancários, depois de 23 dias de greve,
a CONTRAF-CUT, dirigida pela Articulação e PCdoB, aceitou a proposta dos
banqueiros quando claramente poderia arrancar bem mais se houvesse
prolongamento e radicalização da luta. No caso dos correios, a CTB-PCdoB abriu
caminho para a derrota sacramentada logo depois pela direção cutista, dividindo
a categoria e convocando uma greve rápida antecipada em São Paulo e Rio de Janeiro
para fechar um acordo rebaixado com o governo Dilma, manobra que contou com o
apoio do PSTU-Conlutas. No resto do país, a paralisação na ECT foi encerrada
neste dia 10 de outubro por ordem do TST, que decidiu via dissídio coletivo a
volta ao trabalho, imposição aceita pronta e passivamente pela FENTECT-CUT,
controlada por um condomínio político cutista que na campanha salarial deste
ano estava sob a direção do pretenso “radical” PCO. Apesar destas entidades
serem controladas por correntes políticas que defendem a CUT, mas que em tese
representam alas distintas da central “chapa branca”, tanto a sua “direita” e
como a sua “esquerda”, ambas promoveram greves “ordeiras e pacíficas” que
respeitaram as instituições do regime político burguês e acabaram por aceitar o
arrocho salarial imposto pelo governo Dilma!
Não custa reafirmar que
a CUT já se transformou, desde o primeiro mandato de Lula, em uma autarquia do
Ministério do Trabalho, integrada orgânica e materialmente ao governo da frente
popular. Incapaz de levar qualquer luta consequente contra a burguesia e o
patronato pela política de colaboração de classes que defende, a CUT não passa
hoje de um elemento de pressão no interior das disputas burguesas. Além de ser
sustentada pelas verbas do FAT e dos convênios governamentais, a CUT indica
seus “quadros” para assumirem postos-chaves no governo burguês da frente
popular, o mesmo que ataca os trabalhadores em greve. A esse arco cutista
comandado pela Articulação, se soma o liliputiano PCO. Sua conduta na greve dos
Correios comprovou que este partido revisionista do trotskismo vem
gradativamente integrando a grande família da “oposição de esquerda”, ainda que
nos sindicatos defenda a CUT, ou seja, esteja centralizado diretamente pela
central “chapa branca”. O respeito à decisão do TST impondo um reajuste
miserável é a face mais visível desta política, tanto que o PCO afirma
escandalosamente que o ato político realizado em Brasília no dia 08/10 em razão
do julgamento pelo TST do dissídio pedido pela empresa foi “vitorioso e
pressionou os Juízes e empresa” (site Causa Operária, 10/10), ao contrário de
chamar a desconhecer a decisão do TST e seguir na greve. Obviamente, o PCO
jogou a responsabilidade da derrota para o PCdoB, alegando que “Os Juízes não
aumentaram a proposta da empresa de 8%, graças, é claro, à traição dos
sindicalistas da Findect e dos traidores que ainda se encontram dentro da
Fentect” (Idem)!!! Para auxiliar neste jogo de cena, o PCO chegou a afirmar que
“Em São Paulo também foi registrado piquetes de trabalhadores que atropelaram a
direção pelega do Sintect-SP e aderiram ao movimento grevista junto com os
demais sindicatos da Fentect”, o que se demonstrou uma total falsidade, já que
o PCdoB impôs o fim da greve em São Paulo antes mesmo da paralisação nacional
deflagrada no dia 17/10. Lembremos que na década de 80, a própria CUT, antes de
se integrar diretamente a gestão do Estado burguês, chegou nas próprias
categorias dos correios e bancários a enfrentar o TST e manteve greves mesmo
estas sendo consideradas ilegais e a abusivas. Hoje, a chamada “esquerda
antigovernista” não ousa tal feito tamanha sua adaptação ao regime político da
democracia dos ricos. Copiando a Articulação, que nos bancários apresenta a
“conquista” dos miseráveis 8% como uma vitória, o PCO anuncia que “Os
trabalhadores dos Correios, sua greve nacional, sua mobilização e sua luta,
conquistaram mais uma vitória na guerra contra a privatização da ECT e a
retirada dos direitos da categoria. (Ibdem).
A derrota destas duas
importantes campanhas salariais ocorre após as jornadas de junho e em meio ao
processo de recrudescimento do regime contra a luta dos trabalhadores. Esta
realidade se vê mais claramente no Rio de Janeiro, com a perseguição aos Black
Blocs e o ataque à greve dos professores com a brutal ação repressiva da PM.
Atravessamos uma conjuntura extremamente difícil para os trabalhadores na
medida em que as “jornadas de junho” findaram-se sem abalar o regime político
burguês, o que acabou por não fortalecer as campanhas salariais que se
iniciaram no mês de setembro e acabaram derrotadas em outubro. As categorias em
luta neste segundo semestre tiveram suas campanhas salariais fragilizadas em um
cenário totalmente diferente do que previa PSTU-PSOL. A correlação de forças
entre as classes sociais continua exatamente a mesma, ou seja, o proletariado
em completa defensiva diante da ofensiva capitalista neoliberal como antes de
junho. Do ponto de vista do regime político vigente não ocorreu o menor abalo
em nenhuma das instituições burguesas, o governo petista já recuperou a
popularidade temporariamente perdida e a oposição burguesa conservadora em nada
avançou em seus planos reacionários de recuperar a presidência nas eleições de
2014, como vimos no fiasco das manifestações do 7 de setembro ou na aliança
para o abismo entre Eduardo Campos e Marina Silva, ambos agora agrupados no
PSB. Na verdade, a ausência de uma direção classista nas “jornadas de junho”
abriu espaço até mesmo para a direita reacionária tentar “pautar” as
mobilizações, o que levou o movimento para um impasse político e arrefecimento
da luta de massas, como vemos ao fim das campanhas salariais dos bancários e
correios, cuja marca é o descrédito em função da derrota imposta pela patronal
e o governo do PT.
Dilma manteve o arrocho
dos salários nas categorias em que o Planalto é patrão, como na ECT, BB e CEF,
além de seguir firme em sua sanha privatista ao entregar o Campo de Libra para
as transnacionais, cujo leilão está marcado para o próximo dia 21 de outubro.
Para manter essa ofensiva contra os trabalhadores, a “gerentona” petista tem o
apoio decisivo da burocracia encastelada nos sindicatos, uma casta privilegiada
que age como uma verdadeira máfia sabotadora das lutas e que impede sua
radicalização. É esse fenômeno político que estabelece um eficaz controle da
situação política e social, sendo justamente o “plus” que o governo da frente
popular apresenta diante da direita demo-tucana, que não por acaso será
brutalmente castigada nas eleições do próximo ano. O retrocesso na consciência
de classe dos trabalhadores, que mesmo decepcionados com o PT votam
“criticamente” na frente popular e mantém a CUT nos sindicatos, é a base dessa
acomodação que se aprofunda na medida em que a “esquerda” não governista
nega-se a enfrentar decididamente a burocracia “chapa branca” e a denunciar o
governo Dilma como um inimigo de classe.
O fim prematuro da greve
dos bancários e correios pelas mãos da burocracia sindical de “direita” e de
“esquerda” reafirma a necessidade da vanguarda classista construir nos locais
de trabalho e nos sindicatos frações revolucionárias que atuem para desbancar
os neopelegos da frente popular e seus satélites que posam de “radicais”, mas
na hora “H” atuam como verdadeiros cordeirinhos, dóceis a seus ditames. A
ruptura com esse quadro político e ideológico somente será possível com a
evolução da consciência de classe dos trabalhadores, abstraindo as lições
políticas e não “simplesmente” sindicais das traições impostas. Para tanto, é
necessário intervir nos combates diretos dos explorados, fazendo com os
lutadores classistas esta experiência no curso da luta de classes para forjar
na própria trincheira, ainda que de forma embrionária, uma alternativa
revolucionária de direção para o movimento de massas que agrupe o melhor dos
militantes e ativistas em torno da tarefa da construção de um partido
marxista-leninista em nosso país!