segunda-feira, 28 de outubro de 2013


Uma polêmica com o PT e o PSTU:
Com quem a esquerda deve solidarizar-se, com o coronel da PM agredido ou com o militante “Black Bloc” espancado e preso?

O protesto ocorrido em São Paulo na noite desta sexta-feira, 25 de outubro, seria “apenas” mais uma manifestação duramente reprimida pela PM na capital paulista com dezenas de feridos e presos não fosse por um “detalhe” que logo ganhou as páginas de todos os jornais e as manchetes da TV pelo país: o coronel da PM Reynaldo Rossi, comandante do policiamento da área centro de São Paulo, foi agredido com pedaços de madeira por alguns manifestantes enquanto os seus comandados com bombas de gás lacrimogêneo, cassetetes e balas de borrachas atacavam duramente o conjunto dos manifestantes na proximidade do terminal de ônibus Parque Dom Pedro II, no centro da cidade. Segundo ele “Eu me dirigia para o Parque D. Pedro para tomar pé dos primeiros conflitos que foram gerados aí pelos criminosos. Nos deparamos com autores de danos de novos pontos de ônibus. Tentamos prendê-los. No momento que nós passávamos a conduzi-los, fomos surpreendidos por um grupo de vândalos, criminosos, que passaram a agredir a mim e a meu policial” (G1, 26/10). Como revelam as palavras do próprio coronel da PM, uma parte dos manifestantes nada mais fez que reagir em autodefesa contra a agressão policial a seus companheiros, tentando lhes libertar das garras da brutal repressão estatal. Na luta contra a PM assassina nada mais justo e legítimo que as massas atacarem o inimigo para defender-se! Assim foi feito, até que Rossi foi socorrido por um PM infiltrado com arma em punho! O coronel, apresentado pela mídia venal como vítima é, nada mais nada menos, que um dos principais responsáveis pela repressão sobre as manifestações populares no centro de São Paulo, em bárbaras e violentas ações que deixam diariamente centenas de ativistas presos, com pernas, braços e costelas quebradas, alguns até cegos. Ele “apenas” sentiu (em grau muito menor) os efeitos do que sua tropa assassina faz todos os dias contra os lutadores socais, para não falar dos milhares de trabalhadores que são mortos por sua PM mafiosa nas favelas e bairros da periferia. Não para a nossa surpresa, o oficial da PM recebeu o apoio da presidente Dilma que declarou: “Presto minha solidariedade ao coronel da PM Reynaldo Simões Rossi, agredido covardemente ontem por um grupo de black blocs em SP” (G1, 26/10), o que confirma mais uma vez que o PT e seu governo burguês não passam de servis instrumentos a serviço da classe dominante contra os explorados e suas lutas. O PSTU, nas palavras de seu presidente nacional, José Maria de Almeida, poucos dias antes do ocorrido já havia declarado que “É fato que a ação de grupos isolados, como os ‘Black Bloc’s’, jogam água no moinho da repressão. Acabam servindo para justificarem, aos olhos da opinião pública, a ofensiva policial contra as manifestações e a criminalização do movimento, jogando contra a massificação dos protestos” (site PSTU, 18/10), em uma política canalha que acaba por justificar a repressão sobre os “Black Bloc”. Diante de posicionamentos escandalosos como o da presidente Dilma (PT) e do principal dirigente do PSTU, abrimos junto à vanguarda militante uma polêmica crucial frente às lutas em curso: com quem a esquerda deve solidarizar-se, com o coronel da PM agredido ou com o militante “Black Bloc” espancado e preso?

Desde a LBI nos colocamos incondicionalmente a lado do companheiro “Black Bloc” que após a agressão ao coronel da PM foi espancado e preso. Declaramos publicamente que sua reação assim como dos demais “mascarados” foi justa e legítima na luta por libertar os lutadores que estavam sendo presos quando atacaram o coronel Rossi. Exigimos a liberdade imediata de todos os ativistas presos pela PM! O trabalhador comerciário Paulo Henrique Santiago dos Santos, de 22 anos, suspeito segundo a polícia de participar da agressão ao coronel, foi indiciado por tentativa de homicídio e associação criminosa. No total, 92 pessoas foram detidas na região central de São Paulo, sendo que 69 delas foram encaminhadas ao 1º DP, seis para o 2º DP, 10 para o 8º DP, e outras sete para o 78º DP. Sete pessoas foram indiciadas por dano qualificado, formação de quadrilha e arremesso ou porte de material explosivo no 8º Distrito Policial, no Belém. Junto com eles, foram apreendidos outros três menores, que foram levados à Fundação Casa. Longe de acusar estes lutadores como “grupos isolados que são funcionais a repressão policial” como faz o PSTU ou de declarar que “Agredir e depredar não fazem parte da liberdade de manifestação. São barbáries antidemocráticas. Violência deve ser coibida” (G1, 26/10) como vociferou Dilma (PT), os marxistas leninistas defendem como legítimo o direito de autodefesa dos trabalhadores em suas manifestações justamente para responder a violência policial.

No PT, não somente Dilma saiu a condenar os “Black Bloc”. A Esquerda Marxista (EM), tida como representante da ala mais à esquerda do partido, também se somou a este coro reacionário, apesar de tentar dar uma justificativa “teórica” a sua posição sob a cortina de fumaça de se colocar contra a repressão estatal em geral: “A Esquerda Marxista sempre rechaçou, sem hesitar, as prisões e a repressão brutal da polícia nos atos contra os Black Bloc’s e outros manifestantes. Contudo, a repressão policial é dada, a polícia obviamente é inimiga dos trabalhadores. A questão é: o que conseguimos, quais nossos avanços quando a enfrentamos a repressão em QUALQUER situação e de modo desorganizado? Para onde levam as quebradeiras? A LUGAR NENHUM E NÃO AVANÇAMOS EM NADA! Sempre deixamos claro que DISCORDAMOS dos métodos da horizontalidade, da ação direta e quebra-quebras... Uma manifestação é um ato coletivo e ações de terrorismo individual, como os ‘quebra-quebras’ tendem somente a desestabilizá-la e fazê-las perder seu caráter de transformação social”. (Luta pelo Transporte, relatos e reflexões, 26/10) Tanto a EM como o PSTU insistem em falsificar a realidade para, no fundo, condenar a radicalização dos protestos e impedir a unidade de ação dos trabalhadores com os “Black Bloc”, anarquistas e outras agrupamentos classistas. Desde a LBI nos colocamos publicamente em defesa dos “Black Blocs” diante dos virulentos ataques direitistas do PSTU e EM, que de forma abominável os acusam de “provocar a violência policial” quando, na verdade, os “Black Bloc” são parte do movimento de rebeldia da juventude. Como leninistas dizemos claramente que tais “críticas”, próprias do mais arraigado pacifismo pequeno-burguês, não fazem parte da tradição do marxismo revolucionário. Como genuínos trotskistas, mesmo se delimitando com o limitado programa anarquista dos “Black Blocs”, jamais condenamos suas ações quando voltadas a atacar o Estado burguês, pelo contrário, na medida de nossas forças militantes sempre estivemos em “frente única” com estes companheiros para responder aos ataques policiais e questionar a ordem capitalista no vivo campo de batalha. Nossa crítica leninista a este setor anarquista sempre partirá do mesmo campo da batalha e nunca para justificar a repressão estatal, como se a PM necessitasse dos desvios “ultra-esquerdistas” dos “Black Blocs” para atacar o conjunto do movimento de massas. O leninismo delimitou-se historicamente do anarquismo sempre pela esquerda e nunca denunciando os métodos da conspiração e clandestinidade na organização de ações, próprios do Partido Bolchevique. Também não passa de uma grosseira falsificação do trotskismo a tese empunhada pela EM e o PSTU (na verdade um misto de espontaneísmo sindical e oportunismo) de que somente as “massas” poderiam radicalizar ações contra o Estado burguês, negando a possibilidade de destacamentos avançados da classe preparem ações como sabotagem e ataques militares contra “símbolos” do capitalismo. Trotsky comentando a conduta terrorista de um jovem anarquista, Grynszpan, que atacou uma embaixada nazista, afirmou o seguinte: “Todas nossas emoções, nossa simpatia estão com os vingadores sacrificados, ainda que eles são incapazes de descobrir o caminho correto.” (Em defesa de Grynszpan, L. Trotsky).

O mais vergonhoso na conduta do PT, seja da presidente Dilma seja da sua ala “esquerda” (EM) assim como do PSTU, é que sua posição acaba por reforçar a criminalização do conjunto do movimento de massa e principalmente de seus setores mais radicalizados que não se subordinam à institucionalidade burguesa e o respeito à sacrossanta propriedade privada, jogando água no moinho da repressão estatal, para perseguir os “Black Bloc”. Segundo a nota da PM “Desde o início da Manifestação foi percebida a presença de integrantes “Black Blocs” que gritavam palavras de ordem contra a PM, bem como tentavam provocar os PMs a alguma reação violenta para fins midiáticos. No Parque Dom Pedro os ‘Black Blocs’ passaram das palavras à ação e iniciaram um confronto com os policiais militares, neste episódio eles agrediram, de forma covarde, o Cel PM Reynaldo Simões Rossi, comandante do policiamento da área centro e seu auxiliar, roubando a pistola calibre .40 e o rádio comunicador do Oficial”. Da mesma forma age a mídia venal afirmando que “O tumulto começou no início da noite, após uma passeata pacífica convocada pelo Movimento Passe Livre (MPL) que percorreu ruas da região central de São Paulo. Mascarados danificaram 15 caixas eletrônicos, colocaram fogo em um ônibus e destruíram os vidros de outro. Vários coletivos foram pichados e grades e bilheterias, quebradas. O terminal precisou ser fechado por causa da confusão”. Há nitidamente uma convergência de posições entre o diz a PM e a mídia com o que expressam o PT e o PSTU, todos acusando os “Black Bloc” como responsáveis pelos seus atos “isolados” ou de “vandalismo” pela repressão estatal! As acusações caluniosas do PT e do PSTU contra os “Black Blocs” ajudam na perseguição política e repressiva aos companheiros simplesmente porque parte de uma crítica própria do pacifismo pequeno-burguês que sempre busca isolar as ações mais radicalizadas das massas e de seus setores de vanguarda, condenando-as como “métodos que não constroem o movimento” simplesmente porque não estão ancoradas nos acordos podres que a Conlutas faz com a CUT e as demais centrais “chapa branca” para impor marchas “ordeiras e pacíficas” e atos de lobby ao parlamento burguês. É a conduta desta “esquerda” que ajuda a repressão policial e não o contrário! Sua “delimitação” não tem nada de progressista porque acaba jogando os trabalhadores e a população em geral contra os setores mais radicalizados que se lançam contra o aparato de repressão e atacam as instituições burguesas assim como os símbolos do grande capital!Somente os canalhas completamente adaptados à democracia burguesa, poderiam construir o amálgama de acusar combativos manifestantes de “provocadores da repressão policial” quando todo militante honesto sabe que é a polícia que infiltra P2 para tentar “legitimar” suas barbaridades, valendo-se da ajuda da grande mídia para criminalizar os “radicais”. Não por acaso, estas mesmas correntes do PT (EM, O Trabalho) e o PSTU defendem o apoio do movimento de massas às reacionárias greves apresentando os policiais como “trabalhadores da segurança pública”. Só seitas completamente deformadas podem ignorar o ABC do marxismo e conceber agentes da repressão como meros “trabalhadores”. A LBI caracteriza os policiais como membros de um “destacamento especial de homens armados” do Estado burguês para garantir a ordem capitalista e a propriedade privada. Por isso, apoiar as greves reacionárias das polícias significa apoiar suas reivindicações que exigem melhores condições de trabalho (armamento, equipamentos, salários, etc.) para que possam exercer sua função “especial” de assassinar e torturar a população pobre, além de reprimir as mobilizações das massas exploradas. Ao contrário de subordinar as organizações de massas à reacionária greve policial, como fazem os reformistas de todos os matizes, é necessário impulsionar nas lutas em curso a formação de comitês de autodefesa e milícias operárias, educando o proletariado e a juventude para a necessidade da destruição do aparato repressivo do Estado burguês, única via que poderia inclusive forçar uma ruptura revolucionária na hierarquia militar.

Por esta razão, a LBI é a favor de construir nas manifestações milícias de autodefesa e não nos opomos a que no curso da luta se ocupem prédios públicos e, muito menos, condenamos que se destruam bancos, estas são ações que expressam o ódio de classe contra o capitalismo. A grande batalha a ser travada é prover essas ações no marco da adoção de um programa revolucionário, mas este debate programático em nada significa condenar as ações dos “Black Blocs”. Se houve algumas ações incorretas, como atacar lotações ainda ocupadas por trabalhadores, estas estão subordinadas à dinâmica geral do movimento de massas, correta no combate frontal aos “monumentos” da classe dominante. Somente revisionistas do pior naipe podem afirmar que “A repressão é acionada em função das ações isoladas e radicalizadas”... de um setor que está do nosso lado na barricada da luta de classes! A escandalosa posição do PSTU e da EM não representa a posição clássica do trotskismo, tanto que o velho bolchevique novamente no livro “Aonde Vai a França?” escreve: “Necessitamos de autodefesa de massas e não de milícia, nos dizem frequentemente. Mas, o que é ‘autodefesa de massas’? Sem organização de combate? Sem quadros especializados? Sem armas? Transferir para as massas não-organizadas, não-equipadas, não-preparadas, entregues a si mesmas, a defesa contra o fascismo, seria representar um papel incomparavelmente mais baixo que o de Pôncio Pilatos. Negar o papel da milícia é negar o papel da vanguarda. Nesse caso, para que um partido? Sem o apoio das massas, a milícia não é nada. Mas, sem destacamentos de combate organizados, as massas mais heroicas serão esmagadas, em debandada, pelos grupos fascistas. Opor a milícia à autodefesa é absurdo. A milícia é o órgão da autodefesa”. Na verdade, a política do PSTU e da EM tem com base a negação de construir de um partido conspirativo, que organize as massas para a tomada do poder pela via da violência revolucionária, daí preventivamente isolar e atacar dentro do movimento qualquer setor que questione na prática sua estratégia pacifista pequeno-burguesa completamente adaptada ao regime burguês democratizante! O que chama mais atenção é que enquanto condenam os “Black Blocs” no Brasil por quebrarem algumas vidraças de bancos, concessionárias de carros e lojas de luxo, quando se trata de apoiar os “rebeldes” mercenários na Síria ou anteriormente na Líbia chegam até mesmo a pedir, como o PSTU, que o imperialismo lhes forneça armas e apoiam inclusive os bombardeios da OTAN a população civil! Em resumo, quando se trata de uma luta anticapitalista nada de “radicalismo”, porém quando apoiam abertamente forças reacionárias no Oriente Médio estes mesmos revisionistas!

O episódio envolvendo a legítima agressão de “Black Blocs” ao chacal coronel Rossi vai ser cinicamente usada como pretexto para ampliar a pressão da classe dominante pela militarização do regime político. Tanto que o oficial da PM agredido, já em pleno Jornal Nacional neste sábado (26/10), vociferou: “Estou me sentindo como todos os policiais que se feriram até hoje, sentimento de dever cumprido, mas com uma clareza muito grande que só uma mudança legislativa e um conjunto de ações que transcendam as ações de polícia vão poder resolver esse problema. Não é o homem que está sendo atingido ali, é o estado de direito. É o estado que está ali”. A tarefa colocada neste momento, onde a burguesia abertamente desencadeia uma nova onda repressiva contra o movimento de massas, é redobrar as mobilizações e cobrir de solidariedade todos os segmentos que estão na luta, independente de nossas diferenças programáticas. Desde a presidente Dilma e o governo petista do Rio Grande, passando pelos tucanos em São Paulo até chegar à máfia do PMDB no Rio de Janeiro, há um acordo geral de criminalizar os militantes de esquerda e ativistas sociais como “formadores de quadrilha”. É necessário que o movimento discuta sua própria forma de autodefesa contra a PM, os nazifascistas e infiltrados ao invés de fugir deste debate para depois facilmente “carimbar” os Black Blocs de “vanguardismo inconsequente”. Como vemos, o debate sobre o “Black Blocs” é bem mais profundo, ele está ligado à estratégia do movimento de massas para derrotar a burguesia e a necessidade da construção de um partido leninista conspirativo com influência de massas para tomar o poder e impor a ditadura do proletariado contra a antiga classe dominante. Enquanto o PT, inclusive sua ala “esquerda” e o PSTU alimentam o pacifismo pequeno-burguês e condenam os “Black Bloc”, a esquerda classista e os genuínos trotskistas devem apoiar todas as ações que ajudam a avançar na consciência de classe e na denúncia da democracia burguesa, travando um debate desde a trincheira de luta acerca de quais são os melhores caminhos a seguir no combate de classe pela liquidação do modo de produção capitalista. Por isto nos colocamos incondicionalmente ao lado do militante “Black Bloc” espancado e preso por agredir o coronel da PM e exigimos sua liberdade imediata, assim como de todos os ativistas detidos!