O PCB completa 97 anos nesse 25 de março, um partido
totalmente diferente do ponto de vista político e programático da organização
comunista que teve sua gênese revolucionária em 1922 sob a influência direta da
vitória da Revolução de Outubro 1917, quando os nove delegados fundaram o
partido em ruptura com o anarquismo. O antigo “Partidão” não passa hoje no
Brasil de uma sublegenda do PSOL e seu programa socialdemocrata. O mais
interessante é que nas atuais comemorações o atual PCB reivindica a figura de
Luis Carlos Prestes. Desta forma encobre cinicamente e de forma oportunista o
fato de até mesmo ele ter rompido publicamente com o PCB em março de 1980
através da famosa "Carta aos Comunistas". Nesta época, Prestes
denunciou a política de claudicação do partido ao governo militar comandado
pelo general Figueiredo e a orientação de não resistência à ditadura na década
de 70, rompendo junto com os mais importantes quadros do partido, como Gregório
Bezerra e reduzindo o PCB a um "partidinho". Também não esqueçamos
que Ivan Pinheiro, até recentemente Secretário-Geral do PCB
"reconstruído" e agora substituído por Edmilson Costa, foi o braço direito
da troika Giocondo Dias, Salomão Malina e Hércules Correa quando estes
combatiam Prestes no final dos anos 70, no momento em que a direção nacional
voltou ao Brasil devido à aprovação da Lei da Anistia. Precisamente em março de
1980, Prestes em minoria na direção se afastou do PCB, arrastando consigo a
maioria do partido, processo que tempos depois veio a se desmoralizar pela
diletante negativa de Prestes em construir uma nova organização política. Em
maio do mesmo ano, no auge das divergências, a direção nacional elegeu Giocondo
Dias secretário-geral, depois de declarar vago o cargo. Com a legalização do
PCB em 1985, Giocondo exerceu sua função até o VIII Congresso, em 1987, quando
foi substituído, por motivos de saúde, por Salomão Malina. Durante todo esse
período, ao seu lado estavam Hércules Correa, "teórico" do peleguismo
sindical no Brasil e Ivan Pinheiro, então presidente do Sindicato dos Bancários
do Rio de Janeiro, representando as posições mais à direita no movimento
operário brasileiro em uma época de clara radicalização das lutas, com a
vitória das oposições sindicais cutistas. Estes senhores combateram a fundação
da CUT e do PT, atacando-os violentamente como instrumentos da ditadura
militar, "divisionistas da esquerda". Na verdade, quem fazia o jogo
da oposição burguesa à ditadura militar contra o novo sindicalismo e o PT, que
na época agrupava o grosso da vanguarda classista e se colocava como
alternativa política ao PMDB, era o stalinismo agrupado no PCdoB como o PCB e
juntos na arquipelega CGT. Não por acaso, apoiaram o golpe do Colégio Eleitoral
com a indicação de Tancredo Neves e, logo depois, com a ascensão da "Nova
República", viraram "fiscais do Sarney" e de seu Plano Cruzado.
Durante todo esse período, Ivan Pinheiro foi entusiasta defensor dessa política
que resultou no lançamento da candidatura de Roberto Freire em 1989 para
combater o PT nas eleições presidenciais. Foi essa trajetória tão direitista
que levou em 1992 a maioria do PCB a se converter no núcleo fundador do PPS sob
a direção de Salomão Malina e Freire. Só aí Ivan Pinheiro rompeu com esse grupo
revisionista que tinha ido longe demais em seus ataques aos princípios do
marxismo em função da onda contrarrevolucionária mundial desencadeada com o fim
da URSS que converteu vários partidos comunistas do planeta em partidos
sociais-democratas. A origem desse processo é que a orientação levada a cabo
pela atual direção do PCB após a ruptura com Salomão Malina, Sérgio Arouca e
Roberto Freire em 1992 foi a do reformismo burguês de "esquerda".
Logo em 1994, o PCB apoiou a candidatura petista atacando o "sectarismo e
o esquerdismo" daqueles que denunciavam o caráter burguês da postulação de
Lula, orientação que permaneceu até 2002, mesmo com o PT tendo como candidato a
vice-presidente o megaempresário José Alencar, sendo porta-voz de um programa
abertamente pró-imperialista expresso na "Carta aos Brasileiros"
(leia-se aos banqueiros). Após ter rompido com o governo Lula em 2005, devido à
"crise do mensalão", quando o PCB avaliava que a gestão da frente
popular iria naufragar, o partido passou a patrocinar o eleitoralismo
pequeno-burguês em torno da "frente de esquerda" com o PSTU e PSOL.
Tanto que apoiou Heloísa Helena em 2006, paladina de um programa de reformas no
regime político democratizante bastardo de corte nacional-desenvolvimentista,
mesclado com traços reacionários de defesa ferrenha da Constituição. Tanto Lula
como Dilma tiveram o apoio do PCB nos segundos turnos das eleições
presidenciais de 2006 e 2010 ao lado das demais legendas que representam o
serviçal espectro stalinista em nosso país (PCdoB, PCR, PCML-Inverta),
recorrendo ao surrado e cômodo pretexto de "derrotar a direita
demo-tucana". Em 2018 o PCB embarcou em uma aliança com o PSOL em apoio à
candidatura social democrata Boulus, com atual Secretário-Geral do PCB,
Edmilson Costa, fazendo do partido uma sub-legenda do PSOL. O PCB ainda flerta
com traços político-ideológicos baseados no marxismo-leninismo, porém sua
demagogia classista e "comunista" está a serviço de encobrir na
prática sua política reformista burguesa e de colaboração de classes, que se
expressam na participação até pouco tempo em administrações petistas e nas
alianças com o PSOL, que não tem um programa de ruptura revolucionária com a
ordem burguesa ao contrário é refém do circo eleitoral fraudado da democracia
dos ricos. No momento em que o PCB completa 97 anos compreendemos que a
denúncia da trajetória de colaboração de classes do PCB ao longo de sua
história é parte da tarefa programática da construção de um genuíno partido
revolucionário no Brasil, combate que a LBI reivindica inclusive como parte da
luta que levou Mário Pedrosa e posteriormente Sachetta no próprio PCB,
respectivamente nos anos 30 e 40, quando foram expulsos do partido, já
stalinizado desde seu II Congresso em meados dos anos 20. Lançamos inclusive
uma brochura quando dos 90 anos do PCB analisando esse processo político e
histórico. É tarefa elementar dos verdadeiros marxistas leninistas o vigoroso
debate político e programático com o objetivo de forjar as bases teóricas para
que a vanguarda política possa avançar na construção de um verdadeiro partido
comunista no Brasil, honrando os esforços que fizeram os nove delegados que em
25 de março de 1922 fundaram o PCB em ruptura com o anarquismo.