O DIA INTERNACIONAL DA MULHER (1921) V. I. Lênin
O resultado principal, fundamental, obtido pelo bolchevismo
e pela Revolução de Outubro é haver atraído para a política justamente aqueles
que eram mais oprimidos sob o capitalismo. Eram camadas que os capitalistas
escravizavam, enganavam, roubavam, tanto no regime monárquico como nas
repúblicas democrático-burguesas. Esse jugo, esse engodo, essa pilhagem do
trabalho do povo, por parte dos capitalistas, era inevitável enquanto existisse
a propriedade privada da terra, das fábricas, das usinas. A essência do
bolchevismo, do poder soviético, consiste em que ao desmascarar a mentira e a
hipocrisia do democratismo burguês, ao abolir a propriedade privada da terra,
das fábricas e das usinas, concentra todo o poder do Estado nas mãos das massas
trabalhadoras e exploradas. Essas massas tomam a política em suas mãos, isto é,
a tarefa de construir uma nova sociedade. É uma tarefa difícil: as massas
estavam escravizadas, sufocadas pelo capitalismo, mas não existe nem pode
existir outro caminho para sair da escravidão do salário, da escravidão
capitalista. Não é possível, porém, atrair as massas para a política se não se
atraem as mulheres. No regime capitalista, de fato, a metade do gênero humano,
constituída pelas mulheres, sofre dupla opressão. A operária e a camponesa são
oprimidas pelo capital e, além do mais, mesmo nas repúblicas burguesas mais
democráticas, persiste, em primeiro lugar, a desigualdade jurídica, porque a
lei não lhes concede igualdade com os homens e, em segundo lugar — e essa é a
questão essencial — elas sofrem a "escravidão doméstica", são "escravas
domésticas", sufocadas pelo trabalho mais mesquinho, mais humilhante, mais
duro, mais degradante, o trabalho da cozinha e da casa, que as relega ao âmbito
estreito da própria casa e da própria família. A revolução bolchevista
soviética, arranca as raízes da opressão e da desigualdade das mulheres muito
mais profundamente do que o tenha ousado, até hoje, qualquer partido e qualquer
revolução. Entre nós, na Rússia soviética, não restou nenhum vestígio da desigualdade
jurídica entre homens e mulheres. O poder soviético aboliu por completo a
desigualdade particularmente ignóbil, abjeta e hipócrita que caracterizava o
direito matrimonial e de família, a desigualdade em relação aos filhos. Tudo
isso é apenas o primeiro passo para a emancipação da mulher. Todavia, nenhuma
das repúblicas burguesas, nem mesmo a mais democrática ousou dar esse primeiro
passo. Não o ousou, tímida, detendo-se diante da "sagrada propriedade privada".
O segundo passo, o mais importante, consistiu na abolição da propriedade privada da terra, das fábricas e das usinas. Essa abolição, e somente ela, abre caminho para a emancipação completa e efetiva da mulher, para sua libertação da "escravidão doméstica", porque assinala a passagem da mesquinha e fechada economia doméstica para a grande economia socializada. Essa passagem é difícil, pois é preciso transformar uma "ordem de coisas" das mais enraizadas, tradicionais, enrijecidas e inveteradas (na verdade trata-se de infâmias e barbarias e não de uma "ordem de coisas"). Mas a passagem foi iniciada; pusemo-nos ao trabalho e já marchamos por um novo caminho. Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, as operárias de todos os países do mundo, reunidas em inúmeros comícios, enviarão sua saudação à Rússia soviética, que iniciou uma obra extremamente difícil, árdua, mas grandiosa, de porte mundial, precursora de uma verdadeira emancipação da mulher. Erguerão apelos corajosos para que não se deixem atemorizar pela reação encarniçada e às vezes feroz da burguesia. Quanto mais um país burguês é "livre" ou "democrático", tanto mais o bando dos capitalistas se desespera e enfurece contra a revolução operária; basta tomar como exemplo a república democrática dos Estados Unidos. Mas a massa dos operários já despertou. As massas adormecidas, ou semi-adormecidas, inertes, da América, da Europa e da atrasada Ásia despertaram definitivamente com a guerra imperialista.
Em todas as partes do mundo, rompeu-se o gelo.
A libertação dos povos do jugo imperialista, a libertação
dos operários e das operárias do jugo do capital realiza progressos
irresistíveis. Essa obra foi empreendida por dezenas e centenas de milhões de
operários e operárias, de camponeses e camponesas. Por isso, essa obra, a
libertação do trabalho do jugo do capital, triunfará no mundo inteiro.