O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, revelou neste
sábado (09.03) sua agenda para as negociações com a oposição burguesa.
Inicialmente ele descarta uma antecipação das eleições e ofereceu a libertação
dos presos durante protestos orquestrados pela direita contra o governo da FSLN, no momento em que o "diálogo" vive um impasse devido à retirada dos bispos da reacionária Igreja Católica. Ortega
divulgou suas propostas para a negociação com a golpista Aliança Cívica pela
Justiça e Democracia (ACJD). Os anúncios foram feitos após oito dias de reuniões.
Em comunicado, o governo apresentou “propostas de reformas que aprimorem
processos eleitorais livres, justos e transparentes recomendados pela
Organização de Estados Americanos (OEA)”. Em uma tentativa desesperada de
salvar o “processo de negociação”, o governo recorreu hoje à OEA, segundo um
comunicado conjunto entregue à imprensa. O órgão anunciou que, a pedido do
governo, enviará nesta segunda-feira, 11.03, o representante Luis Ángel Rosadilla
para analisar, juntamente com os participantes das negociações, uma eventual
participação da OEA no processo. Por sua vez, a Conferência Episcopal da
Nicarágua decidiu que bispos não participarão da mesa do Diálogo
nacional. Em resumo, enquanto o imperialismo
ianque organiza novas provocações o governo Ortega procura o “diálogo” com a OEA,
trata-se de uma prova da completa impotência política da gestão burguesa da FSLN,
alimentando a reação da extrema-direita! Não nutrimos a menor simpatia política
pelo atual governo burguês da FSLN, que "entregou e enterrou" a
grande maioria das conquistas da grande revolução armada que derrubou o ditador
Somoza em 1979. Desgraçadamente Ortega seguiu os conselhos
contrarrevolucionários do Castrismo e negou-se a "transformar a Nicarágua
em uma nova Cuba". De lá pra cá, a FSLN converteu-se em uma organização
pequeno burguesa, alinhada ao "regime da Democracia dos Ricos", e
compondo seu governo de "União Nacional" com setores capitalistas
nativos. Porém uma questão é estabelecer a oposição da classe operária ao
Sandinismo, outra completamente distinta é lutar contra o governo Ortega na
mesma trincheira da reação local e do imperialismo ianque, como faz vergonhosamente a LIT e sua pequena seção no país, que afirma assim como faz na Venezuela, que o governo Ortega é uma ditadura assassina que deve ser derrubada imediatamente, chamando inclusive a unidade de ação com a direita! O grupo Resistência (PSOL) segue na Nicarágua os passos vergonhosos do Morenismo. Como Lenin nos ensinou "o pior inimigo
dos povos é o imperialismo", com Ortega, Maduro ou Assad nos
entrincheiramos para derrotá-lo, porém com nossa própria política e os métodos
de combate revolucionário da classe operária mundial!
LIT na Nicarágua: De mãos dadas com o imperialismo! |
Lembremos que a grave crise desatada na Nicarágua desde 2018, teve como pretexto uma malfadada reforma da previdência social, editada pelo governo Sandinista nos moldes impostos pelo FMI. Os Marxistas sabemos que a profunda degradação política dos Sandinistas teve como "inspiração" os governos do PT, do qual foram diretamente aconselhados (inclusive com assessoria econômica) em mais de uma década de gestão estatal. Se é plena verdade que Daniel Ortega hoje não já não tem o menor traço do antigo guerrilheiro socialista, podemos afirmar o mesmo do "sindicalista combativo" Lula, ambas lideranças políticas corrompidas ideologicamente pelo poder do capital financeiro em suas "gerências" do Estado Burguês. Porém da mesma forma que a reação não poderia tolerar mais de uma década de gestões da Frente Popular no Brasil, com sua política de "compensação social" e conciliação de classes, bastou eclodir com força a crise econômica para que o imperialismo "pautasse" a derrocada do governo petista, impulsionando as "Jornadas de Junho" em 2013. A Nicarágua, sob o governo neoliberal de "centro-esquerda" de Daniel Ortega, vem sendo alvo das provocações imperialistas, no ano passado atravessou sua "Jornada de Abril", com o pretexto de combater mais um "ajuste" monetarista da FSLN, setores reacionários da classe média e juventude de direita (uma espécie de MBL brasileiro) saíram violentamente às ruas para exigir a sumária deposição dos antigos guerrilheiros, atualmente convertidos ao "Consenso de Washington". O mais "peculiar" desta conjuntura política nicaraguense é que os setores organizados da classe trabalhadora, que ainda seguem a disciplina da FSLN, embora não apoiassem a desastrada reforma da previdência, não se mobilizaram contra o governo do casal Ortega, para obviamente não se confundirem com setores nacionais reacionários, historicamente ligados à Casa Branca. Os EUA querem ver fora do governo da Nicarágua, o mais rápido possível, a direção da FSLN. Os motivos são claros, Ortega tenta estabelecer um novo eixo econômico de seu país com a China e Venezuela, naturalmente em uma perspectiva capitalista de desenvolvimento, como tentou no Brasil os governos petistas com os BRIC's.
O governo Trump não pode admitir esta "via de
competição" no próprio "quintal" do império ianque, por isso
impulsiona uma vigorosa campanha logística para derrubar o governo da FSLN, que
ameaça se manter no poder central por um longo período histórico. O Sandinista Ortega, uma espécie de
"Chavez que já foi Fidel", apesar de sua "dura" política
econômica monetarista que não pretende quebrar o pacto capitalista celebrado
com a velha burguesia somozista, sofre uma oposição cerrada dos setores
patronais diretamente vinculados ao imperialismo ianque, inconformados com os
sucessivos êxitos eleitorais de Daniel e sua esposa. Os Marxistas Revolucionários que não nutrem a menor
simpatia política pelo "Neosandinismo", responsável por sufocar a
maioria das conquistas da gloriosa revolução nicaraguense de 1979, não podem
apoiar as iniciativas "populares" da reação burguesa impulsionadas
pelo Departamento de Estado dos EUA, por mais justas que sejam as críticas a
malfadada e neoliberal "reforma da previdência".