CFK obtém vitória aplastante e “un milagro para Altamira” são os signos das primárias argentinas
As eleições primárias argentinas foram realizadas no último domingo como uma “inovação” democrática do bastardo regime político para formalmente assemelhar-se ao sistema eleitoral do bipartidarismo ianque, mas seu real objetivo era processar uma primeira “depuração” partidária do tumultuado universo político nacional. Enfrentando uma oposição fracionada, mas que acumulou triunfos recentes como as eleições portenhas e as da província de Santa Fé (Rosário), a presidente Cristina Fernández Kirchner conseguiu obter uma vitoria aplastante, com mais de 50% dos votos, encerrando praticamente a “fatura” das eleições gerais “pra valer” que se realizarão em outubro próximo. O Justicialismo (Peronismo) saiu dividido com três candidaturas (CFK, Duhalde e Rodriguez Saa) e a oposição não-peronista somou os nomes de Alfonsin (UCR) e Binner (PS), mas a “robustez” do resultado colhido pelo oficialismo deverá dissuadir uma possível coalizão eleitoral mais ampla das várias “oposições”. A Argentina vive um relativo momento de aquecimento econômico, com a valorização de suas commodities no mercado mundial, potenciando politicamente as manobras demagógicas de Cristina que galvanizou um certo apoio popular nas fricções que provocou com as oligarquias reacionárias, como o grupo de comunicações “El Clarin”.
A esquerda revisionista agrupada na FIT (PO, PTS e IS), conseguiu superar o piso proscritivo de 1,5%, cerca de 400.000 votos obrigatórios para prosseguir até outubro, obtendo um pouco mais de 2% ou 500.000 votos. Sem sombra de dúvida, o resultado eleitoral da FIT, comemorado como uma verdadeira “revolução” pelos febris revisionistas, foi produto de uma política ultra-oportunista que chegou inclusive a pedir votos para Cristina e para os legisladores das listas do PO. O dirigente máximo do PO, Jorge Altamira que até há pouco tempo prognosticava a “falência completa do governo dos Kirchner”, não se encabulou nem um pouco de procurar a imprensa reacionária e implorar: “un milagro para Altamira” como eixo político da campanha da FIT. Foi assim que um dos principais periódicos argentinos, La Nacion, estampava em sua manchete no dia da eleição: “Altamira está logrando el milagro”. Oscilando entre o catastrofismo alucinado e o exitismo sem princípios, o PO comparou os 2% da FIT com uma “vitória mundial do socialismo”, revelando o grau de adaptação destes cretinos ao regime da democracia dos ricos, imaginem só se conseguissem eleger um parlamentar... iriam comparar o “feito” a tomada do poder pelos bolcheviques na Rússia!
O fato concreto é que a FIT foi beneficiada diretamente pela crise instalada no seio do “Proyecto Sur” às vésperas das primárias, que sequer conseguiu obter o piso necessário de 1,5%. Pino Solanas abandonou a própria sorte a candidata do Proyeto, liberando seus apoiadores para votar pelo “sojero” Binner do Partido Socialista. Desta forma a FIT debutou como única alternativa eleitoral de uma “esquerda” inofensiva e desprovida de um programa comunista, contando com a simpatia de forças direitistas antigoverno, como El Clarin e La Nacion.
A reeleição antecipada de CFK, demonstra uma certa estabilidade política do regime burguês argentino, apesar das caracterizações “diluvianas” de uma esquerda desorientada e aferrada a uma vaga no Parlamento, seu principal “sonho de consumo”. O proletariado deve manter sua completa independência de classe frente às manobras “nacionalistas” do Peronismo, agora representado por um governo de centro-esquerda, plenamente submisso ao capital financeiro. A construção de um genuíno partido revolucionário, superando programaticamente os cretinos revisionistas da FIT, unidos pelo pavor de ficarem à margem da institucionalidade burguesa, é a única garantia de existir uma oposição classista a terceira gerência kirchnerista do estado capitalista.