E o mundo não acabou... ou os revisionistas que enxergam a luta de classes pelo prisma das bolsas de valores
As duas semanas anteriores foram marcadas por fortes oscilações no mercado bursátil mundial, em particular a última segunda-feira foi a mais tensa desde o crash financeiro de setembro de 2008. O “nervosismo” dos mercados teve como start as negociações do governo dos EUA com os Republicanos acerca da elevação do teto da dívida pública, posteriormente fechado o acordo com o Tea Party pela via do congresso, a “agência de riscos” S&P rebaixou em um grau a nota da dívida norte-americana provocando um pânico dos indicadores nesta segunda-feira, dia 08/08, afinal de contas para os “supersticiosos” (um misto de tolos antimarxistas e pilantras yuppies) agosto é o mês do desgosto.
As profecias de cassandra logo tomaram conta dos meios de comunicação de massa, obviamente seguindo os interesses dos especuladores internacionais, que escudados na posição tomada pela S&P, tratavam de saquear nações inteiras, por sinal desses megassaqueadores de bilhões logicamente a mídia capitalista não se ocupa... já da juventude sublevada dos subúrbios de Londres... todo o rigor da lei e da ordem! Mas desgraçadamente a esquerda revisionista que também “acredita” nos contos de fadas, disseminados pelos rentistas de Wall Street, passou rapidamente a “comprar” a versão de um novo colapso iminente do capitalismo “selvagem”. Estes crédulos e tolos revisionistas, que afirmaram que os EUA estava à beira de dar um calote nos seus credores (SIC!), só conseguem guiar suas empíricas análises pelos índices das bolsas de valores e mais precisamente pelas abruptas quedas na cotação das ações, logo vaticinadas como prenúncios do grande “armagedon” dobrando a próxima esquina.
É a mais pura verdade que as forças produtivas da humanidade, sob a égide do modo de produção capitalista estão totalmente esgotadas, outra coisa completamente distinta é prognosticar o “apocalipse” capitalista a cada solavanco das bolsas de valores, que foram originariamente criadas como verdadeiros cassinos de apostas das ações dos grandes trustes industriais. O caráter da atual crise econômica é bem mais complexo do que a voracidade dos fluxos financeiros globalizados por uma divisão internacional do trabalho que serve aos interesses das potências imperialistas. O enorme déficit público dos principais estados nacionais (centrais e periféricos ) agravados pela mãos “generosas” dos governos burgueses no crash de 2008, por si só não são capazes de “decretar” o fim do capitalismo como tanto sonha a esquerda revisionista em uma confissão de sua própria impotência política. A atual crise estrutural do capitalismo concentra-se na forma de sua produção dos bens e não em sua circulação (consumo) ou até mesmo na especulação (capital fictício), como quer nos fazer crer esta mesma esquerda catastrofista.
Mas como o “dilúvio” não veio, as principais bolsas do mundo recuperaram suas perdas financeiras no curso da semana, contrariando a “aposta” de um crash pior do que o ocorrido em 2008, mostrando que o próprio regime capitalista tem muitos mecanismos para absorver os impactos provocados pelos agiotas instalados nos cassinos financeiros. A razão da rápida recuperação bursátil, após o acionamento de vários “circuit breakers”, reside no fato de que desta vez, ao contrário de 2008, a economia do mundo real não atravessa falências e uma recessão global generalizada, apesar de alguns “focos de quebradeira” estatal como a Grécia e Portugal. Os EUA nunca estiveram na iminência de não “honrar” sua dívida, apesar de uma certa estagnação crônica de sua economia industrial, superada pelos avanços tecnológicos asiáticos. Os chamados “BRICs” estão em pleno aquecimento econômico, beneficiados com a fadiga do “velho mundo”. A sanha dos vampiros em promover um ataque especulativo a China (sob a cumplicidade de Obama), com a operação fraudulenta do rebaixamento da nota dos títulos ianques não foi bem sucedida devido à intervenção enérgica dos burocratas “neocomunistas”, obrigando a Casa Branca a suspender a ação criminosa sob pena de respingar a “sujeira” em seus próprios frágeis índices econômicos.
A perspectiva de uma nova recessão econômica mundial, como consequência de uma nova onda larga de superprodução mercantil (muito mais além das bruscas oscilações bursáteis) desponta no horizonte de uma etapa marcada pela ofensiva imperialista em toda linha. A classe operária, particularmente sua vanguarda classista mais consciente, deve se preparar para uma conjuntura difícil de ataques estatais às suas conquistas históricas. As lutas sindicais meramente defensivas, desprovidas de um programa revolucionário estratégico, são incapazes de fazer frente à ofensiva do capital. Os profetas do apocalipse, incluindo aí a esquerda revisionista, só geram a confusão política nas fileiras do proletariado mundial, buscando substituir a ação revolucionária das massas por panacéias economicistas.