quinta-feira, 8 de agosto de 2013


30 de agosto: Uma continuidade da manobra distracionista da burocracia sindical

As centrais sindicais marcaram conjuntamente para 30 de agosto um novo “dia nacional de luta”. Como em 11 de julho, prometem “paralisações e atos” supostamente em defesa da “pauta dos trabalhadores”. Na verdade, o protesto marcado para o final do mês tem como objetivo demonstrar alguma iniciativa da burocracia sindical antes do início das campanhas salariais do segundo semestre, tentando forçosamente apresentá-lo como a continuidade das “jornadas de junho”. Nada mais falso! O 30/08 não passa de uma continuidade da manobra distracionista impulsionada pela CUT em conjunto com as outras centrais “chapa branca” (parte da FS, CTB, UGT, CGTB) em apoio ao governo Dilma, que teve após os protestos uma relativa queda em sua popularidade. Tanto que o MST propõe que esta data seja uma “paralisação pelas reformas” defendendo a realização de um plebiscito popular por Constituinte para Reforma Política. Desta forma, direções governistas ajudam o governo da frente popular a sair das cordas e a desgastar a oposição demo-tucana, abalada pelo escândalo do Metrô de São Paulo. A Conlutas e o PSTU, apesar de formalmente se oporem a esta pauta, foram completamente cooptados pela política das centrais governistas, já que se opõem à radicalização do movimento de massas, sempre optando por mobilizações ordeiras e pacíficas controladas pelo aparato sindical e que não fujam ao script de capitalizar no futuro a crise nas urnas. Frente a esta realidade é preciso intervir na base das categorias alertando acerca do caráter distracionista da atividade do dia 30, buscando que o movimento de massas atue com independência política e com um programa de luta combatendo tanto o governo do PT e a direita, como a orientação da chamada “oposição de esquerda”.


Sem dúvida que os protestos do mês de agosto não terão como centro o combate ao governo Dilma, ao patronato ou mesmo o caráter de indignação popular que marcaram as “jornadas de junho”, mas serão centralizadas pela burocracia sindical “chapa branca” no desgaste da oposição demo-tucana, mergulhada na crise do escândalo do Metrô, assim como no governo Cabral (PMDB-RJ) que vem sendo lentamente abandonado pelo PT. Estaremos presenciando uma recomposição política da frente popular que sem dúvida está em melhores condições para enfrentar seus adversários políticos de “direita” e de “esquerda”, já que o PSDB está nocauteado e o PSOL-PSTU amarrado pelo peso que os corruptos aparatos sindicais têm em suas direções. No máximo, as centrais “chapa branca” farão “lobby” para que o governo não aceite os “excessos” de seus aliados, como vimos no 6 de agosto, no chamado “dia de luta contra as terceirizações”. Nesta data, CUT e Conlutas estiveram juntas em todos o país encenando atos de sindicalistas liberados em frente às sedes das federações patronais, como a FIESP, para protestar contra o projeto de Sandro Mabel (PR-GO), membro da base parlamentar de apoio ao governo Dilma! O mesmo se repetirá no dia 30, já que não estão sendo tomadas medidas concretas (assembleias de base, plenárias intersindicais, mobilização nos locais de trabalho) para organizar de fato, pela base, uma paralisação nacional no final do mês que interrompa a produção das grandes fábricas e o funcionamento dos serviços essenciais (transporte, bancos, comércio). Não por acaso, a proposta do MST de uma “paralisação pelas reformas” ocorre porque sua direção avalia que “o governo Dilma assustado com as mobilizações dos jovens tentou tomar iniciativa política com a proposta de Constituinte, do plebiscito e dos 5 temas de mudança. Mas, em nossa opinião, vem sendo sistematicamente derrotada por sua própria base parlamentar. A agenda principal agora é lutar por reformas políticas para a partir da reforma política, abrir a possibilidade das reformas estruturais, como reforma agrária, prioridade dos recursos públicos para educação, saúde, transporte público...”. Em resumo, para o MST, devemos ajudar Dilma mudar os rumos de seu governo...

Entre junho e agosto, o governo Dilma conseguiu descarregar o ônus do desgaste político nas costas de Cabral e Alckmin, justamente porque tem o controle das grandes organizações de massa (CUT, UNE, MST) que se reuniram com Lula para socorrer a presidente. Hoje, claramente a pauta dos protestos se descola no sentido de tirar o governo do PT do foco dos protestos. Do ponto de vista das reivindicações dos trabalhadores, a burocracia sindical conseguiu “esfriar” o clima das mobilizações espontâneas e deve seguir seu calendário ordinário de campanhas salariais economicistas e corporativas, marcadas por greves pontuais ordeiras e pacíficas. A entrada organizada do movimento operário nas mobilizações poderia alterar o panorama político do país, mas as paralisações do dia 11/07 ficaram limitadas a setores parciais da produção e serviços essenciais, em função da orientação ultraburocrática das centrais sindicais governistas. A nova convocatória para um dia de “luta” no final de agosto vem seguindo o mesmo “script”, servindo de fato como uma alavanca para o início das campanhas salariais de setembro. A ausência de uma direção proletária e genuinamente de esquerda nas mobilizações contribuíram em muito para “diluir” a construção nacional de uma pauta progressista, livre da influência dos segmentos direitistas que introduziram bandeiras reacionárias nos protestos. Neste caso do mais puro “distracionismo” sindical os governistas contaram com o apoio incondicional do PSOL e PSTU, que logo trocaram o “Fora Dilma” mal ensaiado pelos revisionistas nos protestos, por um assento junto a “mesa de negociação” do governo federal, de olho é claro nas generosas verbas estatais para a CONLUTAS e INTERSINDICAL. Seguindo a trilha “do que deu certo”, as centrais sindicais chapa branca em parceria com o PSTU convocaram outro dia nacional de (pouca) luta, desta vez para uma sexta-feira no final do mês de agosto... Mas mesmo limitado às manobras da burocracia sindical, o movimento operário e camponês demonstrou disposição de sair às ruas e disputar a hegemonia das “jornadas” com a pequena burguesia reacionária e a esquerda reformista, para isto se faz necessária a construção de uma genuína alternativa comunista e revolucionária que aponte na direção na demolição completa do regime capitalista semicolonial e não em um simples “desgaste eleitoral” da gerência frente populista de plantão.

De forma hilária, para justamente encobrir seu papel de sabotador da radicalização dos protestos, o PSTU faz a análise de que “A CUT não pode evitar a greve do dia 11 de julho, nem que essa mobilização se chocasse com o governo Dilma. A ofensiva das massas vai destruindo a hegemonia de 30 anos do PT e da CUT entre os trabalhadores. Não está completa essa ruptura, mas se iniciou um processo histórico. Esse processo também está em curso na juventude trabalhadora. Não parece haver ainda uma ruptura majoritária com o governo Dilma nem com o PT na classe operária, mas, aparentemente, existe uma forte crise com o governo de um amplo setor. Uma alternativa também não se viabilizou ainda por causa do medo da direita. Pode ser que essa crise avance até uma ruptura, ou pode ser que haja uma recomposição do governo. Isso poderia ocorrer caso vingasse o projeto Lula em 2014. Caso acabe a hegemonia reformista do PT e da CUT, existe a possibilidade de massificação de alternativas, como a CSP-Conlutas e a ANEL” (site PSTU, 08/08). Ocorre justamente o contrário! A frente popular vem lentamente retomando sua iniciativa política com a ajuda providencial da CUT e lastreada pela divulgação de inflação em baixa e redução da cesta básica, a direita tradicional está se desgastando profundamente nas últimas semanas e o PIG claramente aposta na oposição conservadora “reciclada” (Marina Silva) para enfrentar o PT em 2014, apesar dela ter fragilíssima base partidária! Não estamos vendo nenhuma “ruptura à esquerda” com a frente popular, mas o crescimento de uma direita não tradicional anticomunista, como o Anonymous, que espera no 7 de setembro reverter o processo de recomposição da frente popular com grandes manifestações “cívicas” contra o governo Dilma apoiadas pela mídia “murdochiana”.

Frente a esta dramática realidade, onde pipocam pelo país ocupações de Câmara de Vereadores (como em Campinas, Recife, Rio de Janeiro, Niterói e Porto Alegre), lutas atomizadas com certo grau de radicalização, ou seja, começam molecularmente a ocorrer combates pela via da ação direta e por fora dos grandes aparatos sindicais, reafirmamos que continua na ordem do dia a necessidade da preparação de uma greve geral “pra valer”, organizada pela base em cada local de trabalho e paralisando a produção do país e os serviços essenciais inicialmente por 48 horas. Apesar do “dia nacional de luta” de 30/08 estar planejado para ser mais um capítulo do “lobby de massas” midiático carente de uma perspectiva classista de combate direto aos patrões, a direita e ao governo do PT, devemos aproveitar este momento para desmascarar o caráter distracionista desta atividade e propor a realização desde já de assembleias das campanhas salariais para a preparação de uma paralisação de verdade das categorias mais importantes do país (metalúrgicos, bancários, correios, rodoviários, metroviários, comerciários...). Ao sair à luta, os trabalhadores e, particularmente, sua vanguarda classista precisam tirar as lições programáticas da polarizada conjuntura política por que atravessamos, tendo como objetivo de construir uma alternativa socialista, operária e popular, tarefa que não passa pelo circo eleitoral de 2014, já que ele está voltado justamente a dar um fôlego ao apodrecido regime político burguês e suas instituições senis!