quinta-feira, 29 de agosto de 2013


Nova alta da Selic: Dilma pretende dar garantias ao mercado mirando 2014

Por unanimidade o COPOM acaba de definir a quarta elevação consecutiva na taxa básica de juros, a SELIC. A alta de 0,5% colocou a remuneração da SELIC em um patamar muito próximo à casa de dois dígitos percentuais (passando para 9%), apontando que o viés de alta deve permanecer até meados de 2014. Para o final da cadeia de crédito na rede bancária os juros reais devem atingir a marca de pelo menos 34% ao ano para pequenas empresas e pessoas físicas. No topo da cadeia, os rentistas comemoram mais alguns bilhões de Reais no rendimento de seus títulos muito bem remunerados pelo Tesouro Nacional. Com esta nova taxa de juros os rendimentos da Caderneta de Poupança voltam a adotar os critérios anteriores de remuneração, bem mais atraentes, o que deverá manter em níveis aquecidos a captação de reservas monetárias nacionais pelo sistema financeiro. Por outro lado, deverá acontecer uma redução do consumo, pressionando ainda mais para baixo a previsão de crescimento do PIB para 2014. Mas o governo neoliberal do PT parece mesmo estar mais preocupado em sinalizar confiança e lealdade aos rentistas do cassino financeiro do que estimular melhores índices econômicos para o país. Nesta direção, Dilma tenta abafar o “descontentamento” dos banqueiros com a tímida política anterior de uma leve redução nas taxas de juros, praticada fundamentalmente pelos bancos estatais. Com a candidatura da eco-imperialista Marina Silva colada em seu calcanhar, bancada no Brasil pela família Setúbal proprietária do ITAÚ, Dilma se movimenta para “rachar” a direção da FENABAN e assegurar o importante apoio do Bradesco para sua reeleição.

Para a “opinião pública” a equipe econômica palaciana tenta justificar a alta nos juros como uma medida necessária diante da pressão inflacionária provocada pela disparada do Dólar. Um verdadeiro engodo, já que é o próprio governo o principal indutor da desvalorização do Real, no sentido de potencializar as exportações de commodities para o mercado mundial. Diante do esgotamento dos instrumentos da política monetarista, o governo lança mão da “queima” das reservas cambiais como fator de “equilíbrio” econômico, acumulando uma enorme dívida interna (com a alta dos juros) e praticamente inviabilizando a produção industrial no país.

Os marxistas revolucionários não se encontram dentre aqueles que fazem o bloco do coro pelos “juros baixos”, como a esquerda reformista e a FIESP, por exemplo. Não acreditamos que a ausência de um projeto nacional de desenvolvimento independente pode ser substituída pela política de juros “subsidiados” para a burguesia nacional. Defendemos que a ruptura definitiva com os rentistas internacionais deve acontecer pela via da estatização do sistema financeiro e o cancelamento integral da fraudulenta dívida interna e externa. A adoção de juros negativos voltada aos pequenos produtores rurais e urbanos nada tem a ver com o estimulo ao “crédito mais barato”, impulsionado temporariamente pelo governo Dilma ao longo do ano passado.

O “esforço” de demonstrar ao mercado financeiro que a gerência petista entra novamente no ciclo ditado por Wall Street é a consequência direta dos compromissos assumidos por Dilma com o imperialismo ianque. A Frente Popular se prepara para sua quarta gestão estatal consecutiva, quase que uma “anomalia” para os padrões do “revezamento democrático” tradicionalmente adotado pelos regimes capitalistas ocidentais. É “natural” que os próximos passos estatais do PT sigam para uma profunda inflexão à direita, afinal o programa deste partido “social democrata” defende o principio “sagrado” da democracia dos ricos e a apologia da propriedade privada dos meios de produção. O movimento operário deve se preparar para enfrentar a agressiva ofensiva patronal conduzida pelo governo Dilma, que no marco da relativa “estabilização” econômica brasileira, se comparada aos países europeus, poderá produzir a subtração de conquistas sociais e o estabelecimento de uma “agenda” ainda mais neoliberal.