“Onde está Amarildo?” Junto aos Chico, João, Pedro e Maria... Assassinados pela PM de Cabral “Caveirão” no massacre diário ao povo trabalhador, pobre e negro!
O pedreiro Amarildo de
Souza, morador de um dos locais mais pobres da Rocinha no Rio de Janeiro, está
desaparecido desde o dia 14 de julho, após policiais da UPP terem-no “detido
para averiguação” durante uma ação de cunho fascista que envolveu 300 soldados
chamada não casualmente de “Operação Paz Armada”, arquitetada desde os
gabinetes do Palácio Guanabara com a finalidade de prender 55 pessoas “suspeitas”
de estarem vinculadas ao tráfico de drogas. A abordagem feita pelos soldados,
já conhecidos pela comunidade, foi desde o início truculenta e abusiva como
relatou um amigo que estava junto com Amarildo: “Ele estava na porta da
birosca, já indo para casa, quando os policiais chegaram. O Cara de Macaco
(como é conhecido um dos policiais da UPP) meteu a mão no bolso dele. Ele
reclamou e mostrou os documentos. O policial fingiu que ia checar pelo rádio,
mas quase que imediatamente se virou para ele e disse que o Boi [como Amarildo
era conhecido na comunidade por ajudar necessitados] tinha que ir com eles. O
Cara de Macaco conhecia o Boi e vivia implicando com ele e a família. Esse
policial é ruim, gosta de humilhar os pobres daqui” (O Globo, 26/7). “Imagens gravadas
por câmeras de segurança mostraram o pedreiro no carro com a identificação 6014
e depois entrando na sede da UPP. A partir daí, ele não foi mais visto. Os
policiais alegam que o liberaram, mas não há nenhum registro de sua saída da
unidade” (O Dia, 30/7). Várias testemunhas afirmam que viram Amarildo sendo
conduzido pelos policiais cruzando o famigerado portão vermelho da UPP, que é
monitorado por pelo menos duas câmeras de vídeo que os policiais implicados e o
alto comando trataram de inutilizá-las propositalmente para destruir as provas
do crime que cometeram. Os massacres e desaparecimentos de pobres e inocentes
nas favelas cariocas tem sido frequentes principalmente após a implantação das
odiadas UPPs pelo governo Sérgio “Caveirão”, não como tem anunciado a mídia
murdochiana para “pacificar” os morros, mas sim para espalhar o terror sobre os
moradores através de um estado policial militarizado e repressor a serviço do
grande capital e da especulação imobiliária.
As UPPs começaram a ser
implantadas nos morros cariocas em 2008, durante o primeiro mandato de Sérgio
“Caveirão” no governo fluminense. Nestes cinco anos, o que se tem visto é o
recrudescimento do aparato repressivo do Estado e profundamente militarizado. Na
favela da Rocinha o sistema foi imposto no final de 2011 se valendo de uma
“espetaculosa” mobilização do aparelho repressivo estadual e federal, com três
mil homens das polícias Civil, Militar, Federal e Rodoviária Federal, 194
fuzileiros navais, 18 veículos blindados, quatro helicópteros da PM e três da
Polícia Civil. O efetivo da Marinha foi o maior já utilizado em ocupações aos
morros cariocas sob o pretexto de “inibir o tráfico de drogas”. Pura balela,
pois os traficantes continuam a atuar livremente em quase todos os locais, só
que agora comandados pelas antigas “milícias” compostas por policiais
militares, civis e bombeiros. A troca de comando teve como objetivo manter
intacto o tráfico, porém em mãos mais confiáveis e próximas do Estado e dos “barões
do pó” como a “famiglia” Marinho da Rede Globo, além de “limpar a área” para os
grandes grupos imobiliários, já que a Rocinha situa-se na Zona Sul carioca,
próxima da Gávea e Copacabana. Desta forma, uma “limpeza social” valorizaria em
muito os empreendimentos que estão sendo construídos para os megaeventos da
Copa do Mundo e as Olimpíadas.
A execução sumária de
Amarildo insere-se neste contexto de militarização e repressão, que tem como
resultado imediato a criminalização dos pobres e seu modo de vida (festas nas
comunidades estão sumamente proibidas pela polícia), as prisões, torturas,
estupros e assassinatos não práticas frequentes, sistemáticas e metódicas,
parte integrante de uma doutrina de repressão através da violência e do terror.
Isto para que a especulação imobiliária e seus agentes (a polícia e o governo
Cabral), através do terror consiga expulsar os antigos moradores da favela em
benefício dos grandes empreendimentos em bairros nobres próximos e até mesmo na
favela, a qual representa um potencial de negócios bastante atrativos, haja
vista que 20% da população do Rio de Janeiro vive em favelas, cerca de um
milhão e meio de pessoas que movimenta R$ 13 bilhões por ano! A especulação e a
entrada de serviços privados na Rocinha causaram um drástico aumento do custo
de vida, o que vem inviabilizando a permanência dos setores mais pobres da
população. As UPPs cumprem a finalidade de proteger este capital que adentra
nas comunidades “pacificadas”, perseguindo os moradores mais humildes que, como
Amarildo, habitam barracos e vivem com meio salário mínimo ou menos. O
torniquete repressivo foi apertado logo após os protestos de junho, quando o
governo Cabral implantou uma nova divisão policial no estado, denominada
“policiamento de multidão” destinada a “monitorar”, infiltrar P2 e
provocadores, a fim de recrudescer ainda mais o regime contra possíveis novas
manifestações. Ao mesmo tempo criou a “Comissão Especial de Investigação de
Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas” (CEIV) com a finalidade de “investigar”
os manifestantes à revelia das próprias leis burguesas que a classe dominante
impõe aos explorados. Tudo sob a batuta de Sérgio “Caveirão”, a fim de manter
intacta a sua quadrilha estatal e o manto midiático da “depuração” dos morros
cariocas com a implantação das UPPs e o aparato policial. O mais escandaloso é
que frente a esta dramática realidade o deputado do PSOL-RJ, Marcelo Freixo,
ainda reclama “Por que as UPPs não chegam para todos?”, declarando “E nesse
sentido é bom dizer que o projeto das UPPs de longe não resolve o problema. E
me estranha muito o Governador tentar simplificar o debate sobre Segurança
Pública, dizendo que o Rio de Janeiro é outro porque tem UPPs. São mais de mil
favelas no Rio e as UPPs não chegam a 13 delas?” (Site Freixo). Desgraçadamente
a UPP “chegou até” Amarildo...
Amarildo é antes de mais
nada uma vítima (executado sumariamente pelos policiais da UPP que desovaram e
esconderam o corpo em algum matagal), como tantas outras que compõem a
população pobre da Rocinha, Vidigal, Morro do Alemão, Maré etc., deste imenso
esquema mafioso e suas ramificações criminosas montado pelo governo Sérgio
“Caveirão” (“Cabralzinho do Pó”) em associação com o governo federal
Lula/Dilma, acerca de quem controla não só o tráfico nas favelas como também a
vida comercial potencializada com as UPPs, as quais funcionam como apoio e
verdadeiros postos militares avançados de observação. Trata-se de uma evidente
discriminação de classe, entre a “democracia burguesa” e o conjunto do povo pobre
e explorado das periferias e morros. Portanto, a tarefa de derrotar a PM
assassina, as FFAA, as milícias e o narcotráfico concentra-se nas mãos da
classe trabalhadora e do povo pobre. Este não pode continuar indefeso contra a
violência sistemática e organizada do Estado capitalista e seus bandos
mafiosos. Não basta clamar “fora Cabral” como faz a esquerda revisionista, é
necessário ir além do que permite o regime da democracia dos ricos, como parte
de um programa revolucionário de ação e de defesa da vida da população:
organizar comitês de autodefesa pela expulsão do aparato repressivo das
favelas, pela destruição das polícias e contra a intervenção das FFAA no Rio de
Janeiro, a única forma de garantir a verdadeira paz e a segurança e de fazer
justiça contra os assassinos do povo trabalhador.