quinta-feira, 1 de agosto de 2013


“Onde está Amarildo?” Junto aos Chico, João, Pedro e Maria... Assassinados pela PM de Cabral “Caveirão” no massacre diário ao povo trabalhador, pobre e negro!

O pedreiro Amarildo de Souza, morador de um dos locais mais pobres da Rocinha no Rio de Janeiro, está desaparecido desde o dia 14 de julho, após policiais da UPP terem-no “detido para averiguação” durante uma ação de cunho fascista que envolveu 300 soldados chamada não casualmente de “Operação Paz Armada”, arquitetada desde os gabinetes do Palácio Guanabara com a finalidade de prender 55 pessoas “suspeitas” de estarem vinculadas ao tráfico de drogas. A abordagem feita pelos soldados, já conhecidos pela comunidade, foi desde o início truculenta e abusiva como relatou um amigo que estava junto com Amarildo: “Ele estava na porta da birosca, já indo para casa, quando os policiais chegaram. O Cara de Macaco (como é conhecido um dos policiais da UPP) meteu a mão no bolso dele. Ele reclamou e mostrou os documentos. O policial fingiu que ia checar pelo rádio, mas quase que imediatamente se virou para ele e disse que o Boi [como Amarildo era conhecido na comunidade por ajudar necessitados] tinha que ir com eles. O Cara de Macaco conhecia o Boi e vivia implicando com ele e a família. Esse policial é ruim, gosta de humilhar os pobres daqui” (O Globo, 26/7). “Imagens gravadas por câmeras de segurança mostraram o pedreiro no carro com a identificação 6014 e depois entrando na sede da UPP. A partir daí, ele não foi mais visto. Os policiais alegam que o liberaram, mas não há nenhum registro de sua saída da unidade” (O Dia, 30/7). Várias testemunhas afirmam que viram Amarildo sendo conduzido pelos policiais cruzando o famigerado portão vermelho da UPP, que é monitorado por pelo menos duas câmeras de vídeo que os policiais implicados e o alto comando trataram de inutilizá-las propositalmente para destruir as provas do crime que cometeram. Os massacres e desaparecimentos de pobres e inocentes nas favelas cariocas tem sido frequentes principalmente após a implantação das odiadas UPPs pelo governo Sérgio “Caveirão”, não como tem anunciado a mídia murdochiana para “pacificar” os morros, mas sim para espalhar o terror sobre os moradores através de um estado policial militarizado e repressor a serviço do grande capital e da especulação imobiliária.

As UPPs começaram a ser implantadas nos morros cariocas em 2008, durante o primeiro mandato de Sérgio “Caveirão” no governo fluminense. Nestes cinco anos, o que se tem visto é o recrudescimento do aparato repressivo do Estado e profundamente militarizado. Na favela da Rocinha o sistema foi imposto no final de 2011 se valendo de uma “espetaculosa” mobilização do aparelho repressivo estadual e federal, com três mil homens das polícias Civil, Militar, Federal e Rodoviária Federal, 194 fuzileiros navais, 18 veículos blindados, quatro helicópteros da PM e três da Polícia Civil. O efetivo da Marinha foi o maior já utilizado em ocupações aos morros cariocas sob o pretexto de “inibir o tráfico de drogas”. Pura balela, pois os traficantes continuam a atuar livremente em quase todos os locais, só que agora comandados pelas antigas “milícias” compostas por policiais militares, civis e bombeiros. A troca de comando teve como objetivo manter intacto o tráfico, porém em mãos mais confiáveis e próximas do Estado e dos “barões do pó” como a “famiglia” Marinho da Rede Globo, além de “limpar a área” para os grandes grupos imobiliários, já que a Rocinha situa-se na Zona Sul carioca, próxima da Gávea e Copacabana. Desta forma, uma “limpeza social” valorizaria em muito os empreendimentos que estão sendo construídos para os megaeventos da Copa do Mundo e as Olimpíadas.

A execução sumária de Amarildo insere-se neste contexto de militarização e repressão, que tem como resultado imediato a criminalização dos pobres e seu modo de vida (festas nas comunidades estão sumamente proibidas pela polícia), as prisões, torturas, estupros e assassinatos não práticas frequentes, sistemáticas e metódicas, parte integrante de uma doutrina de repressão através da violência e do terror. Isto para que a especulação imobiliária e seus agentes (a polícia e o governo Cabral), através do terror consiga expulsar os antigos moradores da favela em benefício dos grandes empreendimentos em bairros nobres próximos e até mesmo na favela, a qual representa um potencial de negócios bastante atrativos, haja vista que 20% da população do Rio de Janeiro vive em favelas, cerca de um milhão e meio de pessoas que movimenta R$ 13 bilhões por ano! A especulação e a entrada de serviços privados na Rocinha causaram um drástico aumento do custo de vida, o que vem inviabilizando a permanência dos setores mais pobres da população. As UPPs cumprem a finalidade de proteger este capital que adentra nas comunidades “pacificadas”, perseguindo os moradores mais humildes que, como Amarildo, habitam barracos e vivem com meio salário mínimo ou menos. O torniquete repressivo foi apertado logo após os protestos de junho, quando o governo Cabral implantou uma nova divisão policial no estado, denominada “policiamento de multidão” destinada a “monitorar”, infiltrar P2 e provocadores, a fim de recrudescer ainda mais o regime contra possíveis novas manifestações. Ao mesmo tempo criou a “Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas” (CEIV) com a finalidade de “investigar” os manifestantes à revelia das próprias leis burguesas que a classe dominante impõe aos explorados. Tudo sob a batuta de Sérgio “Caveirão”, a fim de manter intacta a sua quadrilha estatal e o manto midiático da “depuração” dos morros cariocas com a implantação das UPPs e o aparato policial. O mais escandaloso é que frente a esta dramática realidade o deputado do PSOL-RJ, Marcelo Freixo, ainda reclama “Por que as UPPs não chegam para todos?”, declarando “E nesse sentido é bom dizer que o projeto das UPPs de longe não resolve o problema. E me estranha muito o Governador tentar simplificar o debate sobre Segurança Pública, dizendo que o Rio de Janeiro é outro porque tem UPPs. São mais de mil favelas no Rio e as UPPs não chegam a 13 delas?” (Site Freixo). Desgraçadamente a UPP “chegou até” Amarildo...

Amarildo é antes de mais nada uma vítima (executado sumariamente pelos policiais da UPP que desovaram e esconderam o corpo em algum matagal), como tantas outras que compõem a população pobre da Rocinha, Vidigal, Morro do Alemão, Maré etc., deste imenso esquema mafioso e suas ramificações criminosas montado pelo governo Sérgio “Caveirão” (“Cabralzinho do Pó”) em associação com o governo federal Lula/Dilma, acerca de quem controla não só o tráfico nas favelas como também a vida comercial potencializada com as UPPs, as quais funcionam como apoio e verdadeiros postos militares avançados de observação. Trata-se de uma evidente discriminação de classe, entre a “democracia burguesa” e o conjunto do povo pobre e explorado das periferias e morros. Portanto, a tarefa de derrotar a PM assassina, as FFAA, as milícias e o narcotráfico concentra-se nas mãos da classe trabalhadora e do povo pobre. Este não pode continuar indefeso contra a violência sistemática e organizada do Estado capitalista e seus bandos mafiosos. Não basta clamar “fora Cabral” como faz a esquerda revisionista, é necessário ir além do que permite o regime da democracia dos ricos, como parte de um programa revolucionário de ação e de defesa da vida da população: organizar comitês de autodefesa pela expulsão do aparato repressivo das favelas, pela destruição das polícias e contra a intervenção das FFAA no Rio de Janeiro, a única forma de garantir a verdadeira paz e a segurança e de fazer justiça contra os assassinos do povo trabalhador.