A condenação de Manning
e a perseguição a Snowden: duas faces públicas da rede de espionagem da
contrarrevolução mundial
Nos últimos meses uma
onda de “revelações” sobre a espionagem do imperialismo ianque no planeta
ganhou as manchetes da mídia global, particularmente depois que o ex-agente
Edward Snowden tornou pública suas denúncias acerca do sistema de monitoramento
na internet pela NSA. Veio à tona que as agências de inteligência
estadunidense, em cooperação direta com o serviço secreto britânico, têm bases
de espionagem espalhadas em todos os continentes e que o Pentágono e a CIA
podem acessar a dados e informações “sigilosas” de absolutamente qualquer país
ou cidadão, além da própria ONU. A reação da Casa Branca ao vazamento das informações
foi incrementar o cerco ao que chamou de “delatores”, tanto que o soldado
Bradley Manning, acusado de fornecer arquivos secretos dos Estados Unidos ao
WikiLeaks foi condenado a 35 anos de prisão. Já na Inglaterra, o brasileiro
David Miranda, companheiro do jornalista do The Guardian, Glenn Greenwald, que
havia publicado os documentos vazados por Snowder, foi sequestrado por mais de
nove horas no aeroporto de Londres por policiais que confiscaram seu computador
e celular sob a alegação de estarem agindo em cumprimento às leis antiterrorismo.
Há mais de um ano Julian Assange, fundador do WikilLeaks, está em asilo forçado
na embaixada do Equador em Londres, não podendo sair porque será preso e
extraditado para os EUA! Essas ações ocorrem em meio a uma escalada da ofensiva
imperialista nos últimos dias, com a preparação da intervenção militar a Síria
e o apoio da Casa Branca aos golpistas assassinos do Egito, em um claro sinal de
que os EUA pretendem incrementar seu controle sobre as informações que circulam
no planeta para impor seu domínio político, militar e ideológico, aprofundando
a etapa de contrarrevolução mundial em curso.
Chama a atenção que o julgamento de Bradley Manning foi realizado no Fort Meade, sede da NSA que ficou “famosa” depois dos vazamentos feitos por Snowden de documentos sobre a espionagem praticada pelo governo Obama por meio do programa PRISM, que revelou detalhes do consórcio existente entre as agências de informação ianque (CIA, NSA...) com as operadoras de telefonia e empresas de tecnologia como a Verizon, a Apple, o Yahoo, o Google e o Facebook, que fornecem dados tidos como sigilosos sobre seus usuários. Na verdade, a questão é bem mais profunda. Essas empresas imperialistas utilizam a tecnologia militar que o Pentágono disponibiliza para seus “sócios” comerciais e para Israel, responsáveis por monitorar o planeta inteiro. Tanto que o programa foi iniciado em 2007, ainda na administração de George W. Bush e incrementado pelo governo Obama, demonstrando que esta é uma política de Estado do imperialismo ianque. Segundo o próprio governo dos EUA, o PRISM é responsável por filtrar comunicações e dados “sensíveis ou perigosos” transmitidos por servidores localizados no país. Mas, como a maioria das empresas de tecnologia e de Internet está baseada em território norte-americano (já sob o controle da CIA e outras agências), o alcance do PRISM é muito maior. Segundo matéria do jornal Washington Post, um em cada sete relatórios da inteligência dos EUA é elaborado com dados obtidos pelo PRISM. Ainda segundo o jornal, 98% dos dados do PRISM provêm de Yahoo, Google e Microsoft. Os dados obtidos nos servidores das empresas de tecnologia eram retrabalhados pela Unidade de Interceptação de Dados do FBI e, então, reenviados para a NSA. Conversas via Skype usando um telefone convencional, mas também áudios, vídeos e chats feitos no programa de telefonia recém-adquirido pela Microsoft também eram colhidos. Já o Google entregava os e-mails, chats, documentos armazenados no Google Drive e até mesmo as buscas feitas em tempo real. Em suma, o governo ianque tem acesso a quase toda atividade online dos usuários das grandes empresas de tecnologia. Um cinismo sem precedentes marca todo o debate acerca da quebra do sigilo pessoal e corporativo na internet, por parte dos organismos de “inteligência” norte-americanos. Empresas como o Google e Facebook logo se apressaram em afirmar que nunca repassaram dados e informações de seus usuários ao governo Obama. As chamadas “redes sociais” (Face, Twitter, etc...) ou mesmo o protótipo de inteligência artificial que é o Google, foram criadas diretamente pelo Departamento de Estado Ianque como colaterais “privadas” de seus organismos oficiais. Fazem parte de um projeto de monitoramento global dos EUA, integrado à estratégia de consolidar a hegemonia imperialista em um mundo totalmente dependente da internet, seja para troca de dados comerciais e financeiros ou simples informações pessoais.
O que não era nenhum
segredo para os marxistas revolucionários confirmou-se plenamente: a
Grã-Bretanha, verdadeira “colônia” ianque na Europa, dirige uma estação secreta
de monitoramento da Internet no Médio Oriente, para interceptar e processar
vastas quantidades de emails, chamadas telefônicas e tráfego, assim como os EUA
têm a mesma estrutura ativa na América Latina, voltada a acompanhar
detalhadamente o movimento dos governos da centro-esquerda burguesa. Para que
serve tal “rede” de espionagem? Obviamente, auxiliar na elaboração de políticas
orientadas a defender os interesses do imperialismo ianque em suas guerras de
rapina e no controle dos países que tem fricções com seus ditames. Todos esses
acontecimentos reforçam o que já denunciamos sistematicamente: com o fim da
URSS e o Pacto de Varsóvia, verdadeiro contraponto político-militar ao
imperialismo ianque, a Casa Branca incrementou seu controle político, militar e
ideológico sobre o planeta. O controle mundial da “grande rede” passa a ser uma
questão de sobrevivência para o imperialismo ianque, atropelando as regras
formais da diplomacia, inclusive com seus parceiros leais da União Europeia e
Japão.
Com relação aos governos
das centro-esquerda burguesa, a espionagem é ainda mais escancarada assim como
a impotência destes em se opor à ofensiva ianque. O Brasil, por exemplo,
segundo telegramas da diplomacia dos EUA revelados pelo Wikileaks, foi alvo da
ação da Casa Branca que tomou ações concretas para impedir, dificultar e
sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em duas áreas estratégicas:
energia nuclear e tecnologia espacial, chegando a haver monitoramento de nosso
programa de foguetes na Base de Alcântara, ao ponto dos EUA terem provocado a
explosão da base de lançamento no Maranhão para retardar as relações de
cooperação com a Ucrânia para não viabilizar a transferência de tecnologia
espacial para o Brasil. Agora, diante das revelações de Snowden que confirmaram
a existência de bases de monitoramento eletrônico pertencentes a CIA/NSA
instaladas em Brasília e da detenção do brasileiro David Miranda, a resposta do
governo do PT foi patética. Durante a visita do secretário ianque Jonh Kerry, o
ministro das Relações Exteriores, Antônio (nada) Patriota se limitou a dizer
que “Se a cooperação no combate ao terrorismo é buscada, ela deve ser feita no
respeito às leis nacionais do país em questão e dentro de entendimentos quando
surgem à tona de forma surpreendente por denúncias da imprensa. Canais técnicos
e políticos específicos para lidar com essa questão foram abertos. A
expectativa é de que possamos avançar, sim, com os Estados Unidos no tratamento
dessa questão” (G1, 22/08). Em resumo, o governo da frente popular deseja
colaborar fingindo exigir regras claras para o seu servilismo! Uma prova
concreta é que negou o pedido de asilo a Snowden e fez apenas uma reclamação
formal contra o sequestro de David Miranda em Londres!
As batalhas que o
proletariado mundial leva a cabo contra o imperialismo ianque e sua máquina de
guerra e espionagem vem ganhando contornos dramáticos. Estamos vendo a volta
com força do neonazismo ianque em escala interna e planetária. Para se opor à
essa escalada arquirreacionária deve-se ter claro que ela é uma expressão da
dura etapa de contrarrevolução e profunda ofensiva imperialista em curso, onde
ao lado dos mortos de massacres internos estão os cadáveres de mais de 200 mil
líbios trucidados pelos bombardeios da OTAN ou as vítimas dos mercenários
“rebeldes” na Síria. Somente a ação revolucionária do proletariado mundial
poderá reverter estas tendências nefastas, se valendo da luta pela liquidação
do modo de produção capitalista e tendo como estratégia a imposição de seu
próprio projeto de poder socialista. Os marxistas revolucionários devem
compreender com muita clareza que a completa supressão das liberdades
democráticas no país mais poderoso do planeta não é uma questão menor. Por esta
razão é preciso exigir a liberdade imediata de Bradley Manning e o fim das
perseguições a Edward Snowden e a todos que denunciam a rede de espionagem
ianque, como Julian Assange. O proletariado norte-americano pela sua
importância política mundial deve estar bastante atento a esta nova conjuntura
nacional contrarrevolucionária que se abriu com o 11 de Setembro. A burguesia
ianque acionou a “válvula de escape” com Obama logo após o crash financeiro de
2008 e agora prepara a nova transição para uma ofensiva imperial ainda mais
agressiva e violenta contra o seu próprio povo e a classe operária mundial!