Leia o Editorial do
Jornal Luta Operária nº 263, 1ª Quinzena de Agosto/2013
Que novo país surgiu
após as “jornadas de junho”?
A pergunta que empresta
o título a este artigo deverá ser respondida sem a menor demagogia ou concessão
oportunista: Nenhum novo país surgiu desde as multitudinárias “jornadas de
junho”! A correlação de forças entre as classes sociais continua exatamente a
mesma, ou seja, o proletariado em completa defensiva diante da ofensiva
capitalista neoliberal. Do ponto de vista do regime político vigente não
ocorreu o menor abalo em nenhuma das instituições republicanas, o governo
petista já recuperou a popularidade temporariamente perdida e a oposição
burguesa conservadora em nada avançou em seus planos de recuperar a presidência
nas eleições de 2014. Tampouco economia não entrou em default, mantendo
praticamente os mesmos níveis de emprego, renda e consumo do início do ano. A
decantada crise inflacionária, por parte do PIG, não ultrapassou as páginas da
delirante fascistóide “VEJA”, embora a alta do Dólar atue como um fator de
pressão sobre os insumos básicos. O governo Dilma sequer deu-se ao trabalho de
impulsionar uma “agenda positiva” após as jornadas, atendendo não as demandas
populares, mas sim as reivindicações dos banqueiros e empresários, que
conseguiram a elevação da taxa de juros e a ampliação da renúncia fiscal em
vários setores da economia. Na esteira do “reformismo sem reformas” o PT
arquivou sumariamente a bandeira de uma constituinte limitada à legislação
político-eleitoral, sacada como manobra distracionista no ápice das
manifestações de junho, e deslocou a “engessada” CUT para protagonizar um ensaio
diluído de “greve geral”, contando com a valorosa colaboração do PSTU e PSOL.
Mas, se ausência de uma direção classista nas jornadas abriu espaço para a
direita reacionária “pautar” as mobilizações, levando o movimento para um
impasse político e arrefecimento da luta de massas, não podemos negar que o “legado”
de junho repousa hoje nos ombros de uma
nova vanguarda juvenil que persiste em manter vivo o movimento das ruas, ainda
que em uma escala bem mais reduzida e depurada tanto da direita tradicional (induzida
pelo PIG) como dos “agentes” sindicais “chapa branca”. Sem a menor dose de
ufanismo oportunista podemos afirmar que no Brasil a “revolução” não andava
pelas “esquinas” em junho, assim como na Líbia e Egito o que assistimos é o
desencadear da brutal ofensiva imperialista contra os povos e suas conquistas
históricas. As heroicas lutas de resistência do proletariado quase sempre
ocorrem para defender o que está sendo atacado pela burguesia e desgraçadamente
acabam sendo derrotadas pela ausência de uma direção revolucionária. Esta é a
característica principal da atual etapa mundial da luta de classes (contrarrevolução
em toda linha), aberta com a histórica derrota da classe operária soviética em
1990. Esta dinâmica internacional determinou os rumos do esvaziamento das “jornadas
de junho” em nosso país, cedendo lugar a todo tipo de charlatanice política que
afirma que estamos “melhores e mais conscientes” (O gigante despertou!?), ainda
que esta falsa consciência concentre as ilusões nas instituições mais corruptas
do regime ou em sinistros personagens criados pelo PIG, como o novo “herói
caçador” dos “mensaleiros” petistas.
Outro elemento central do período mundial que atravessamos é o profundo retrocesso na consciência de classe das massas, as ações de resistência cada vez mais radicalizadas são “desconectadas” de objetivos estratégicos socialistas ou mesmo anti-imperialistas. As massas pela completa ausência de consciência seguem as variantes mais reacionárias do cenário político dominante, e ainda por cima aparecem os canastrões de esquerda para “anunciar” que se trata de “revoluções” inconscientes ou inacabadas. Este fator contrarrevolucionário imprimiu sua lógica de ferro às “jornadas de junho” no Brasil. Em uma dinâmica que se inicia com autênticas manifestações juvenis contra o aumento das tarifas dos transportes urbanos, orientadas por uma ONG (MPL), rapidamente a evolução dos acontecimentos apontava para uma tentativa da extrema-direita desestabilizar o governo pela via das mobilizações que tomaram conta do país.
Mas o PIG temeu “bancar
o feiticeiro” que vê seu “feitiço” ganhar vida própria, exatamente porque lhe
faltava uma opção confiável ao vácuo político que poderia se abrir com a
débâcle prematura do governo da Frente Popular. A oposição Demo-Tucana mal
sustenta sua própria unidade interna e o REDE de Marina Silva ainda está em
fase de gestação para somente debutar eleitoralmente em 2014. Neste cenário
político provocar uma instabilidade artificial poderia ser muito perigoso para
os negócios da burguesia e o PIG decidiu parar de “brincar de Praça Tahrir” no
Brasil.
Recomposta a base social
do governo Dilma, na senda do aprofundamento das medidas neoliberais, o ônus da
crise política provocada pelas jornadas parece mesmo ter sido herdada pelos
governos estaduais do Rio e São Paulo. Cabral e Alckmin são hoje alvos de
protestos diários, ainda que em proporções extraordinariamente mais reduzidas
do que os de junho. A dupla também passou a ser o foco do PIG na denúncia de
escândalos estatais de corrupção, debitando na conta do PT apenas o ranço
ideológico da reação por conta da “importação” dos médicos cubanos. Parece até
que o PIG e o governo Dilma chegaram a um denominador comum, pelo menos até
2014, cujo eixo é o “sacrifício” da antiga direção do PT e o afastamento de
Lula das futuras possibilidades eleitorais, seja ao Planalto ou mesmo ao
Bandeirantes.
Se o preço da “trégua”
pago por Dilma é a aplicação mais dura da ortodoxia neoliberal e a ampliação da
“generosidade” estatal para as oligarquias regionais, seu governo parece gostar
de “brincar com fogo” ao recolocar o país na trilha econômica iniciada pela era
FHC. O retorno do déficit em nossa balança comercial, causado em grande parte
pela desastrosa gestão da PETROBRAS, poderá “secar” em breve nossas enormes
reservas cambiais responsáveis pelo lastro financeiro, gerador da atual bolha
de crédito que movimenta o aquecido consumo nacional. Mesmo ainda bem distante
de um quadro de recessão econômica, o que desorientou a esquerda revisionista e
os neofascistas nas “jornadas de junho”, o Brasil poderá ingressar novamente em
um delicado ciclo de dependência dos EUA, levando a ruptura do país com o bloco
comercial dos BRICs.
O jogo político ainda está
aberto e o rescaldo das jornadas ainda não foi completamente “apagado”, a
direita promete uma reentrance no próximo dia 7 de setembro. Por outro lado, a
esquerda reformista promete ser o dia nacional de luta (30/08) um “marco” na
retomada das iniciativas do movimento operário. Ambas as “apostas” parecem
destinadas ao fracasso na medida que carecem de um programa enraizado nas
reivindicações mais sentidas do movimento de massas. A alternativa a ser
construída pacientemente pela vanguarda do proletariado não poderá ser a de uma
mudança cosmética deste regime da democracia dos ricos. O “novo” só realmente
surgirá a partir da ação revolucionária da classe operária, forjando na luta
uma alternativa de poder que aponte a construção soviética da Ditadura do Proletariado.
A demolição violenta deste staff burguês, conduzida por um partido Leninista, será
a única esperança real para a libertação histórica e definitiva dos oprimidos
por este sistema de acumulação do capital, que ameaça o conjunto da humanidade
com a barbárie.