sábado, 24 de agosto de 2013


A falência do sistema público de saúde e o virulento ódio aos médicos cubanos

As duas questões que dão o título a este artigo estão intimamente relacionadas, fazendo parte integrante do mesmo bloco de interesses da classe dominante. A primeira questão é a completa falência da saúde estatal “gratuita” destinada a atender a população mais carente, obrigada a pagar qualquer arapuca chamada de “plano de saúde” para não acabar em um corredor imundo de um hospital público. Os dez anos da gerência neoliberal petista não alteraram em nada o péssimo atendimento hospitalar da população, seja nos setores de prevenção, emergência ou tratamento clínico. A razão é uma só, seguiram com o modelo capitalista, onde a saúde da população é apenas mais um lucrativo nicho comercial de acumulação de capital para a burguesia. E não estamos nos referindo somente à rede privada de clínicas e hospitais ou empresas de “seguro saúde”, o sistema estatal é um verdadeiro “filé mingnon” para um grande mercado de fornecimento de equipamentos e medicamentos, quase sempre superfaturados e de qualidade duvidosa. Neste quadro de um regime capitalista neoliberal, onde o sistema de saúde (público e privado) apresenta as melhores taxas de rentabilidade financeira para investimentos (somente ficando atrás no país do mercado de ações), falar de verdadeiros valores humanos como uma medicina voltada a defesa da vida e não do lucro deve provocar o mais profundo ódio de classe de uma elite podre e reacionária. A imagem da chegada dos médicos cubanos ao Brasil, dedicados a uma causa e a sua pátria, entra em contradição absoluta com um mundo onde tudo deve ser precificado, inclusive a vida humana, colocando em questão a mercantilização da saúde e a lógica comercial das grandes empresas do setor. Para o governo petista a adoção do programa “Mais Médicos” é um remendo na falida malha do sistema estatal de saúde, um recurso demagógico que tenta encobrir a carência nacional na formação universitária de profissionais de saúde e a insuficiência de hospitais públicos em regiões onde as “taxas de retorno” não compensam os investimentos. Já para a burguesia, o “debate” sobre a utilização dos médicos cubanos no incipiente SUS (que mal consegue atender 20% da demanda total da população brasileira) deve ser encarado como uma questão de “princípios”, ferindo profundamente a doutrina da religião do “Deus Mercado”, portanto, estamos diante da abertura de uma nova “guerra santa” para o PIG, onde todas as armas ideológicas devem ser usadas, inclusive a de rotular os médicos cubanos como “escravos” da “ditadura comunista totalitária” dos irmãos Castro.

Não há parâmetros de comparação entre o sistema de saúde de um Estado operário, como o de Cuba ou Coreia do Norte, e de países capitalistas inclusive os mais desenvolvidos como os EUA. Para começar, não há medicina privada em Cuba, pelo menos para seus habitantes, os índices de mortalidade infantil na Ilha são menores do que as do império do norte. Desde a revolução em 1959 Cuba já formou cerca de 150.000 médicos, em um país de dez milhões de habitantes possui uma média de atendimento melhor do que França, Inglaterra e o dobro dos EUA. A medicina cubana possui domínio científico mundial em especialidades como oftalmologia e pneumologia entre outras, e expectativa de vida de sua população já atinge a impressionante marca de 80 anos! O mais importante, porém, é a filosofia na formação profissional de médicos e outros agentes de saúde em Cuba, os valores ensinados não são os de mercado e sim o da dedicação e sacrifício para salvar vidas humanas e ajudar a “construção socialista” de um país mais justo e solidário. Na contramão desta ideologia está a medicina brasileira, “sonho de consumo” das famílias da classe média que veem a possibilidade de seus filhos acumularem status e dinheiro ao obterem um diploma de médico. Como os governos da Frente Popular impulsionaram o ensino privado nesta última década (com financiamento estatal), estrangulando as universidades públicas, começaram a surgir as faculdades privadas de medicina (um excelente negócio), que totalmente despreparadas passaram a adotar o seguinte lema para atrair alunos de renda alta: “Aqui você pode!”.

Com esta concepção mercantil não nos surpreende que médicos brasileiros se recusem a praticar sua profissão nos rincões mais distantes do país, alegando cinicamente falta de “condições logísticas”. Também são totalmente coerentes as posições assumidas pelas entidades corporativas de medicina ao combaterem furiosamente a chegada de médicos cubanos, afinal para estes senhores a vida ou a morte é apenas uma simples equação de custo/beneficio. Mas, enquanto atacam violentamente os médicos cubanos, como reflexo de um anticomunismo arcaico, a burguesia tupiniquim recebe de “braços abertos” os neoescravos bolivianos para “trabalhar” na indústria da confecção de grifes famosas e receberem salários aviltantes sem qualquer proteção social. Para uma classe dominante escravocrata deve ser impossível imaginar que os médicos cubanos tenham dignidade e de livre vontade queiram retribuir ao seu país a educação gratuita e de qualidade que receberam. O princípio do internacionalismo e cooperação entre os povos esteve presente nos princípios da revolução cubana, o exemplo heroico de Che Guevara marcou as novas gerações, influenciando os jovens médicos cubanos a praticarem sua profissão em países pobres da África e América Central ou mesmo em regiões capitalistas periféricas onde não alcança a “mão invisível do mercado”.

O governo Dilma tenta se apoiar no convênio celebrado com Cuba para atenuar a extrema deficiência da saúde pública no interior do Brasil, sem falar no colapso existente nos grandes centros urbanos. Mas será apenas uma medida emergencial que não terá a capacidade de reverter a dinâmica geral de uma política neoliberal que privilegia a saúde privada para potencializar o lucro das grandes empresas do setor. É necessário destinar recursos estatais somente para a rede pública de saúde, estatizando os “shoppings” hospitais e fechando imediatamente as empresas de “planos e seguros” de saúde privada. Estas medidas devem ser acompanhadas com pesados investimentos nas universidades públicas, ampliando estrategicamente as vagas para os cursos de medicina e paulatinamente reduzindo o crédito de acesso para as faculdades particulares, a maioria destas sem a menor capacidade científica. Como não acreditamos que o governo do PT assuma esta plataforma anticapitalista, seguiremos na luta pela construção de uma alternativa revolucionária de poder proletário, sempre defendendo de forma pedagógica para as massas, os aspectos sociais mais progressivos presentes nos estados operários, como o sistema de saúde em Cuba.