17 ANOS APÓS PROMOVER GOLPE CONTRA CHÁVEZ, IMPERIALISMO
IANQUE VOLTA COM FORÇA A PATROCINAR DERRUBADA DO GOVERNO MADURO: ÚNICA VIA PARA
DERROTAR TRUMP E OS GOLPISTAS É O ARMAMENTO DAS MILÍCIAS CHAVISTAS E A
EXPROPRIAÇÃO DA BURGUESIA!
Entre os dias 11 e 12 de abril de 2002, há exatamente 17
anos, a Venezuela foi palco de um golpe de estado orquestrado pelos EUA, que
apontava para a instauração de uma brutal ditadura cívico-militar. O golpe
fracassou, mas demonstrou a disposição do então governo Bush de apostar em
aventuras golpistas para aumentar seu controle econômico, político e militar
sobre suas semicolônias, plano que voltou com toda a força na gestão de Trump.
Atualmente, a forte presença do moderno equipamento bélico russo (mísseis,
jatos, bombardeiros, tanques etc..) em solo venezuelano tem sido uma garantia
para desencorajar possíveis aventuras militares do palhaço reacionário e seus
lacaios fascistas regionais como Bolsonaro e Iván Duque contra o regime
nacionalista burguês chavista. As recorrentes ameaças do Pentágono em um ataque
de suas forças militares, apoiado por tropas brasileiras e colombianas, se
esfumaçaram por completo diante da imensa superioridade operacional do regime
comandado por Maduro em relação aos governos direitistas que integram o chamado
“Grupo de Lima”. A chegada de novas armas balísticas em Caracas vindas de
Moscou fez com Trump perdesse novamente a “linha”, após o fiasco completo da
“Operação Caballo de Troya”. O potente armamento adquirido pelo presidente
Maduro (mísseis de longo alcance que podem atingir até o território ianque) é a
última remessa em equipamentos de um contrato de cooperação militar bilateral
celebrado ainda na época em que o comandante Hugo Chávez estava vivo, e que de
fato em conjunto com os caças Sukhoi, desequilibram a relação de forças entre a
Venezuela e o restante dos países do continente. O bufão Trump voltou a falar
em “opções de ataque”, mas além de esbravejar nada poderá fazer sem colocar em
risco a própria hegemonia do imperialismo ianque no plano mundial, e isto os
“falcões” do Pentágono não querem arriscar. Nós Trotskistas defendemos o pleno
direito do regime chavista armar-se “até os dentes”, inclusive com artefato
nuclear, para dissuadir os chacais imperialistas e seus vassalos
latino-americanos de atacarem as conquistas sociais instauradas pelo regime
nacionalista chavista. Com a mesma lógica Marxista condenamos o boicote e a
sabotagem econômica promovida pelos trustes capitalistas internacionais contra
o povo pobre e os trabalhadores da Venezuela. Porém se os Bolcheviques acertam
ao estabelecer uma justa frente única de ação com o regime chavista contra o
imperialismo ianque que pretende espoliar as riquezas minerais da Venezuela,
não podemos nos abster de caracterizar esta situação como extremamente
contraditória e dual, como defina Trotsky. Se ao mesmo tempo em que os
Marxistas arregimentamos forças ao lado de Maduro e Putin em oposição as
investidas da Casa Branca, nos colocamos na linha de frente do combate contra a
“boliburguesia” e suas medidas de opressão e exploração do proletariado
venezuelano. Para a fração capitalista que sustenta o regime chavista, basta
fiar-se no poderio militar russo para estabilizar a situação política e buscar
um acordo com os fascistas ligados a Trump. Por outro lado, a pesada ajuda
logística do Kremlin a Maduro está orientada no sentido da manutenção da ordem
capitalista, assim como atua na Síria e Irã evitando qualquer ruptura
revolucionária com o sistema. Ao impulsionar o movimento de massas à
expropriação dos grupos capitalistas, inclusive a “boliburguesia” que hoje
controla o mercado interno, lutando pelo armamento popular e das milícias
chavistas, as Brigadas Trotskistas estão sujeitas a dura repressão do governo
Maduro, enquanto trata os sabotadores e entreguistas como Guaidó com todas as
garantias e “gentilezas” que não poderiam ser dispensadas a um
contrarrevolucionário manietado por Washington. É certo que merece o vigoroso
repúdio político da classe operária mundial as correntes revisionistas (LIT,
UIT, PTS) que se alinham ao imperialismo para derrotar Maduro, porém não é
menos nocivo o outro setor do revisionismo (PCO, CMI, SU) que capitulam
vergonhosamente embelezando o chavismo em nome de se opor a Trump. Saber
caminhar sobre a tênue linha programática que separa a plataforma da
capitulação e o projeto do esquerdismo do genuíno Bolchevismo, é a principal
arma política e militar dos Trotskistas na prova de fogo da crítica realidade
venezuelana.
Incrivelmente, 17 anos depois, quase todas as explicações
para o fracasso do golpe de estado apontaram que o erro dos golpistas foi ter
“rompido com as instituições democráticas”, algo que não seria mais admissível
nos tempos atuais etc., o que não passa de uma balela democratizante para consumo
da “opinião pública”. Os próprios EUA trataram de espalhar a versão de que
torciam pela derrubada de Chávez, “mas apenas por vias democráticas”. Na
verdade, a recondução de Chávez à presidência da Venezuela se deveu à sequência
de atropelos cometidos pelo efêmero governo golpista encabeçado pelo presidente
do sindicato patronal Federação de Câmaras, Pedro Carmona, em composição com a
cúpula militar venezuelana, apoiados pelo imperialismo ianque. Decisivo para o
fracasso, não foram o fechamento da Assembleia Nacional, a dissolução da
Suprema Corte Venezuelana, e muito menos o alijamento da Central dos
Trabalhadores Venezuelanos do governo, como destacam a mídia burguesa. Apesar
destas medidas contribuírem para o isolamento da cúpula dos golpistas, é exatamente
com elas que se iniciam quase todos os golpes. O problema residiu na
fragilidade econômica do Estado venezuelano para suportar o aumento do
parasitismo imperialista.
A base material da torpeza do golpe foi o excesso de medidas
entreguistas tomadas em favor dos interesses do imperialismo, mas que ao mesmo
tempo atentavam contra a existência do próprio Estado já bastante debilitado
financeiramente, provocando a vacilação e retrocesso no golpe por parte da
casta militar diretamente vinculada ao caixa do Estado. A principal estupidez
cometida pelo novo governo foi o afastamento da Venezuela da OPEP, rompendo com
sua política de preços e de cotas de produção, o que fez despencar o preço do
produto no mercado mundial. Pois o “governo” Carmona cometeu este ato de
loucura que precipitou seu fim. O benefício imediato dos EUA não pagava o risco
de matar a galinha dos ovos de ouro, o Estado venezuelano. E sem ele, quem
patrocinaria as FFAA venezuelanas? Estas medidas provocariam uma desvalorização
absurda do petróleo exportado pelo país, e levariam a bancarrota financeira do
Estado venezuelano em curtíssimo prazo. Os resultados desta abrupta
desvalorização se alastrariam por todo o mercado mundial e poderia abalar
profundamente ao conjunto dos países fornecedores de hidrocarbonetos. Por sua
vez, a eliminação dos poderes do legislativo, da Constituição e do judiciário
pelo governo provisório, instaurando um governo ultradireitista, assustou as
burguesias latino-americanas, criando um grave precedente golpista, apontado
contra elas mesmas, fato que contribuiu para a reprovação diplomática de quase
todos os governos do continente, a exceção dos próprios EUA e da Colômbia. O
golpe foi uma patetada da cúpula militar venezuelana, conduzida por um setor
ultraentreguista das FFAA e pelo empresariado ligado à petroleira Venoco e à
Fedecámaras, que se deram conta do “ato de loucura” que estavam praticando só
depois de tê-lo iniciado.
O fenômeno do chavismo nasceu como uma alternativa política
burguesa para o esgotamento de exploração imperialista baseada exclusivamente
no modelo monoprodutivo petroleiro e para o esgotamento do regime das
oligarquias, o bipartidarismo (revezamento no poder dos partidos AD e COPEI)
que governou o país durante mais de três décadas. Desde o levante popular do
Caracazo em 1989, nenhum governo conseguiu reestabilizar a democracia
venezuelana e com a eleição de Chávez, dez anos depois a burguesia pretendia
canalizar o descontentamento popular para o terreno da institucionalidade. O
chavismo surgiu prometendo eliminar a corrupção, desenvolver outros ramos
industriais e salvar o Estado da bancarrota, aumentando a arrecadação de
impostos sob a exploração local e os preços do produto em nível internacional,
mas fracassou em todos os terrenos. O alto custo do parasitismo das oligarquias
capitalistas locais e estrangeiras impede qualquer alívio nos cofres estatais
mesmo quando sobe o preço do barril. A incapacidade do chavismo ou de qualquer
setor da burguesia nacional de resolver minimamente as tarefas
democrático-burguesas de desenvolvimento nacional pendentes, dada a dependência
pusilânime que lhes mantêm atados ao imperialismo, colocou o governo Chávez num
impasse e, ao invés de diminuir a dependência do país em relação ao petróleo,
Chávez aprofundou o caráter petrolífero da economia. Tratou-se de mais uma
demonstração inequívoca de que não há saída progressista para a exploração e
opressão nacionais fora do caminho da revolução proletária.
Se o golpe de 2002 fracassou pela falta de respaldo de
setores do imperialismo, agora com a oposição tendo ampliado sua base social e
eleitoral, gestam-se as premissas para a Casa Branca impor uma alternativa ao
“Socialismo do Século XXI” pela chamada via democrática ou por meio de uma
intervenção militar. O povo venezuelano que apesar da mediação chavista, se
confrontava com os fundamentos do establishment capitalista, deverá agora
enfrentar mais duramente a oligarquia “crioula”, pela qual responde a chamada
oposição liderada pelo multimilionário fascistizante Henrique Capriles, o
herdeiro político dos golpistas de 2002. Por isto, diante do ascenso
multitudinal das massas venezuelanas após a morte provocada de Chávez (desde a
Guerra Fria a CIA vem trabalhando com afinco para desenvolver substâncias que
podem matar líderes “inconvenientes” de países não-alinhados sem deixar
qualquer vestígio ou provas de envenenamento), as ameaças declaradas do monstro
imperialista e da “oposição” golpista a soldo da Casa Branca e uma possível
“mobilização democrática” organizada pela CIA, nada mais correto do que os
genuínos revolucionários lançarem a palavra de ordem de frente única com o
governo Maduro sem capitular ao chavismo, com o objetivo de impulsionar e dar
vazão às enormes expectativas anti-imperialistas das massas. Isto porque sob a
intensa pressão das massas o regime chavista foi obrigado a se confrontar, em
certa medida, com os interesses políticos do imperialismo, como o apoio dado a
Líbia e a Síria contra a intervenção militar da OTAN, apesar de nunca ter
rompido os laços comerciais com os EUA (fornecimento do óleo cru às
petrolíferas ianques). Se o golpe de 2002 fracassou pela falta de respaldo de
setores do imperialismo, agora com a oposição tendo ampliado sua base social e
eleitoral, gestam-se as premissas para a Casa Branca impor uma alternativa ao
“Socialismo do Século XXI” pela chamada via democrática em 2012, porém sempre
ancorada na chantagem das FFAA retirarem seu apoio vital ao chavismo, na medida
em que cresce seu desgaste, produto da recessão econômica.
O “Socialismo do Século XXI” vive um processo de profundo
desgaste porque não passa de uma alternativa burguesa nacionalista com um corte
demagógico socialista. Como não avança em nenhuma medida que de fato ataque a
burguesia enquanto classe, não expropria os meios de produção e se nega a
atender as demandas populares mais elementares, o chavismo acaba se
desmoralizando junto aos trabalhadores e abrindo caminho para a volta da
direita pela própria via eleitoral e parlamentar. Essa dinâmica política em
favor do fortalecimento da direita pró-imperialista é um movimento quase
inevitável da burguesia em países como Venezuela e Equador. Por isso os
chamando governos da centro-esquerda foram perdendo nos últimos anos
paulatinamente sua base social para a oposição de direita que, pelo profundo
desgaste destas gestões, se lançam como uma alternativa eleitoral viável para
os capitalistas e, via de regra, usam as FFAA para chantageá-los.
A alta cúpula das FFAA, principal pilar de sustentação
política do regime, que dará a palavra final da transição em comum acordo com
Washington. O certo é que todas essas frações, com interesses particulares
dentro do aparato estatal desejam manter o regime de exploração capitalista,
seja com cores “nacionalistas” ou entreguistas. Para os trabalhadores
venezuelanos e latino-americanos que buscam intervir de forma independente no
desenrolar dos acontecimentos, deve-se abstrair a lição de que é preciso, desde
já, preparar uma alternativa política dos explorados tanto ao chavismo
decadente como à direita reacionária. É necessário preparar o terreno para a
construção de um genuíno partido revolucionário capaz de enfrentar a onda de
reação “democrática” ou mesmo a direita fascista no caso de um novo golpe
“cívico-militar”, fazendo um combate programático completamente oposto à
cantilena pregada por toda sorte de revisionistas de que está em curso uma
“revolução” na Venezuela.
Diante do atual quadro de ofensiva da direita reacionária, a
tarefa prioritária da classe operária venezuelana nesta conjuntura de gestação
da guerra civil e da intervenção externa passa necessariamente pela construção
do seu próprio poder estatal (com todas suas instituições embrionárias) para
derrotar tanto a direita golpista como a iminente capitulação do Chavismo
frente à reação. O quadro social, político e econômico reflete a investida do
imperialismo e da direita golpista contra o governo Maduro. Frente a esta
situação defendemos a unidade de ação com o “chavismo” para derrotar a reação
burguesa pró-imperialista, forjando uma alternativa de direção revolucionária
para os trabalhadores! Por esta razão reafirmamos que é preciso derrotar com os
métodos de luta da classe operária a direita golpista sem capitular ao
“chavismo” e seu projeto nacionalista burguês! Os Marxistas Revolucionários não
nutrem ilusões na capacidade revolucionária do Chavismo ultrapassar suas
limitações históricas de um movimento radicalizado da burguesia nacionalista,
combatemos na mesma trincheira antiimperialista porém somos conscientes de sua
incapacidade programática de romper seus vínculos materiais com o capitalismo.
Devemos acompanhar a própria experiência das massas e da vanguarda classista
com o Chavismo, sem a cooptação das benesses estatais do regime e apontando
sempre o caminho do enfrentamento revolucionário com a burguesia nativa e
subordinada aos interesses do “grande Amo do Norte”. O Chavismo como uma
expressão radicalizada do nacionalismo burguês, historicamente é incapaz de
levar adiante a tarefa de construção dos conselhos operários de poder, os
Soviets. A demagogia Chavista da formação dos conselhos populares e do
armamento da população para enfrentar a ofensiva imperialista se mostrou como
mais uma falácia da burguesia “bolivariana”, agora diante do aprofundamento da
crise social Maduro se apoia exclusivamente nos militares “fiéis”. Porém a
história mundial da luta de classes já demonstrou que a “traição” é o principal
motor dos golpes de Estado patrocinados pelo “Tio Sam”. O fundamental é que o
proletariado venezuelano possa construir sua própria independência de classe,
erguendo no curso da luta política uma verdadeira república socialista na
Venezuela construída a partir de conselhos operários forjados na luta contra a
direita e o imperialismo!