FRAUDE ELEITORAL DEVELADA: MORO ASSUME AS RÉDEAS DO COMANDO
DE UM NOVO REGIME BONAPARTISTA, TUTELANDO O GOVERNO NEOFASCISTA
BOLSONARO/GUEDES
É absolutamente certo que a estratégia geral da burguesia ao deflagar o impeachment da presidente Dilma era a instauração de um novo ciclo político, substituindo o carcomido regime da Nova República (já em sua terceira geração) por um regime de supressão das garantias e liberdades democráticas, conquistadas com o ascenso do movimento de massas no fim do regime militar em meados dos anos 80. A necessidade de um novo regime político se impunha no Brasil em razão da crise econômica mundial, que levou ao esgotamento o modelo de colaboração de classes gerenciado pela Frente Popular por mais de uma década. Com o fim da "bolha de crédito" internacional e a escassez das divisas cambiais provocada pela abrupta queda do valor comercial das commodities agro-minerais, a gerência estatal petista colocava em risco o compromisso (sagrado) do pagamento da dívida pública junto aos rentistas internacionais. Não era "razoável" para a burguesia nacional "respeitar" o calendário eleitoral e tentar derrotar o PT nas eleições de 2018, seria preciso uma "tacada de força" e impulsionar um golpe constitucional, fortemente apoiado pela grande mídia corporativa. O governo petista até tentou acenar com o "ajuste" exigido pelos rentistas, Dilma nomeou um estafeta dos banqueiros (Levy) para comandar a pasta da Fazenda e implantar um duro corte no orçamento público, porém se para as massas a ação neoliberal do PT significou castigo e traição, para os rentistas representou apenas covardia e vacilações no compromisso de seguir integralmente as "orientações" do mercado financeiro. O resultado das concessões do governo da Frente Popular diante dos rentistas foi o seu próprio sepultamento político e o que é o pior, com o golpe parlamentar veio a instauração embrionária de um novo regime de recrudescimento, que agora com a indicação de Moro para a chefia institucional do governo neofascista de Bolsonaro, parece entrar na etapa conclusiva na perspectiva da luta de classes.
Porém havia um obstáculo enorme para que o parto do regime
bonapartista judiciário ocorresse com seu "rebento" Moro ocupando o
"trono" da presidência da república pela via eleitoral, era ele
próprio o único capaz de embargar a favorita candidatura da principal liderança
de esquerda (burguesa) no país, nem um outro juizeco do país teria a autoridade
moral de mandar encarcerar Lula (com provas absolutamente precárias) e cassar
seu registro eleitoral. É óbvio que a construção da imagem "ética e moral"
de Moro foi toda fabricada pela famiglia Marinho e seus concorrentes menores da
mídia "murdochiana", lhe outorgando a tarefa única de "carrasco
do PT". Neste cenário, de impossibilidade conjuntural de Moro, surge o
"plano B" da burguesia: recorrer ao imbecil militar fascista que
vinha se mostrando competitivo nas pesquisas eleitorais. O discurso ultra
reacionário de Bolsonaro que começou a atrair as hordas fascistas, coadunava
bem com a estratégia de Moro de extirpação do tecido político tradicional, seja
com o PT ou até mesmo o PSDB, até então o "queridinho" do mercado e
do imperialismo. Com Moro segurando a chave da masmorra de Lula, a mídia
atacando violentamente petistas e tucanos por envolvimento em negociatas e
corrupção estatal, ficou relativamente tranquila a eleição presidencial de um
"incapaz" fascista, agora tutelado por um vigarista do mercado de
capitais (Guedes) encarregado dos "negócios" do Estado e um magistrado
reacionário que comanda a ofensiva institucional do judiciário contra o regime
democratizante instalado pela Nova República.
É plenamente compreensível que a nova geração de ativistas
esteja pouco familiarizada com conceitos marxistas, como regime, bonapartismo e
mesmo fascismo, termo que se popularizou no Brasil como um "rastilho de
pólvora" durante o processo eleitoral. Durante anos a esquerda reformista
semeou a "confusão" teórica de que ganhando às eleições poderia se
chegar ao poder, ou mesmo que ocupar um governo central pela via eleitoral
seria equivalente a conquista do poder estatal. Mais do que uma teoria a vida (luta
de classes) tratou de demonstrar que vencer uma eleição burguesa não
significava "tomar o poder", este repousa bem acima da gerência
sazonal do Estado capitalista. O regime político de um país pode ser
caracterizado como o tipo de arcabouço jurídico que se reveste o Estado, como
por exemplo uma democracia clássica parlamentar ou um totalitarismo
autocrático (bonapartismo) são dois exemplos distintos de regimes políticos. Um
regime bonapartista se assemelha mais a um regime fascista do que a uma
democracia baseada no livre sufrágio universal, nos dois primeiros casos a
figura de um líder nacional totalitário é uma condição "sine qua
non", porém fascismo e bonapartismo não representam o mesmo fenômeno.
Segundo Marx o bonapartismo enquanto regime político ocorre quando a burguesia
delega sua gerência estatal a uma liderança que se apresenta como uma espécie
de "Salvador da Pátria", para se por acima dos conflitos entre as
classes sociais. O fascismo por sua vez também carrega estas mesmas
características populistas de direita, mas sob a base do esmagamento físico das
direções e organizações operárias. Outra "confusão" bem frequente é
igualar um regime fascista a um governo de características fascistas ou mesmo
composto por elementos fascistas, como é o caso do gabinete de Bolsonaro. Como
dissemos caracterizar um regime político exige utilizar conceitos bem mais
abrangentes e complexos do que simplesmente identificar uma gerência estatal
fascista. Na história mundial os dois exemplos clássicos de nazifascismo, Itália
e Alemanha se deram de forma processual e não automaticamente ligados à uma
eleição parlamentar.
Podemos afirmar, sob a ótica do Marxismo, que estamos
atravessando um período que pode ser caracterizado como a consolidação de um
regime bonapartista de exceção (pós golpe parlamentar), com a égide de um
governo marcado por características fascistas, ainda que ressaltando a relativa
debilidade política do nosso "Mussolini tupiniquim". Moro engatinha
seus primeiros passos para talvez ocupar um vazio político em caso de um
eventual colapso prematuro do "capitão de pijama", tudo dependerá dos
ventos econômicos internacionais. Em todo caso a criação do superministério da
Justiça e Segurança servirá para selar definitivamente a aliança entre a casta
togada e a cúpula militar, sempre em prontidão para atuar belicosamente em caso
de uma reação ativa de massas ao brutal "ajuste" neoliberal promovido
pelo governo Bolsonaro. Não é por coincidência que a anturragem fascista já
cogita lançar o nome de Moro para a sucessão presidencial de 2022, e o próprio
Bolsonaro já declarou que não pretende se lançar a reeleição. Por hora é
totalmente impressionista caracterizar o regime como fascista ou mesmo
semifascista, uma imprecisão teórica desta dimensão só serve para jogar água na
corrente da tal "Frente Ampla Democrática", uma cópia mal feita da
base política burguesa dos governos petistas.
Por fim, é preciso ter claro que Moro é o operador político
de um plano estratégico da burguesia e do imperialismo, ele será o verdadeiro
comandante do novo regime Bonapartista em consolidação em nosso país. Para compreender a
envergadura dessa operação política é preciso remontar a 2014, quando a LBI foi
a primeira organização política a denunciar o caráter reacionário da chamada
“Operação Lava Jato”, quando toda a “esquerda” reformista, particularmente o PT
e o revisionismo trotskista declaravam que a farsa levada a cabo pelo Juiz
“nacional” Sérgio Moro era um “patrimônio do Brasil no combate a corrupção”. Na
época a presidente Dilma Rousseff chegou a declarar “Eu acho que as
investigações da Lava Jato podem mudar, de fato, o Brasil para sempre. Em que
sentido? No sentido de que vai se acabar com a impunidade. Mudará para sempre a
relação entre a sociedade brasileira, o Estado brasileiro e a empresa privada
porque vai acabar com a impunidade. A questão da Petrobras é uma questão
simbólica para o Brasil. É a primeira investigação efetiva sobre corrupção no
Brasil que envolve segmentos privados e públicos. A primeira. E que vai a
fundo” (11.2014). PSTU e PSOL também saudavam os “feitos moralizadores” da
“República de Curitiba. Enquanto a cúpula petista, particularmente o staff
dilmista, apoiava a operação jurídico-policial engendrada pelo imperialismo
ianque para acabar com a Petrobras e as empreiteiras nacionais, nossa corrente
política em voz solitária denunciava que o Moro havia sido formado pelo
Departamento de Estado ianque e a CIA para inicialmente perseguir o PT e depois
desmoralizar o conjunto do tecido político burguês do país para edificar um
novo regime político, sendo a ponta de lança de um estado de exceção no Brasil
com fortes traços Bonapartistas que agora estamos vendo ser parido.
Esse é o corolário do processo que vemos hoje, com Moro assumindo
o papel de tutor do governo neoliberal de Bolsonaro/Guedes. No curso desse movimento
claramente orquestrado pelo imperialismo pontuamos que estavam redondamente
enganados os que pensavam que a “Lava Jato” tinha por objetivo exclusivo a
“caçada” judicial ao PT. Dallagnol, o “quadro” formulador da Força Tarefa da
direita pró-imperialista, já explanou cristalinamente que a “República de
Curitiba” pretendia não só remover o governo petista como também alterar profundamente
o regime político vigente, o que vem ocorrendo nos últimos anos e ganhará grande
impulso agora com o governo Bolsonaro. Cabe a vanguarda classista tirar as
lições políticas e programáticas desse processo politico, organizando desde já a
resistência nas ruas com os métodos de luta da classe operária, sem ficar presa a política de colaboração de classes da
Frente Popular que usa o espantalho do fascismo para traficar sua orientação de contenção da resistência direta das massas. A LBI, dentro de suas modestas forças, coloca sua elaboração
teórica Marxista e sua militância trotskista a serviço dessa tarefa
revolucionária que definirá a dinâmica da luta de classes no Brasil no próximo
período!