Em plena noite no dia 09 de julho de 1980 nos deixava
Vinicius de Moraes, se vivo fosse o “poetinha” no próximo dia 19 de outubro
completaria 106 anos. Na primeira década do século passado, Marcus Vinitius da
Cruz de Melo Moraes, o nosso Vinicius, debutava em nosso mundo um pouco antes
de “estourar” a Revolução Bolchevique. Nascido no seio de uma família de
músicos do bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, Vinicius de Moraes, o
“Poetinha”, assim carinhosamente chamado por seus amigos, ele merece ser
homenageado como sinônimo de resistência cultural nestes tempos sombrios de
retrocesso político e ideológico que se aprofunda com a “gerência” do
neofascita Bolsonaro ao Planalto. Inveterado boêmio, foi na noite que conheceu
seus principais parceiros de música, de copo, teatro, paixões, amores e onde
aperfeiçoou seus dotes poéticos mais líricos.
Desde criança demonstrou grande habilidade para as letras e a música, tanto que aos dez anos já participava do coral da escola e começa a montar pequenos escretes teatrais. Em 1930 ingressa na Faculdade de Direito do Catete, para a qual dizia não ter a menor vocação, porém teve a oportunidade de conhecer o escritor Otavio Faria que lhe formou para o mundo das artes literárias e travou conhecimento com os “modernistas” Manuel Bandeira, Mário e Oswald de Andrade e até Plínio Salgado que também fazia parte do movimento. Neste ínterim, atuou como censor cinematográfico, crítico de cinema sob a companhia de Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Afonso Arinos de Melo Franco. Em 1943 foi aprovado em concurso para o Ministério das Relações Exteriores, sendo empossado embaixador em Los Angeles, onde exerceu o cargo por quatro anos. Pouco depois foi deslocado para Paris, período mais profícuo para desenvolver o trabalho de... poeta! Os anos 50 marcaram o “debut” de sua veia musical mais aprofundada ao conhecer um jovem pianista em suas “andanças” pelos cabarés e noites cariocas, Tom Jobim. Na década seguinte, sua singeleza musical chamou a atenção de gênios da música do quilate de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Baden Powell, ... No entanto, após o golpe militar contrarrevolucionário de 1964 foi afastado do Itamaraty com a criação do AI-5 sob o estapafúrdio argumento de que sua “vida boêmia era incompatível com a carreira diplomática”, o que na verdade implicava a deculturação do país imposta a ferro e fogo pelo regime gorila. A trajetória de vida de Vinicius de Morais marcou o auge da produção artística no Brasil, dos anos 50 aos 80, mas após a queda do Muro de Berlim e da URSS, o imperialismo e sua mídia venal trataram logo de esmagar as tradições culturais das raizes culturais mais profundas, impondo não só a barbárie no campo social como no âmbito das artes em todo o planeta.
Desde criança demonstrou grande habilidade para as letras e a música, tanto que aos dez anos já participava do coral da escola e começa a montar pequenos escretes teatrais. Em 1930 ingressa na Faculdade de Direito do Catete, para a qual dizia não ter a menor vocação, porém teve a oportunidade de conhecer o escritor Otavio Faria que lhe formou para o mundo das artes literárias e travou conhecimento com os “modernistas” Manuel Bandeira, Mário e Oswald de Andrade e até Plínio Salgado que também fazia parte do movimento. Neste ínterim, atuou como censor cinematográfico, crítico de cinema sob a companhia de Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Afonso Arinos de Melo Franco. Em 1943 foi aprovado em concurso para o Ministério das Relações Exteriores, sendo empossado embaixador em Los Angeles, onde exerceu o cargo por quatro anos. Pouco depois foi deslocado para Paris, período mais profícuo para desenvolver o trabalho de... poeta! Os anos 50 marcaram o “debut” de sua veia musical mais aprofundada ao conhecer um jovem pianista em suas “andanças” pelos cabarés e noites cariocas, Tom Jobim. Na década seguinte, sua singeleza musical chamou a atenção de gênios da música do quilate de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Baden Powell, ... No entanto, após o golpe militar contrarrevolucionário de 1964 foi afastado do Itamaraty com a criação do AI-5 sob o estapafúrdio argumento de que sua “vida boêmia era incompatível com a carreira diplomática”, o que na verdade implicava a deculturação do país imposta a ferro e fogo pelo regime gorila. A trajetória de vida de Vinicius de Morais marcou o auge da produção artística no Brasil, dos anos 50 aos 80, mas após a queda do Muro de Berlim e da URSS, o imperialismo e sua mídia venal trataram logo de esmagar as tradições culturais das raizes culturais mais profundas, impondo não só a barbárie no campo social como no âmbito das artes em todo o planeta.
Vinicius em encontro histórico com o poeta comunista chileno Pablo Neruda |
A bossa nova , que recentemente perdeu seu mestre João
Gilberto, surgiu precisamente junto com o processo de urbanização e industrialização
das grandes cidades brasileiras, respondendo às especificidades ideológicas e
objetivas da época, tanto é verdade que jovens de classe média emergente do
pós-guerra foram seus proponentes e refletia suas aspirações espirituais e
humores. Vinicius, com João Gilberto, lança o LP “Canção do amor demais” em
1958, mostrando ao mundo a batida ritmada e inovadora da “bossa”, acompanhada
da cantora Elizeth Cardoso, disco chave para se compreender a estética refinada
de um movimento tipicamente pequeno burguês.Um ano depois lança outro LP, “Por
toda a minha vida” com letras suas e Tom Jobim. No início da década de 60
começa a compor com Carlos Lyra e Pixinguinha, em uma fase que dá os primeiros
passos para a superação da “bossa nova”, cujo desenvolvimento aconteceu quando
se aproximou de Baden Powell, dando origem aos “afro-sambas” (“Berimbau”,
“Canto de Ossanha”, “Samba da Bênção”...). Em 1962 compõe com Carlos Lyra a
peça “Pobre menina rica” lançando Nara Leão como cantora, já rompendo com os
dramas da classe média. Em 1966 lançou o LP “Os afro-sambas”, evidenciando uma
clara ruptura com a estética e os lamentos pequeno-burguês da bossa nova. A
parceria com Toquinho iniciou-se dois anos depois de ser afastado do cargo de
embaixador, em 1970, e com quem grava vários discos na Itália, Paris (1972-77)
e no Brasil. No final dos anos 70, com o esgotamento político do regime
militar, chegou a declamar poemas no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo
dos Campos a convite do então presidente da entidade Luis Inácio da Silva.
Várias músicas de sua autoria foram censuradas pelos militares, como “Paiol de
Pólvora”, “Valsa do Bordel” (nos shows dizia ser a “Valsa da Puta”) por
“afrontarem e desrespeitarem o regime político” vigente diziam os autos do
processo contra o Poetinha.
No dia 9 de julho de 1980 o coração do Poetinha parou de
bater, após um derrame cerebral ocorrido três meses antes, cujas sequelas
provocaram um edema pulmonar, deixando inconclusas e perdidas as obras “Roteiro
lírico e sentimental da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro” e “O dever e
o haver”. Seu último poema soa como uma balada triste, uma despedida: “Trago a
doçura dos que aceitam melancolicamente./E posso te dizer que o grande afeto
que te deixo/Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das
promessas/Nem as misteriosas palavras dos véus da alma.../É um sossego, uma
unção, um transbordamento de carícias/E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta/E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o
olhar extático da aurora” (Vinicius de Moraes - Poesia completa e prosa). O
rumo tomado por Vinicius de Moraes comprova mais do que nunca a máxima
programática do trotsquismo, segundo a qual a arte deve estar fortemente
enraizada no popular e voltada para a vida, caso contrário tende a definhar
gradativamente ou para o campo da reação ou para a extinção pura e simples.
Vinicius foi um dos poucos intelectuais que viveu verdadeiramente como poeta,
para a arte, a liberdade de criação, muito embora em sua obra não estive presente
o elemento da atuação do artista como vanguarda na preparação da revolução,
porém estava engajado em seu próprio tempo. São as sábias palavras do velho
bolchevique Trotsky que enfatiza o papel do artista dentro do capitalismo e a
luta pelo socialismo: “(...) ao defender a liberdade de criação, não
pretendemos absolutamente justificar o indiferentismo político e longe está de
nosso pensamento querer ressuscitar uma arte dita ‘pura’ (...). Não, nós temos
um conceito muito elevado da função da arte para negar sua influência sobre o
destino da sociedade. Consideramos que a tarefa suprema da arte em nossa época
é participar consciente e ativamente da preparação da revolução. No entanto, o
artista só pode servir à luta emancipadora quando está compenetrado subjetivamente
de seu conteúdo social e individual, quando faz passar por seus nervos o
sentido e o drama dessa luta e quando procura livremente dar uma encarnação
artística a seu mundo interior” (Manifesto por uma Arte Revolucionária
Independente, 25/7/1938). E nesta época de profundo retrocesso ideológico
imposto pelo imperialismo, a arte revolucionária deve unir-se à luta pela
emancipação da classe operária e proclamar bem alto seu apelo à resistência
cultural contra a banalização e a idiotização das massas trabalhadoras, padrões
de comportamento e de estética empurrados goela abaixo pela mídia “murdochiana”
e seus amos do norte.
No documentário produzido em 2006 por Miguel Faria e sua
filha a cineasta Suzana de Moraes, sobre a vida de Vinicius, foram colhidos
vários depoimentos de parceiros ainda vivos do “poetinha”. No testemunho dos
antigos companheiros de “farra e de música”, como Toquinho, teve
pelo menos a honestidade intelectual de reconhecer que “no mundo atual
não haveria espaço para Vinicius”. A “observação” vinda de um dos ícones da MPB
não foi à toa, tanto Toquinho como outros parceiros se converteram ao atual
“mundo do politicamente correto”, onde a arte e a vida não tem nenhum
compromisso com a transformação da realidade social. Realmente seria
inimaginável pensar hoje no maior ídolo de nossa música e poesia entrar em um
estádio lotado de operários em greve e declamar seu poema: “O operário em
construção”, sob a admiração e respeito do proletariado em plena luta contra a
ditadura militar. Mas o melhor viria depois, logo após sair do estádio de Vila
Euclides, no ABC, cercado por operários foi comemorar o triunfo da greve
metalúrgica em um botequim das redondezas regado com muita cachaça e cerveja.
Desgraçadamente os “camaradas” de Vinicius, que no passado tanto contribuíram
com o combate pelo socialismo (como Chico Buarque), hoje não honram a memória
do “grande mestre”, encontrando-se atolados em campanhas publicitárias
reacionárias ou servindo a governos capitalistas de turno. O legado da vida e
obra de Vinicius permanecerá vivo para as futuras gerações, ainda que embotado
por elogios e reverências demagógicas de uma elite social e artística
completamente decadente. O poeta de origem “aristocrática”, e que iniciou sua
elaboração literária pela via da formalidade estética do “perfeito”, soube
romper com abstração “vazia” do belo”, e colocar sua arte à serviço da
transformação social, ainda mesmo sem abrir mão até o final de sua vida da
boêmia que tanto amou.