MORRE JOÃO GILBERTO: O MESTRE DA MÚSICA “VAZIA” DA CLASSE
MÉDIA URBANA CARIOCA QUE ENCANTOU O MUNDO...
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Poucos sabem mas foi João Gilberto que quando chegou ao Rio
de Janeiro no começo dos anos 50, apresentou aos novos amigos músicos da
“geração de Copacabana”, um exemplar do Manifesto Comunista de Karl Marx. Mas
rapidamente João foi deixando para trás seu passado que envolvia uma curta
militância no PCB em Salvador, onde se fixou profissionalmente após chegar de
sua cidade natal no interior da Bahia, Juazeiro, mas que não é a do Padre
Cícero. Convidado para integrar o conjunto vocal Garotos da Lua, em 1950, João
Gilberto parte para o Rio de Janeiro, no ano seguinte, com o destaque na rádio,
os Garotos da Lua gravaram dois discos de 78 rpm. Entretanto, com um início de
carreira turbulento, marcado por atrasos, João acabou despedido do grupo. Em
1953, teve sua primeira composição gravada, "Você esteve com meu
bem", parceria com Russo do Pandeiro, na voz de Marisa Gata Mansa, sua
namorada à época, a gravação contou com acompanhamento de João ao violão, ainda
sem a famosa batida da bossa nova, que o tornaria mundialmente famoso.
Durante os estudos de música, João percebeu que se cantasse mais baixo, sem vibrato, poderia adiantar ou atrasar o canto em relação ao ritmo, desde que a batida fosse constante, criando assim seu próprio tempo. O ano de 1958 foi um marco para a música popular brasileira. Em julho, Elizete Cardoso lança o famoso LP “Canção do Amor Demais”, contendo músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. O disco, entretanto, entraria na história da música popular brasileira por outro motivo: João Gilberto acompanhava Elizete ao violão nas faixas Chega de Saudade e Outra Vez, sendo essas as primeiras gravações da chamada "batida da bossa nova". Após o lançamento do LP “Chega de Saudade”, a nova batida do violão tornou-se moda entre os jovens secundaristas e universitários da classe média urbana carioca, encantados com o violão de João Gilberto. Esse disco influenciou a geração de João e a geração seguinte de jovens músicos que, depois de ouvir “Chega de Saudade”, decidiram-se pelo estilo do “gênio” baiano, catapultando o novo ritmo da Bossa Nova para o mundo. A bossa nova surgiu precisamente junto com o processo de urbanização e industrialização das grandes cidades brasileiras, respondendo às especificidades ideológicas e objetivas da época, tanto é verdade que jovens de classe média emergente econômica e socialmente foram seus proponentes, refletindo suas aspirações espirituais e humores. Ainda em 1960, João Gilberto gravou seu segundo LP, O Amor, o Sorriso e a Flor, que no ano de 1962 chegou aos Estados Unidos. Começa a exportação da Bossa Nova música brasileira. Esse LP trouxe outra inovação: a contracapa trazia as letras das músicas, que passou a ser característica dos discos brasileiros. Vale o destaque da composição de Tom Jobim, o Samba de Uma Nota Só, síntese da Bossa Nova nos fundamentais elementos de letra, melodia, ritmo e harmonia. João é aclamado como mestre maior da Bossa Nova “verdadeira” e é best-seller durante anos, nos Estados Unidos e mundialmente. Não por coincidência nesta época histórica se vivia o auge da Guerra Fria, e a derrota do imperialismo ianque no Vietnã semeou uma enorme geração internacional de músicos engajados com a luta pela transformação social, a Bossa Nova representou exatamente a antítese deste rico processo de criação estética libertadora. Mas após o “auge” musical veio o ocaso da Bossa Nova, refletindo diretamente na trajetória da vida pessoal de João, acometido de uma profunda depressão existencial. Era o próprio “vazio” de um estilo sem vínculo com a realidade concreta que o país atravessava após os “anos dourados” batendo na porta do “mestre”. No ano final do século passado, João Gilberto se apresenta no Credicard Hall, de São Paulo, inaugurando o espaço comercial, o show teve grande repercussão negativa, com problemas de som, reclamações de João e vaias do público. Em 2005, João Gilberto gravou um comercial para a Companhia Vale do Rio Doce, em parceria com a agência de publicidade África, exibido com grande destaque em caráter nacional, nos intervalos do Jornal Nacional, da TV Globo, era a consumação final do mercenarismo burguês do artista, já pouco preocupado com os destinos musicais da Bossa Nova. O cantor e compositor João Gilberto faleceu neste sábado 06/07 aos 88 anos de idade, isolado em sua casa no Rio de Janeiro, no centro de uma dura disputa familiar pelo espólio econômico do “pai” da Bossa Nova.
Durante os estudos de música, João percebeu que se cantasse mais baixo, sem vibrato, poderia adiantar ou atrasar o canto em relação ao ritmo, desde que a batida fosse constante, criando assim seu próprio tempo. O ano de 1958 foi um marco para a música popular brasileira. Em julho, Elizete Cardoso lança o famoso LP “Canção do Amor Demais”, contendo músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. O disco, entretanto, entraria na história da música popular brasileira por outro motivo: João Gilberto acompanhava Elizete ao violão nas faixas Chega de Saudade e Outra Vez, sendo essas as primeiras gravações da chamada "batida da bossa nova". Após o lançamento do LP “Chega de Saudade”, a nova batida do violão tornou-se moda entre os jovens secundaristas e universitários da classe média urbana carioca, encantados com o violão de João Gilberto. Esse disco influenciou a geração de João e a geração seguinte de jovens músicos que, depois de ouvir “Chega de Saudade”, decidiram-se pelo estilo do “gênio” baiano, catapultando o novo ritmo da Bossa Nova para o mundo. A bossa nova surgiu precisamente junto com o processo de urbanização e industrialização das grandes cidades brasileiras, respondendo às especificidades ideológicas e objetivas da época, tanto é verdade que jovens de classe média emergente econômica e socialmente foram seus proponentes, refletindo suas aspirações espirituais e humores. Ainda em 1960, João Gilberto gravou seu segundo LP, O Amor, o Sorriso e a Flor, que no ano de 1962 chegou aos Estados Unidos. Começa a exportação da Bossa Nova música brasileira. Esse LP trouxe outra inovação: a contracapa trazia as letras das músicas, que passou a ser característica dos discos brasileiros. Vale o destaque da composição de Tom Jobim, o Samba de Uma Nota Só, síntese da Bossa Nova nos fundamentais elementos de letra, melodia, ritmo e harmonia. João é aclamado como mestre maior da Bossa Nova “verdadeira” e é best-seller durante anos, nos Estados Unidos e mundialmente. Não por coincidência nesta época histórica se vivia o auge da Guerra Fria, e a derrota do imperialismo ianque no Vietnã semeou uma enorme geração internacional de músicos engajados com a luta pela transformação social, a Bossa Nova representou exatamente a antítese deste rico processo de criação estética libertadora. Mas após o “auge” musical veio o ocaso da Bossa Nova, refletindo diretamente na trajetória da vida pessoal de João, acometido de uma profunda depressão existencial. Era o próprio “vazio” de um estilo sem vínculo com a realidade concreta que o país atravessava após os “anos dourados” batendo na porta do “mestre”. No ano final do século passado, João Gilberto se apresenta no Credicard Hall, de São Paulo, inaugurando o espaço comercial, o show teve grande repercussão negativa, com problemas de som, reclamações de João e vaias do público. Em 2005, João Gilberto gravou um comercial para a Companhia Vale do Rio Doce, em parceria com a agência de publicidade África, exibido com grande destaque em caráter nacional, nos intervalos do Jornal Nacional, da TV Globo, era a consumação final do mercenarismo burguês do artista, já pouco preocupado com os destinos musicais da Bossa Nova. O cantor e compositor João Gilberto faleceu neste sábado 06/07 aos 88 anos de idade, isolado em sua casa no Rio de Janeiro, no centro de uma dura disputa familiar pelo espólio econômico do “pai” da Bossa Nova.