quinta-feira, 3 de agosto de 2023

RUPTURA NO PCB (PARTE III): DISPUTA ENTRE “ACADÊMICOS” E “INTELECTUAIS ORGÂNICOS”... UMA EXPRESSÃO DA DECADÊNCIA POLÍTICA DA ESQUERDA INTEGRADA A ORDEM BURGUESA PSEUDO-DEMOCRÁTICA

Quem se der ao trabalho de ler os documentos do CC do PCB e do grupo expulso do partido na última reunião de sua direção nacional vê como centro a disputa entre os “acadêmicos” (Mauro Iassi, Sofia Manzano, Milton Pinheiro, Edmilson Costa e Antônio Carlos Mazzeo) e supostos “intelectuais orgânicos” (Ivan Pinheiro, Jones Manoel e outros militantes). Esse embate revela bem o caráter pequeno-burguês de ambos os lados. O texto “Manifesto em defesa da Reconstrução Revolucionária do PCB!” (03/07) da lavra de Ivan e Jones declara “Com a saída do camarada Ivan Pinheiro da Secretaria Geral, em outubro de 2016, essa fração academicista ganhou novo ímpeto. Sem este camarada que consideravam ‘duro’ e ‘sectário’ a fazer-lhes contrapeso, acreditaram que sua hora havia chegado”. Entretanto a “fração academicista” foi amplamente copiada por Jones Manoel que não tem o carimbo de “professor universitário” mas comunga da mesma ideologia pequeno-burguesa. Por sua vez, CC afirma “Lamentavelmente, tanto antes como depois do Congresso, um importante membro de nosso Partido, não vendo suas posições respaldadas por nossa direção coletiva, optou por apostar em uma política divisionista atacando membros do CC e indispondo a base partidária contra suas direções, visando reverter sua posição minoritária na direção e no Congresso, ferindo frontalmente nossas resoluções estatutárias e congressuais” (02/07). A ruptura no PCB representa dois lados da mesma política social-democrata e pró-imperialista que vem liquidando a legenda desde que se tornou um apêndice do PSOL e mais recentemente do próprio PT, com ambos os lados se opondo ao combate leninista pela construção do partido revolucionário e internacionalista. 

Desde que houve a ruptura do PPS, em 1992, o PCB vem tentando se apresentar como um partido principista, crítico do período em que a “troika” Giocondo Dias, Salomão Malina e Roberto freire afundou o “partidão” na lama do oportunismo, portanto seria agora herdeiro das melhores tradições marxistas-leninistas. 

A esse processo Ivan Pinheiro, na condição de Secretário Geral auto-intitulou de “reconstrução revolucionária”, inclusive salientando que nos últimos anos havia saído até mesmo do arco de alianças encabeçado pelo PT e PCdoB, para impulsionar a chamada “oposição de esquerda” junto com o PSOL e o PSTU. No ato de 90 anos de sua fundação, Ivan Pinheiro, declarou que o partido estava fazendo uma séria autocrítica das suas ilusões na democracia burguesa nos anos 50 e 60 e de suas alianças com as forças liberais na década de 80, inclusive atacando violentamente o canalha Roberto Freire, denunciando que este não passa de serviçal a soldo da oposição de direita demo-tucana.

Não para nossa surpresa, nas eleições de 2012 para a capital do Estado do Amapá, a cidade de Macapá, o PCB esteve coligado com ninguém menos que o então PPS do mesmo Roberto Freire. Como se viu, todo discurso acerca do “novo” PCB não passou de uma fraude política, chegando ao ponto do ex-“partidão”, atual neorreformista “partidinho” estar unido na época o então PPS, um apêndice venal dos Demos-Tucanos, antes acusado por Ivan Pinheiro como mais um partido da burguesia.

Quando Ivan Pinheiro era presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, discípulo fiel de Giocondo Dias, representava as posições mais à direita no movimento operário brasileiro em uma época de clara radicalização das lutas, com a vitória das oposições sindicais cutistas. Ivan e Freire combateram a fundação da CUT e do PT, atacando-os violentamente como instrumentos da ditadura militar, “divisionistas da esquerda”. 

Na verdade, quem fazia o jogo da oposição burguesa à ditadura militar contra o novo sindicalismo e o PT, que na época agrupava o grosso da vanguarda classista e se colocava como alternativa política ao PMDB, era o stalinismo agrupado no PCdoB e PCB, juntos na arquipelega CGT. Não por acaso, apoiaram o golpe do Colégio Eleitoral com a indicação de Tancredo Neves e, logo depois, com a ascensão da “Nova República”, viraram “fiscais do Sarney” e de seu Plano Cruzado.

Durante todo esse período, Ivan Pinheiro foi entusiasta defensor dessa política que resultou no lançamento da candidatura de Roberto Freire em 1989 (apoiada por Sarney) para combater o PT nas eleições presidenciais. Foi essa trajetória tão direitista que levou em 1992 a maioria do PCB a se converter no núcleo fundador do PPS sob a direção de Salomão Malina e Freire. 

Só aí Ivan Pinheiro rompeu com esse grupo revisionista que tinha ido longe demais em seus ataques aos princípios do marxismo em função da onda contrarrevolucionária mundial desencadeada com o fim da URSS que converteu vários partidos comunistas do planeta em partidos sociais-democratas.

Relatamos esse histórico porque Ivan abriu caminho para o PCB "academicista" ainda que hoje suas críticas esteja bem centradas na conduta daqueles que ele apoiou em passado recente. 

LEIA TAMBÉM: RUPTURA NO PCB: UMA “DISPUTA” ENTRE DOIS LADOS DA MESMA POLÍTICA SOCIAL DEMOCRATA E PRÓ-IMPERIALISTA

No manifesto que citamos acima Ivan abre um debate fundamental sobre o "capitalismo multipolar" ao pontuar: "Diversas organizações ditas comunistas, mesmo algumas que vinham se aproximando do bloco revolucionário dos Encontros Internacionais de Partidos Comunistas e Operários (EIPCO), passaram a defender posições chauvinistas mais ou menos abertamente, abandonando a defesa da atualidade da revolução socialista em nome da luta por uma 'etapa' de capitalismo multipolar que, supostamente, minaria as forças do imperialismo ocidental e da OTAN.".

Sobre esse debate a LBI pontuou no artigo "Restauração capitalista a todo vapor: China tenta construir uma nova polaridade imperialista" que "Por sua vez a burocracia restauracionista do gigante asiático não quer um confronto aberto com a Casa Branca e muito menos afugentar o enorme fluxo financeiro internacional destinado para potencializar a produção industrial de sua nação, por isso lança a retrógrada consiga de um 'mundo multipolar', ou seja um mundo capitalista com dois imperialismos hegemônicos." O "erro" de Ivan é colocar a China no mesmo patamar da Rússia, um bloco homogêneo imperialista. Sobre esse tema recomendamos ler a parte 2 da polêmica sobre a ruptura no PCB. 

Na polêmica atual, o “A crise do capital e o novo liquidacionismo” (17/06), o PCB responde as críticas de Jones Manoel declarando “Esta ação parte de uma pequena militância com pouca inserção de luta real na sociedade e com intenso engajamento nas redes sociais, muitas vezes, tomando esse espaço como ‘o espaço” privilegiado de lutas”.  O que o CC do ex-partidão “esquece” é que a legenda incentivou Jones Manoel a usar as redes digitais em sua política de “ampliação” no curso social-democrata e direitista, tanto que o youtuber postou fotos com o LavaJatista Caetano Veloso e fez rasgados elogios ao Papa Francisco, o mesmo que condenou a Rússia em sua guerra justa contra a OTAN na Ucrânia. 

Enquanto Jones foi útil a linha oficial do PCB não recebeu qualquer crítica de publicamente se tornar um apêndice de Lulopetismo e do Vaticano! Tanto que o PCB, sem fazer qualquer crítica programática mais profunda a Manoel e Ivan (porque não existe de fato!) afirma “Um pequeno grupo fracionista, nesse momento, tenta operar a mesma prática no interior do PCB, numa luta interna desqualificada em busca do controle do Partido. Para isso, usam o mecanismo de recortar e colar, publicizando uma falsa polêmica que desvirtua o sentido da democracia interna, e ferem o centralismo democrático.” 

Jones Manoel por sua vez declara em postagem no Facebook “Quando compartilhei o escrito do camarada Ivan Pinheiro denunciando a violação completa da política internacional aprovada no XVI Congresso do PCB, muitos camaradas apresentaram uma preocupação justa com a forma. Mas, camaradas, se formou hoje no CC do PCB uma maioria antileninista que não tem nenhum respeito pelo centralismo democrático, pelas resoluções congressuais, pelo nosso estatuto e que busca calar, constranger, boicotar e expulsar quem faz o debate político e a crítica nas instâncias corretas. Quando não podem calar os críticos, os perseguem (e centenas de militantes no Brasil estão passando pela mesma situação)” (17/07). 

A crítica de Jones e Ivan ao PCB é por seu suposto alinhamento automático com a China, que acusam de financiar os encontros da “Plataforma Anti-imperialista” onde participam sistematicamente vários dirigentes nacionais do PCB, como Eduardo Serra e Edmilson Costa, insinuando um grau de corrupção material nesse relação, além de criticaram a pretensa “simpatia” do PCB ao lado russo na guerra da Ucrânia, rompendo a suposta política de “neutralidade” (inspirada na posição do KKE grego) e da própria China que buscar cinicamente uma “solução diplomática para o conflito” para não romper seus laços com a Governança Global do Capital Financeiro. 

Neste ponto, a dupla Ivan Pinheiro e Jones Manoel faz um “zig-zag” oportunista, hora a esquerda ora a direita, mas sempre na linha de não se colocar pela derrota militar da OTAN, como o próprio PCB também o faz apesar de toda demagogia oca e vazia “Contra o Imperialismo!”, mas que não toma lado no conflito entre a aliança militar comanda pelos EUA contra a Rússia. 

Como dissemos, os dois lados em disputa representam em graus diferentes a linha social-democrata e pró-imperialista que vem liquidando o PCB e o enterrando no pântano reformista, vereda que o impede de fazer oposição revolucionária o governo burguês de Lula&Alcmkin e adotar uma posição Leninista da guerra da OTAN contra a Rússia!