sexta-feira, 13 de novembro de 2020

LULA SENDO O VELHO LULA DA CONCILIAÇÃO DE CLASSES: “SE DEPENDER DE MIM E DO PT VAMOS TER UMA ALIANÇA DE TODA A ESQUERDA”


Para os que tentam apresentar a figura de Lula com toques de uma suposta “renovação e classismo”, após o seu retorno da prisão, as declarações contundentes do ex-presidente emitidas ontem (12/11) em uma live em apoio a Benedita da Silva, serviram para desmascarar como uma fraude política “Operação limpa Lula”. Alguns dias antes, Lula já havia se manifestado saudando a vitória do carniceiro imperialista Joe Biden, apontando que o mesmo caminho norte-americano de uma Frente Ampla contra a direita deveria ser seguido aqui no Brasil. Ao lado de Benedita, ex-governadora do Rio de Janeiro (em uma gestão conjunta com Garotinho), Lula não mediu suas palavras: “Eu vou te garantir que se depender do PT e de mim vamos ter uma aliança de toda esquerda”. Não durou muito a tentativa de setores lulistas (como o PCO, Articulação de Esquerda e O Trabalho) em apresentar Lula como sendo contrário a constituição de uma Frente Ampla com toda a esquerda burguesa, PSB, PDT, REDE etc...Vejamos o que o próprio Lula pensa a respeito desta questão: “Todo mundo tem o desejo de construir frente ampla. A gente sempre tentou construir frente ampla sem querer impedir que os partidos tivessem candidato. É muito importante que a gente tenha noção porque os partidos têm que lançar candidato. Dá a chance de colocar o programa, conversar com a sociedade, e tem chance de ir pro segundo turno e fazer uma aliança muito grande”, afirmou a maior liderança do PT.

A separação eleitoral da esquerda burguesa nestas eleições municipais, ocorrida em uma parte considerável das capitais do país, não corresponde a uma ruptura programática ou sequer política no arco da Frente Ampla de colaboração de classes, muito pelo contrário. Representou uma necessidade em primeiro lugar das legendas da esquerda burguesa “queimarem” grande parte do milionário Fundo Partidário com seus próprios candidatos, para depois negociarem o “acordão” no segundo turno, Lula deixou absolutamente cristalino esta tática que foi adotada pelo PT. Tanto é assim, que nos municípios menores, onde não haverá segundo turno e a verba eleitoral destinada pelos partidos é bem reduzida, não houve problema algum em o PT celebrar as mais amplas alianças, até mesmo com o PSL que abrigava o neofascista Bolsonaro.

Para quem governou o país, por mais de uma década consecutiva, com uma base de apoio que incluía quase todos os partidos fisiológicos da direita(até o do então deputado Bolsonaro),somado ao chamado “Centrão”, parece uma piada grotesca tentar apresentar Lula agora como um opositor da Frente Ampla. O PT foi golpeado pela burguesia em 2016, mas nem por isso perdeu seu caráter de partido burguês, como também não perdeu o PTB/PDT quando sofreu o golpe militar em 1964. A ação da substituição drástica de gerência estatal ocorrida em 2016, não partiu como reação da burguesia a nenhuma medida anticapitalista tomada por Dilma, pelo contrário a presidenta petista estava impulsionando uma agressiva plataforma neoliberal de eliminação de direitos sociais dos trabalhadores. Ao perceber que o governo da Frente Popular poderia “patinar” na aprovação das (contra)reformas exigidas pelos rentistas com muita celeridade, a burguesia operou abruptamente a substituição da gerência servil do PT, que logo renunciou a qualquer tipo de resistência ao golpe parlamentar sofrido por Dilma. Era o fim de um ciclo econômico de “boom” capitalista, e o PT deveria esperar pacífica e pacientemente por uma nova “janela” da história, para voltar a ocupar a gerência estatal a serviço das classes dominantes.

É exatamente o que Lula visualiza neste momento, o regresso do PT a função de governo de Frente Popular de colaboração de classes em 2022. Afinal o MAS retornou ao papel de gestor na Bolívia, Trump foi derrotado e o governo Bolsonaro(isolado pelo conjunto da burguesia)começa a dar sinais de “fadiga de material”. Entretanto todos estes elementos políticos não conduzirão automaticamente Lula a retornar ao Palácio do Planalto, apesar de suas posições a favor do mercado e do imperialismo ianque, agora sob nova direção. O elemento central da conjuntura ainda é a economia capitalista mundial, e não há sinais de um novo “boom econômico” no horizonte, que permita a opção da burguesia por um “modelo”  de pacto social no país. Lula, como um dos melhores quadros políticos que o Brasil já criou em toda sua história, vai tecendo sua rede social com os possíveis aliados da esquerda burguesa para 2022, consciente que neste mesmo campo já existe uma outra alternativa em gestação, a do oligarca Ciro Gomes, que divide com o próprio PT a governo estadual do Ceará, como uma espécie de “laboratório político” para uma possível gerência nacional com estas mesmas características.