sábado, 21 de novembro de 2020

PSTU NA “FRENTE AMPLA”: MORENISTAS EMBARCAM NO APOIO AS CANDIDATURAS DE BOULOS (PSOL), MANUELA (PCDOB), MARÍLIA (PT)... NO MOMENTO EM QUE A FRENTE POPULAR REBAIXA AINDA MAIS SEU PROGRAMA PARA AGRADAR A BURGUESIA

O PSTU, grupo que se reivindica trotskista e no 1º turno desta eleição municipal pontuou a inutilidade política das candidaturas do PT, PCdoB e PSOL diante da ofensiva reacionária e neoliberal, acaba de anunciar o apoio Boulos e Edmilson (PSOL), Manuela D'Ávila (PCdoB) e Marília Arraes (PT) neste 2º turno. Com essa decisão integra-se a chamada “frente ampla democrática” junto com o PDT de Ciro Gomes e a Rede de Marina Silva, um arco político de colaboração de classes do qual participam também setores do golpista PSB, o PCB e a UP. 

O PSTU vinha denunciando corretamente o programa da candidatura de Boulos-Erundina. Afirma que “A concepção da ‘revolução solidária' de Boulos é o contrário da solidariedade de classe. É igual à concepção burguesa e pequeno-burguesa: uma ação caritativa e beneficente. Não há nem uma palavra de incentivo à luta ou à organização da classe trabalhadora”. Por sua vez, denunciava que “Ao contrário da propaganda de Boulos, Erundina foi uma gestão burguesa que não enfrentou a máfia dos transportes. Ela se aliou a ela para esmagar a greve e privatizar os transportes”. Essa justa denúncia do PSTU entretanto é extremamente limitada porque quando pressionado pela disputa eleitoral da democracia fraudada dos ricos, o mesmo PSTU vota nos candidatos do PT, PCdoB e do PSOL em nome de “derrotar a direita”, esquecendo de todas as críticas que fez aos programas reformistas de colaboração de classes que antes tanto denunciava.

Segundo o PSTU, o partido tomou essa decisão para “derrotar a direita, Bolsonaro, o PSDB e o centrão”. Como vemos os Morenistas consideram que fortalecendo a frente política sob o comando do PT podem derrotar os candidatos da direita nestas eleições municipais. No caso do PSTU a contradição ainda é maior porque nem mesmo identificam uma ofensiva neofascista em curso, então fica a pergunta, porque votar na Frente Popular de conciliação de classes serviria para derrotar o “projeto da direita”? 

Apostar que em eleições completamente manipuladas e fraudadas podemos derrotar os representantes da direita e mesmo de Bolsonaro (Melo em Porto Alegre, MDB e Delegado Federal Eguchi, do Patriotas, em Belém) é o primeiro elemento completamente falso em que se baseiam os frágeis argumentos do PSTU.

As atuais eleições municipais brasileiras além de serem, segundo os critérios clássicos do Marxismo, completamente carentes de legitimidade popular (controlada pelos grandes grupos econômicos, manipuladas pela mídia, carente de igualdade de condições de disputa), ainda tem como marca a fraude concreta orquestrada pelo TSE e os institutos de pesquisa, provando que a soberania da vontade popular não tem algum valor real no regime capitalista. Que o PT, um partido completamente integrado a ordem burguesa avalize essa fraude é compreensível pelos seus acordos de sustentação do regime político pseudodemocrático, mas correntes políticas que se reclamam Leninistas patrocinarem essa ilusão eleitoralista em um processo integralmente fraudado, é de uma adaptação sem tamanho as instituições burguesas.

Lembremos que no artigo “O fascismo e o Brasil” (15.05.2018), o PSTU declarava “Quem afirma que existe um movimento fascista com algum peso na realidade brasileira e é consciente da inverdade que propaga, alberga outros objetivos. Sendo o fascismo a forma mais selvagem e abominável da contrarrevolução, e diante de uma ameaça tão grave, querem justiçar sua adesão à Frente Ampla chamada pelo PT. Mas se tal perigo existisse de fato, não o combateríamos com a adesão a um dos blocos burgueses que disputam o controle do Estado”.

 O PSTU, que negava até ontem o avanço das tendências fascistas no Brasil e denunciava a pressão para apoiar o PT, PCdoB e PSOL em nome desse “fantasma” agora prega que pelo voto na Frente Popular e integrando uma frente ampla “democrática” com o PDT e Rede. Quanta mudança em tão pouco tempo! Até ontem literalmente o PSTU tentava nos convencer que “Não é avanço do fascismo o que está acontecendo no Brasil” (02.04.2018). De repente o PSTU deu um giro de 180º para justificar sua frente “ampla” com PT, PCdoB, PDT, PSOL, Rede.

A militância do PSTU deve esta confusa porque até 2018 seu partido criticava duramente as posições do atual PSTU, recorrendo a Trotsky no artigo “O fascismo e o Brasil” (15.05.2018) “Para Trotsky, o fascismo não seria detido através das eleições. Isto porque o objetivo do fascismo era aniquilar a democracia burguesa e construir um regime de terror a serviço dos grandes monopólios. Desmoralizar a classe operária com métodos de guerra civil, antes que possa dar um golpe ou mesmo conquistar o governo pela via eleitoral. Por isso, ao mesmo tempo em que defende a profunda unidade na luta, Trotsky polemiza com as organizações do movimento operário que propõe ao PC alemão uma coalizão eleitoral com a Social Democracia, para ‘barrar o fascismo’. Ao contrário, defendeu que o Partido Comunista Alemão (PCA) tivesse seus próprios candidatos: A ideia de propor o candidato à presidência, pela frente única operária, é uma ideia radicalmente errônea. Só se pode propor um candidato na base de um programa definido... Defendia a Frente Única, um acordo baseado em: Como combater, quem combater e quando combater? Nisto, pode-se entrar em um acordo com o próprio diabo, com a sua avó…”. Qual PSTU tem razão, o que capitula a Frente Popular ou o que reivindica Trotsky?

Com estes argumentos “excepcionais” chegamos à conclusão que os Morenistas são crédulos que esse processo eleitoral pode barrar a extrema-direita, por essa razão resolveram integrar uma suposta “Frente Única Antifascista” eleitoral. A formação de uma frente única para combater o fascismo, nada tem a ver com apoio parlamentar ou eleitoral a socialdemocracia. Na Espanha Trotsky defendeu ampla unidade contra o franquismo, porém criticou duramente o POUM (organização centrista) que votou a favor do governo Largo Caballero, derrubado posteriormente pela reação fascista... Vejamos o que denuncia nosso mestre bolchevique no artigo “A traição do ‘Partido Operário de Unificação Marxista’ espanhol” escrito em 1936: “Os jornais nos informam que na Espanha o conjunto dos partidos ‘de esquerda’, tanto burgueses como operários, constituíram um bloco eleitoral sobre a base de um programa comum, que, evidentemente, em nada se distingue do programa da ‘Frente Popular’ francesa nem de todos os outros programas charlatanescos do mesmo gênero. Ali encontramos ‘a reforma do tribunal de garantias constitucionais’, a manutenção rigorosa do 'princípio de autoridade' (!!), a 'libertação da justiça de todas as pressões de ordem política ou econômica' (A libertação da justiça capitalista da influência do capital!) e outras coisas do mesmo gênero. O programa constata a recusa, da parte dos republicanos burgueses que participam do bloco, de nacionalização da terra, porém, em 'em compensação', ao lado das habituais promessas baratas aos camponeses (créditos, revalorização dos produtos da terra etc.), ele proclama (como um dos seus objetivos) o saneamento (!!) da indústria', e a 'proteção da pequena indústria e do comércio' segue-se o inevitável 'controle sobre os bancos' no entanto, uma vez que os republicanos burgueses segundo o texto de este programa, rejeitam o controle operário, trata-se do controle sobre os bancos... pelos próprios banqueiros, por intermédio dos seus agentes parlamentares, do mesmo gênero de Azaña e de seus semelhantes. Enfim, a política exterior da Espanha deverá seguir 'os princípios e os métodos da Sociedade das Nações'. E que mais? Assinaram, ao pé deste documento vergonhoso, os representantes dos dois grandes partidos burgueses de esquerda, o Partido Socialista Operário Espanhol, a União Geral dos Trabalhadores, o Partido Comunista (evidentemente!), as Juventudes Socialistas - ai! -, o 'Partido Sindicalista' (Pestaña) e, por último, o 'Partido Operário de Unificação Marxista' (Juan Andrade). A maioria destes partidos esteve à cabeça da revolução espanhola durante os anos do seu ascenso e eles fizeram tudo ao seu alcance para esgotá-la. A novidade consiste na assinatura do partido de Maurín-Nin-Andrade. Os antigos 'comunistas de esquerda' se transformaram simplesmente no vagão a reboque da burguesia 'de esquerda'. É difícil conceber uma queda mais humilhante!”.

Aqui Trotsky literalmente repudia o apoio eleitoral a socialdemocracia em nome de derrotar nas urnas a “ameaça fascista” em uma realidade análoga a que passamos hoje. Os Trotskistas estão pela unidade de ação contra o fascismo e não pela formação de um bloco político comum eleitoral com a Frente Popular, que desarma a resistência de classe a ascensão da direita.

Longe de alimentar métodos “democráticos-parlamentares” ou “pacifistas” em nome do combate o fascismo como apregoa hoje o PT e o PSOL com seu chamado a apoiar uma frente eleitoral “democrática” contra a direita, devemos como Trotskistas chamar as bases do PT, da CUT e seus apoiadores a romper com a política de colaboração de classes para combater decididamente contra a reação burguesa nas ruas, fábricas, escolas, construir a Greve Geral, os comitês de autodefesa, as milícias armadas!

É preciso deixar claro que foi o PT, PSOL, PCdoB com sua política de colaboração de classes quem pavimentou a ascensão da direita, do Centro burguês e do próprio Bolsonaro. Mas o PSTU não quer se isolar da burocracia sindical que apoia as candidaturas da Frente Popular. Depois de pagar um preço alto pelo isolamento de não ter se oposto ao golpe parlamentar contra Dilma (o que sem dúvida foi um erro político grave) agora resolveu “espiar seus pecados” e votar no PT, PSOL e PCdoB, argumentando o perigo da “direita” quando dizia que sequer existia “onda conservadora” no Brasil! 

O mais grave é que o PSTU resolveu apoiar a Frente Popular justamente quando os candidatos do PT, PCdoB e PSOL rebaixam ainda mais seu programa para agradar a burguesia, como fez Boulos anunciando que vai apoiar a PM e a aparelhar a CGM. 

Chamamos todos os militantes, lutadores e ativistas que defendem o Voto Nulo a cerrar fileiras conosco na luta direta contra o fascismo! Muitos camaradas críticos à posição do PSTU denunciam que a “Rebelião acabou nas urnas da democracia burguesa”, o que é sem dúvida a mais completa verdade política. Devemos tirar as lições dessa capitulação do PSTU para forjar uma alternativa revolucionária ao fascismo, sem cair nos braços da Frente Popular. Essa é a mais importante tarefa que se impõe neste momento histórico!