quinta-feira, 26 de novembro de 2020

MARADONA: LEGADO DE GENIALIDADE AO “FUTEBOL ARTE” E UM CRAQUE ENGAJADO NA LUTA ANTI-IMPERIALISTA

Nos deixou ontem o grande "el pibe de oro",  Diego Maradona. Além de sua genialidade como jogador de futebol, Maradona também foi extraordinário por suas posições progressistas e anti-imperialistas como a defesa de Cuba e da Venezuela, na luta pela unidade dos povos latino-americanos frente à opressão imperial dos EUA e da Europa. Como já salientamos no artigo anterior, Maradona não era propriamente um revolucionário, mas sua conduta política sempre o colocou no campo da esquerda, o distinguiu substancialmente de muitos jogadores de futebol, mercenários, que via de regra, são alienados e/ou cooptados, colaborando incondicional e acriticamente com os interesses dos bandos capitalistas e imperialistas.

Também chamado carinhosamente pelos argentinos de "Dieguito", Diego Armando Maradona nasceu em 30 de outubro de 1960 na Villa Fiorito, periferia de Buenos Aires, sendo o quinto dos oito filhos de uma família proletária. Sua infância foi marcada pelas dificuldades econômicas vividas por sua família, por um lado e pelo surgimento precoce do seu enorme talento para jogar futebol, por outro. 

Ainda criança despertou o interesse dos clubes da cidade. Foi pelo Argentinos Juniors que estreou profissionalmente, com apenas 15 anos, em 20 de outubro de 1976, mas já era conhecido dos torcedores desde muito antes por ser o menino de rara habilidade que brincava com a bola no intervalo dos jogos no estádio que atualmente leva seu nome. 

No ano seguinte foi convocado para a seleção argentina principal, sua estreia o tornou o jogador mais jovem a conseguir tal feito. Já em 1979, conduziu a seleção sub-20 ao título mundial. Em 1981, aos 20 anos, Maradona foi vendido ao Boca Juniors-ARG, seu time de coração, disputou apenas uma temporada, conseguindo sagrando-se campeão argentino. 

Após a copa de 1982 Espanha, foi vendido para o Barcelona, onde ficou por duas temporadas. Em conflito com a diretoria , acabou aceitando a proposta da Nápoli em 1984, e se transferiu para a equipe italiana, principal centro mundial do futebol na época. Maradona ao lado do brasileiro Careca consegue levar a equipe napolitana ao inédito título, do campeonato nacional e da copa da Itália na temporada 1986/1987.

Pela seleção argentina, faz história na Copa do Mundo de 1986 no México, ao conquistar o título de campeã, fazendo atuações espetaculares em todas as partidas, como contra seleção da Bélgica e, sobretudo, contra a seleção da Inglaterra onde desfilou sua genialidade, marcando dois gols, um utilizando o ilusionismo “la manita de deus” e o outro uma verdadeira obra de arte, um baile, driblando metade da equipe adversária antes de marcar. 

A importância da dessa brilhante atuação de Maradona ganha ainda mais relevância pelo momento político, passados somente dois anos do encerramento da chamada guerra das Malvinas (1982), travada entre a imperialista Inglaterra e a Argentina.

A humilhação imposta por Maradona a seleção Inglesa, foi simbolicamente, no fugaz terreno do esporte, uma resposta a agressão imperialista sofrida pelos argentinos.

Na quarta temporada (1987/88), foi vice-campeão nacional e artilheiro do Italiano. Na quinta temporada (1988/89), foi novamente vice no Italiano e deu o primeiro título internacional ao Napoli, ao vencer a Copa da Uefa. Já em 1989/90, voltou a conquistar a Série A italiana, antes de ser vice-campeão da Copa do Mundo da Itália em 1990 com a seleção argentina.

Em 1991, acabou suspenso do futebol por 15 meses devido ao uso de cocaína. Voltou a jogar em 1992, aos 32 anos, pelo Sevilla da Epanha.

Em 1994 participa da Copa do Mundo dos Estados Unidos. poém, foi pego novamente no exame antidoping e suspenso outra vez por 15 meses. Assim, somente no final de 1995, perto de completar 35 anos, voltou a jogar, quando regressou ao Boca Juniors, onde em 1997 encerrou a carreira.

Após sua aposentadoria como jogador, Maradona tentou a carreira de técnico, chegando a dirigir vários clubes, inclusive, a seleção Argentina, mas sem muito brilhou e com pouco sucesso. A decadência profissional como técnico caminhou em paralelo com dependência ao álcool e cocaína, o levando a série de internações para recuperação da dependência química, uma delas realizada em Cuba, assim como o agravamento do seu estado geral de saúde.

A simbiose entre “Dieguito” e sua legião de admiradores é resultado tanto do realizou com seu gigantesco talento nos campos de futebol como do reconhecimento e identificação, não só do povo argentino, mas outros países latino-americanos e pelo mundo afora, quanto por papel corajoso e firme de não se vergar ao imperialismo, sempre se posicionando, mesmo com suas limitações, de forma progressista.

Para além das criações de ídolos dos esportes realizadas pela grande mídia, a reverência  dos argentinos por Maradona rompe esse padrão, uma vez que sua foi diametralmente oposta ao modelo de ídolo “politicamente correto” e submisso, próprio do senso comum do mundo das celebridades do esporte. Sua tragetória de vida foi intensa marcada por vitórias, derrotas, dilemas, contradições, virtudes e fraquezas. Porém, sua forte personalidade, seu posicionamento engajado em defesa dos oprimidos e a genialidade nos campos de futebol, o torna imortal. Maradona viveu como era possível no seu tempo, com alegrias e angustias, mas não deixou de ser vanguarda. 

Com sua morte não faltaram os críticos, abertos ou dissimulados, que condenaram sua trajetória de vida fora dos campos, o seu comportamento “polêmico” e os excessos cometidos. 

Ao render essa homenagem a Maradona, preferimos aceitá-lo, compreendê-lo e reconhecê-lo como um grande ser humano, não mais que isso, como o fez Manu Chao na canção "La vida tombola", em homenagem ao ídolo argentino, onde diz: " se eu fosse Maradona viveria como ele, porque o mundo é uma bola que se vive na planta dos pés".