MORRE ROBERT FISK: O JORNALISMO INDEPENDENTE E
ANTI-IMPERIALISTA SOFREU UMA GRANDE PERDA
Robert Fisk, uma das maiores expressões do jornalismo independente e anti-imperialista, além de um profundo conhecedor da história do Oriente Médio, morreu neste domingo (01/11) aos 74 anos. Fisk era conhecido por sua coragem em questionar narrativas oficiais dos governos imperialistas e publicar o que descobriu de forma absolutamente independente de pressões, além de possuir uma narrativa brilhante. Não era um militante comunista, o que ao longo de sua longa trajetória pode ter gerado algumas abordagens distintas do marxismo revolucionário, entretanto tinha uma firme concepção de independência diante do consórcio da mídia corporativa, a mesma mídia “murdochiana” que hoje, diante da crise capitalista elevou a enésima potência sua centralização mundial. Fisk ingressou no “The Independent” em 1989, vindo do “The Times” e rapidamente se tornou seu escritor e autor mais reconhecido. Ele continuou a escrever para o periódico “The Independent” até sua morte hoje em Dublin, por motivo de um acidente vascular cerebral.
Muito do que Fisk escreveu era controverso, algo que ele parecia saborear. Em 2003, enquanto os Estados Unidos e o Reino Unido se preparavam para a invasão do Iraque, Fisk foi às Nações Unidas em Nova York, onde viu o então secretário de Estado Colin Powell apresentar um caso inexpressivo a favor da guerra:"Houve uma abertura quase macabra da peça quando o general Powell veio ao Conselho de Segurança, beijando os delegados na bochecha e colocando seus grandes braços em volta deles". Hoje o genocida de guerra Powel é um dos mais fervorosos apoiadores do Democrata Joe Biden.
Fisk, que nasceu em Kent na Inglaterra e estudou na Lancaster University, começou sua carreira na Fleet Street no Sunday Express. Ele então passou a trabalhar para o The Times, onde trabalhou na Irlanda do Norte, Portugal e Oriente Médio. Por décadas ele morou na cidade libanesa de Beirute, onde cobriu com maestria a guerra civil. Ele optou por viver e trabalhar lá enquanto o país era dilacerado pelas potências imperialistas e vários jornalistas eram vítimas de sequestradores.
Fisk, que recebeu como jornalista vários prêmios, incluindo a Amnistia Internacional, também escreveu importantes livros, “Pity the Nation: Lebanon at Wary”, “The Great War for Civilization:The Conquest of the Middle East”. Ele foi o único jornalista a entrevistar Osama bin Laden, por duas vezes. Após os ataques de 11 de setembro e a subsequente invasão do Iraque pelos Estados Unidos e Reino Unido, ele viajou para a fronteira Paquistão-Afeganistão, onde foi atacado por um grupo de refugiados afegãos, furiosos com a morte de seus compatriotas nas mãos das forças ocidentais. Ele escreveu: “Percebi que havia todos, homens e meninos afegãos que me atacaram e que nunca deveriam ter feito isso, mas cuja brutalidade era produto de outros, de nós, de nós que armamos sua luta contra os russos e ignoramos sua dor, e eles riram de sua guerra civil e então se armaram e foram pagos novamente pela "Guerra pela Civilização" a alguns quilômetros de distância e então bombardearam suas casas e dividiram suas famílias e chamaram isso de "dano colateral". Fisk também morou em Bagdá para cobrir a Guerra do Golfo e criticava constantemente os outros correspondentes estrangeiros, acusando-os de cobrir a guerra de dentro dos seus quartos de hotel.
“Destemido, rigoroso e determinado a descobrir a verdade e a
realidade a qualquer custo, Robert Fisk foi o maior jornalista de sua geração.
O fogo que ele acendeu no “The Independent” continuará ardendo”, declarou
Christian Broughton, diretor de Redação do periódico britânico.