quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

EM 17 DE JANEIRO DE 1961 O IMPERIALISMO E SEUS AGENTES ASSASSINAM PATRICE LUMUMBA NO CONGO: HERÓI DA LUTA PELA INDEPENDÊNCIA PAGOU COM A VIDA PELA POLÍTICA DE COLABORAÇÃO DE CLASSES DO STALINISMO


Em 17 de janeiro de 1961 Patrice Lumumba foi assassinado pela ação conjunta de agentes da CIA, do exército belga e seus asseclas congoleses, com a cumplicidade das tropas da ONU, intervenção das forças militares a serviço do imperialismo que ele mesmo tinha reivindicado para "pacificar" o Congo. Neste trágico dia de 1961, há 58 anos atrás, levaram-no para um descampado. Era noite. Mal podia caminhar, havia sido submetido a bárbaras torturas. Foi afogado em sangue por um esquadrão de fuzilamento. Desenterraram depois o cadáver e dissolveram-no em ácido sulfúrico. Tiveram que despedaçar o corpo para que não ficassem impressões. O presidente-general ianque Eisenhower em pessoa havia ordenado matá-lo e a CIA tratou de orquestrar o seu assassinato como parte da luta contra os movimentos de libertação nacional no continente africano. Lumumba havia liderado, em 1959, um forte movimento nacionalista após décadas de exploração colonial. O ascenso da luta de libertação nacional fez explodir uma série de levantes que ameaçavam o domínio belga no país. Temendo a revolta popular, o governo da Bélgica resolveu negociar uma "independência", garantindo as propriedades e os bens das empresas estrangeiras e, portanto, a continuidade da exploração colonial no Congo. A "independência" do então Zaire, apesar das gigantes mobilizações populares protagonizadas na época, foi um processo negociado entre a Bélgica, o imperialismo francês e o frente-populista Movimento Nacional Congolês (MNC) de Patrice Lumumba, onde esteve garantida a absoluta subserviência do país aos grandes monopólios com a intocabilidade da propriedade privada. Todo esse processo de garantias feitas por Lumumba e a história de férreo domínio do imperialismo sobre o Congo, terceiro maior país da África com uma população de 42 milhões, reside no fato de ali estarem localizadas imensas reservas minerais, sendo este o primeiro produtor mundial de cobalto, o segundo em diamantes industriais, ter em seu território a maior reserva de gás natural do mundo, além de enormes jazidas de cobre, ouro e prata.



Como prova desse acordo, em 30 de junho de 1960, foi constituído um governo de coalizão entre o Partido Abako, do presidente Joseph Kasavubu e o MNC do primeiro-ministro Patrice Lumumba. Apesar de todas as garantias dadas aos capitalistas pelo governo Kasavubu-Lumumba, quatro dias após a formação do gabinete, Moisés Tshombe, chefe do Partido Conakat e governador da província de Katanga (atual Shaba), onde estão concentradas imensas reservas de ouro, cobre e estanho, promoveu a separação daquela província através de uma rebelião apoiada por tropas mercenárias belgas e financiada por grupos econômicos internacionais interessados na rapina das riquezas minerais do país, entre os quais estava a União Mineira do Alto Katanga, multinacional sediada em Bruxelas. Os conglomerados minerais belgas e franceses, temendo qualquer tipo de nacionalização diante do ascenso popular que pressionava o governo, optam por romper o acordo e tornar a região autônoma.

A política de frente popular de Patrice Lumumba leva-o a reivindicar a intervenção do imperialismo para solucionar o conflito, ao invés de se apoiar na enorme disposição de luta das massas. Atendendo ao pedido de intervenção do governo, a ONU enviou tropas belgas, que na prática assumiram a tarefa de proteger as forças reacionárias sediadas em Katanga contra a possibilidade dessas forças serem varridas do Congo por uma insurreição popular. O chamado de Lumumba à intervenção da ONU representou ainda mais o reforço dos grupos imperialistas e colocou em marcha uma ofensiva militar contra o próprio MNC.

A ofensiva imperialista obrigou Lumumba a recorrer a URSS, que enviou aviões, técnicos, armas e munições. Apesar disso, toda a política de Lumumba e do stalinismo estava baseada em buscar uma saída negociada para a crise através de um chamado para que se cessassem os enfrentamentos, fortalecendo e ampliando o governo de coalizão nacional. O resultado dessa orientação representou um duro golpe sobre as aspirações dos explorados do Congo em se livrar do jugo imperialista e acabou desembocando na destituição de Patrice Lumumba através de um golpe de estado em setembro de 1960, dirigido pelo próprio presidente Joseph Kasavubu que nomeou o então coronel Mobutu como chefe do estado maior do Exército. Mobutu iniciou uma perseguição implacável contra o movimento operário do Zaire, particularmente aos militantes do MNC, chegando ao ponto do próprio Lumumba ser sequestrado por agentes da CIA e do exército belga, sendo torturado e entregue às forças mercenárias de Katanga, quando foi brutalmente assassinado.

Tragicamente, Lumumba pagou com o preço de sua vida pela política de colaboração de classes que patrocinou e representou simbolicamente a derrota dos movimentos de libertação nacional na África. A retirada das tropas da ONU do Congo só ocorreu quando Moisés Tshombe assumiu o cargo de primeiro-ministro com o apoio dos EUA e da Bélgica. Em 1965, o próprio general Mobutu, após destituir Tshombe, derrubou Kasavubu e impôs um regime ditatorial apoiado pelos EUA, com o objetivo de derrotar todos os focos de guerrilha existentes no país, os quais tinham a influência chinesa, soviética e cubana. A implantação de regimes ditatoriais representou um recurso do imperialismo norte-americano e francês para barrar o ascenso revolucionário no continente africano, ofensiva reacionária que a política de conciliação patrocinada stalinismo era incapaz de se contrapor.