EUFORIA DO REFORMISMO COM O FIM DO PETRODÓLAR E O NASCIMENTO DO “PETROYUAN”: TROCAR UM IMPERIALISMO IANQUE POR OUTRO CHINÊS É O OBJETIVO DO PROLETARIADO?
A Arábia Saudita anunciou esta semana que não vai renovar o acordo do petrodólar, assinado em 1974 com EUA, o acontecimento foi comemorado pela esquerda reformista como sendo o “início do fim” do imperialismo norte-americano, mas será isso mesmo?
Em 1973, com o fim da guerra dos países árabes contra o enclave de Israel foi alterada a equação que até então fundamentava o pós-guerra de forma ainda mais sólida do que os históricos acordos de Bretton Woods. Com a celebração do pacto de “convivência pacífica”, entre as burguesias árabes e o sionismo, avalizado por Moscou e a Casa Branca, o imperialismo ianque deu mais um passo em direção ao seu parasitismo global: o petróleo foi substituído pelo petrodólar. Este fato ficou gravado na história como “a crise do petróleo”.
A “crise do petróleo” teve seu desfecho em 20 de janeiro de 1974 com um discurso ameaçador do Presidente Nixon perante o Congresso norte-americano, o regime saudita capitulou e suspendeu o embargo de sua produção de óleo em troca de “promessas vazias” do regime sionista, amparado por Washington. Em 9 de Junho de 1974, um acordo foi firmado: durante cinquenta anos, a Arábia Saudita comprometeu-se a fixar o preço do seu petróleo em dólares e a investir os seus lucros em títulos do Tesouro norte-americano.
Assim nasceu o petrodólar que desde então é utilizado pelo capital financeiro como uma moeda para seu o casino internacional, embora em vez de apostar com seu próprio patrimônio emita títulos das dívidas de todos os tipos: públicas e privadas, internas e externas. A moeda fiduciária, e em particular o dólar, inflou os mercados globais como um padrão mundial. Os Estados Unidos imprimem dólares e países como a Arábia Saudita os guardam no Tesouro norte-americano em vez de os colocam em circulação. O regime saudita encheu o mundo de petróleo e os Estados Unidos encheram-no de dólares.
Entretanto em 2022, o nascente imperialismo chinês e a Arábia Saudita começaram a firmar um grande acordo global: negociar o pagamento das compras de petróleo na moeda chinesa, ou seja, em yuans. Em Janeiro do ano seguinte, o Ministro das Finanças saudita, Mohammed Al Jadaan, anunciou que estava disposto a receber sua exportação de “ouro negro” em outras moedas que não fosse o dólar.
Em Novembro de 2023 a China e a Arábia Saudita assinaram um acordo de conversão de câmbio nacional no valor de 70 bilhões de dólares para facilitar a cooperação econômica mútua. Um mês depois, o “insuspeito” Wall Street Journal informou que cerca de 20 por cento das transações globais de petróleo no ano passado foram liquidadas em outras moedas que não o dólar. Esse processo de golpe letal contra o petrodólar culminou agora com decisão da Arábia Saudita de se tornar membro da plataforma “mBridge“, que facilitará a desdolarização do comércio de petróleo, assim o governo de Riade juntou-se a mais de 26 membros produtores de óleo.
Sem sombra de dúvida, um acontecimento significativo da escalada na crise da economia capitalista mundial, marcado pela ascensão do imperialismo chinês, comemorado pela esquerda reformista, agora batizada de multipolar, como sendo a “agonia final” do imperialismo ianque. Porém a realidade geopolítica internacional ainda está bem distante dos sonhos dos multipolaristas de plantão, quase todos bem remunerados pelo caixa do Brics. O padrão dólar, embora muito “castigado” pelo agravamento do crash econômico global, não será substituído gradualmente pelo yuan chinês, simplesmente porque Pequim está bem distante de ser o centro gravitacional do imperialismo mundial.
Os EUA se tornaram a “sede política” da Governança Global do Capital Financeiro, impondo sua moeda, após sua vitória na Segunda Guerra Mundial e esta posição hegemônica não será abdicada sem uma estrondosa derrota militar. Por mais que as corporações financeiras internacionais tenham transferido seus investimentos para a China, o “Dragão Asiático” não tem capacidade, e tampouco pretende, acabar por completo com a hegemonia norte-americana.
Ao contrário das narrativas fantasiosas dos reformistas, o “mundo multipolar” pressupõe a coexistência dos dois polos imperialistas (por isso a designação do termo multipolar), com duas moedas fortes, e o mais importante: a burocracia restauracionista chinesa jamais pretendeu romper seus vínculos econômicos e políticos com quem patrocinou seu crescimento capitalista. Somente os cretinos da exquerda domesticada podem acreditar que uma hipotética troca na hegemonia mundial, substituindo a centralidade econômica do imperialismo ianque pelo chinês, poderia ser um objetivo estratégico da classe operária internacional.