segunda-feira, 30 de setembro de 2019

LULA AO “POVO BRASILEIRO”: FALTA AGORA FALAR DA OUTRA “CARTA AO POVO BRASILEIRO”, A DE 2002, ONDE PROMETIA GOVERNAR COM A BURGUESIA, A MESMA QUE LHE ENCARCERA HOJE...


Lula confirmou hoje (30/09) que não aceitará entrar na arapuca armada pelos Procuradores bandidos da famigerada operação Lava Jato. Uma posição justa e corajosa, apesar do pedido de seus familiares e de alguns dirigentes do PT, para que aceitasse a semiliberdade que a malfadada “República de Curitiba” estava a lhe “oferecer”. Porém com a mesma linha política da Frente Popular, busca uma aliança com os Ministros Golpistas do STF, alimentando mais uma vez nefastas ilusões nesta mafiosa Corte Suprema.Se a manobra política do bando criminoso de Deltan e Moro, que diante do desgaste provocado pela “Vaza Jato” e das “confissões” de  Janot, agora se apressa em seguir o “rigor da lei”, está cristalina, desgraçadamente não fica claro para a esquerda reformista que a estratégia de “frente ampla” com setores da burguesia golpista (arrependida?) poderá conduzir a desastres ainda piores. E essa mesma estratégia de colaboração de classes fica patente na nova “Carta aos brasileiros”, embora esta não trate especificamente de alianças eleitorais policlassistas ou compromissos econômicos neoliberais com a burguesia, como a “Carta” de 2002. Mas se debruçarmos atenção sobre as expectativas alimentadas por Lula nas mesmas instituições que instauraram esse regime de exceção, do qual sua prisão política é uma das melhores comprovações, vemos que a estratégia do PT e seus satélites continua exatamente a mesma que nos conduziu ao golpe parlamentar de 2016. Ao invés de convocar uma vigorosa mobilização nacional, galvanizando amplas camadas da classe trabalhadora e da juventude para lutar pela sua libertação imediata e incondicional pela via da ação direta das massas, Lula recorre às ilusões nas “instituições republicanas” do Estado capitalista: “Diante das arbitrariedades cometidas pelos procuradores e por Sérgio Moro, cabe agora a Suprema Corte corrigir o que está errado, para que haja Justiça independente e imparcial”.

A ausência da organização de um vasto movimento independente pela liberdade de Lula, faz parte de uma política consciente da direção do PT e não tem justificativa na falta de “ânimo da militância”, como afirmam as principais lideranças do partido. A posição distracionisra do próprio Lula, declarando que “um dia o povo terá que acordar”, revela que a Frente Popular realmente não busca o confronto com os carcereiros togados, aguardando uma “virada” da alta cúpula do judiciário, apesar de ter absoluta clareza que os recursos jurídicos impetrados pela defesa do ex-presidente só terão algum acolhimento no STF na medida da proximidade das eleições presidenciais de 2022. Em resumo, para o PT e também para a burguesia nacional, o destino político de Lula está diretamente relacionado às tendências eleitorais, e a própria “longevidade” ou não do governo neofascista de Bolsonaro. Como todas as pesquisas mostram um desgaste lento mas constante do projeto ultraneoliberal de Guedes, levado a cabo pelo Planalto, a consigna “Lula Livre” fica à mercê do calendário eleitoral segundo o cretinismo parlamentar das lideranças reformistas da Frente Popular.

Como Marxistas não acreditamos que o exercício da História é algo desnecessário como “memórias” que não servem muito para uma intervenção concreta na contemporaneidade. Por isso mesmo não seria demais recordar que após a “Carta ao povo Brasileiro”, onde a burguesia lhe creditou a vitória eleitoral, Lula inicia seu governo em 2003 justamente com a proposta de uma (contra)reforma da Previdência, além de apresentar ao “povo” os novos aliados do PT, como Sarney, Maluf, Collor e afins... Passado o “boom econômico” de cerca de uma década, da bolha de crédito e das supervalorização das commodities, a mesma burguesia que acumulou tanto lucro com os governos petistas, se voltou com todo seu “ódio de classe” contra a Frente Popular, golpeando seu governo e encarceramento o próprio líder maior da esquerda reformista que pregava a “conciliação”. Parece que Lula não conseguiu abstrair as lições programáticas de sua prisão política, e tenta reeditar agora em “tamanho miniatura” outra “Carta ao povo brasileiro”, com um aceno ao STF, “Centrão” e ao movimento “Direitos Já!”.