O ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou
nesta quinta-feira, 26/09 que chegou a ir armado para o Supremo Tribunal
Federal (STF) com a intenção de assassinar o ministro Gilmar Mendes: “Não ia
ser ameaça não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele (Gilmar) e depois me
suicidar” (entrevista de Janot ao jornal O Estado de S. Paulo). Não por
coincidência o STF julgou nesta mesma quinta-feira um habeas corpus que
defendia que réus delatados deveriam apresentar alegações finais após os réus
delatores em ação penal, uma tese que foi aprovada por ampla maioria na seção
da Corte e que levará necessariamente a anulação de dezenas de sentenças
fraudulentas da Lava Jato, chanceladas pelo justiceiro Sérgio Moro. A
“confissão” pretérita de Janot não tem nada do tipo de um “peso na consciência”
por parte de um criminoso, na verdade é a senha para a deflagração de um ataque
geral ao STF por partes das hordas bolsonaristas, que já preveem uma série de
derrotas da famigerada “República de Curitiba” hoje encastelada no Palácio do
Planalto. O banditismo confesso de uma figura que esteve à frente de um
organismo nacional de “defesa da constituição” colocou a nu o caráter das
máfias burguesas que controlam todo o sistema judiciário do país. Em particular
Rodrigo Janot, teve um papel de protagonismo político no golpe institucional
que derrubou o governo petista da presidente Dilma Rousseff, fornecendo todo o
suporte da PGR para “amedrontar” os ministros do STF, que na época seguiram à
risca a cartilha da farsa da Lava Jato. Gilmar Mendes, o suposto desafeto de
Janot, foi um dos principais impulsionadores do impeachment de Dilma no
Supremo, chegando mesmo anular a nomeação de Lula como Ministro de Estado do
governo petista. Agora a disputa inter burguesa pelo controle da máquina
estatal atinge um grau elevado, fazendo com que antigos adversários se
unifiquem na oposição ao atual governo neofascista de Bolsonaro. É o caso de
Gilmar Mendes, um golpista de primeira hora e que agora enfrenta a “fúria” dos
lavajatistas e bolsonaristas, inconformados com sua nova postura em apoio ao
setor garantista do STF. O “segredo” da virada nas posições de Gilmar na Corte
encontra-se na formação do chamado “Centrão”, bloco parlamentar que controla o
Congresso Nacional, aprovando integralmente na agenda neoliberal de Paulo
Guedes, mas se colocando como “oposição moderada” ao governo Bolsonaro. Gilmar
e Rodrigo Maia atuam em total sintonia política e ameaçam quebrar a frágil
maioria da Lava Jato estabelecida nas instâncias superiores da República após o
golpe parlamentar de 2016. Obviamente que as forças da Frente Popular (PT, PSOL
e PCdoB) também ingressaram de “carona” neste novo bloco de poder do Centrão,
com algumas ressalvas, mas de olhos fixados nas eleições presidenciais de 2022.
Estes “arranjos” sem nenhum princípio programático da política burguesa têm
gerado uma certa confusão nas trincheiras dos neófitos fascistas, que
escolheram o que consideram “elo” mais fraco no STF para deflagrarem um ataque
de proporções ainda imprevisíveis, como demonstrou as últimas declarações do
sicário Rodrigo Janot.