46 ANOS DO GOLPE MILITAR CONTRA SALVADOR ALLENDE: “ONTEM” COM PINOCHET NO CHILE... HOJE COM BOLSONARO NO BRASIL, A LIÇÃO HISTÓRICA É QUE O FASCISMO SOMENTE PODE SER ESMAGADO PELA AÇÃO REVOLUCIONÁRIA DO PROLETARIADO E NÃO PELA VIA ELEITORAL!
Há 46 anos, em 11 de Setembro de 1973, era desferido um
golpe de corte fascista patrocinado diretamente pelo imperialismo ianque (em
uma operação direta da CIA) pelas FFAA contra Salvador Allende, dirigente
máximo do PS. A ofensiva da contrarrevolução comandada pelo facínora Pinochet,
o chacal elogiado pelo fascista Bolsonaro, ganhou terreno e desferiu sua
investida fatal nesta data trágica para o proletariado mundial como produto
direto da política de colaboração de classes do governo da Unidade Popular encabeçado
por Salvador Allende. A UP correspondeu às características clássicas de uma
frente popular, onde a burguesia em crise extrema e sob a pressão do ascenso
popular faz concessões e entrega as linhas gerenciais do Estado burguês a
partidos reformistas de massas (PS e PC) para que estes controlem o movimento
operário nos marcos do regime político burguês, orientação conhecida como “via
pacífica ao socialismo”. Os reformistas
tanto no Chile como no Brasil de hoje, como o PT de Lula, ainda hoje insistem na
via parlamentar como eixo central de intervenção da “esquerda” e do movimento
operário, demonstrando que também são reféns da estratégia reformista de
alterar o caráter de classe das apodrecidas instituições do regime político
bastardo democratizante, patrocinando trágicas ilusões entre os trabalhadores,
senda contrarrevolucionária que leva nos nossos dias, assim como ocorreu no
passado, a derrotas sangrentas para o proletariado latino-americano. Em comum
aos dois períodos históricos somente a política seguidista dos reformistas, que
em nome do "combate à direita" abdicam da tarefa de preparar a
independência de classe do proletariado frente às diversas variantes políticas
das classes dominantes e pavimentam o caminho da derrota seja pela via parlamentar
ou pelas armas. No Brasil, o PT foi golpeado no parlamento pelos seus
ex-aliados das oligarquias e não ousa questionar as carcomidas instituições
burguesas, como o parlamento e a justiça patronal! Ao contrário, a Frente
Popular patrocina que devemos nos limitar a derrotar o fascista Bolsonaro “nas
urnas” em 2022 quando os trabalhadores devem se organizar par liquidar a reação
burguesa da extrema-direita através da luta direta revolucionária!
A vitória eleitoral de Allende e da UP em 1970 ocorreu
quando as massas estavam em uma mobilização ascendente que ameaçava destruir o
Estado burguês. O aniquilamento eleitoral da direita (Partido Nacional), a
derrota do democrata-cristão Eduardo Frei — em condições de divisão da
burguesia — era uma expressão aberta de que estava na ordem do dia para as
massas chilenas a luta por construir um governo operário e camponês. Para sair
dessa encruzilhada, que a própria evolução da luta de classes impunha, os
partidos frentepopulistas se aliaram com a burguesia, o exército e o clero com
o objetivo de preservar a ordem capitalista. Essa tarefa era impossível sem
desorganizar as massas e derrotá-las. Esta foi a função política que veio a ter
o governo da UP: organizar a derrota pacífica dos trabalhadores e, portanto,
pavimentar o caminho para o seu esmagamento sangrento. No programa da UP, a
conquista do poder deveria ocorrer a partir de mecanismos institucionais
existentes através de um processo gradual, progressivo e pacífico, ou seja,
rechaçava a tarefa de armar as massas para pôr abaixo o Estado burguês em um
enfrentamento direto com a burguesia nacional e o imperialismo. As reacionárias
instituições e estruturas capitalistas deveriam ser transformadas
paulatinamente sem a necessidade de organismos de poder popular e soviéticos que
superassem e destruíssem a estrutura jurídica, política e econômica que
mantinha de pé o regime burguês. Essa utopia reacionária pregava que a ordem
capitalista deveria ser transformada a partir da institucionalidade montada
para mantê-la, a passagem do poder de uma classe para outra deveria ocorrer sem
que se abrisse um processo revolucionário para sua conquista. Cumprindo esse
objetivo, Allende promulgou uma lei que dava poderes ao Exército para fazer
apreensões de armas sem aviso prévio. Esta medida estava dirigida às fábricas
ocupadas e aos partidos de esquerda, em especial o MIR (Movimento de Esquerda
Revolucionário) que possuía um contingente de mais de 16 mil homens armados,
que compunham a própria UP. Ao mesmo tempo em que exigia o desarmamento dos
cordões industriais, em meio à maior crise militar de seu governo, nomeou
Augusto Pinochet como chefe das FFAA. A cúpula da coalizão governista
apoiava-se nestes organismos de base exclusivamente para pressionar a direita e
buscar uma solução negociada para a crise, conferindo-lhe funções de
colaboração com o governo. Ademais, o próprio Allende e o PC se manifestam
contra os organismos de base, taxando-os de esquerdistas e desestabilizadores
do quadro jurídico-político e institucional. Dado o peso e a influência da UP
no movimento operário e popular (CUT e sindicatos) e a ausência de um partido
revolucionário que dirigisse esses setores mais conscientes, a vanguarda
classista que se aglutinava em torno dos organismos de base não conseguiu se
contrapor frontalmente ao governo e às instituições do Estado burguês que,
naquele momento, eram apresentadas pelo PC e o PS como estando a serviço dos
interesses dos explorados. Em consequência dessa política criminosa, um dos
momentos de maior radicalização das massas foi desprezado e seu ímpeto contido,
como forma de garantir a estratégia política reformista. Alçada ao poder para
conter e desviar o avanço das massas trabalhadoras do campo e da cidade,
criando a ilusão de uma “via pacífica para o socialismo”, a frente popular foi
derrubada em um momento em que a classe dominante e o imperialismo conseguiram
organizar a contraofensiva auxiliados pela política da UP de desarmar o
proletariado e pactuar com os setores “constitucionalistas” da burguesia (DC) e
das FFAA. Como bem sintetizou Trotsky: “a política conciliadora das Frentes
Populares condena a classe operária à impotência e abre caminho para o
fascismo” (Programa de Transição, 1938).
No auge dessa crise, ocorre o golpe militar em setembro de
1973. Os trabalhadores resistiram heroicamente, as FFAA bombardearam as
fábricas ocupadas e os rendidos foram sumariamente fuzilados. As ilusões de
Allende que, horas antes de sua derrubada, chamava as massas a confiarem nos
militares “patriotas” foram cúmplices do massacre, ainda que o
“presidente-companheiro” tenha pagado com sua própria vida por elas. Com o
golpe militar, o exército sequestrou e assassinou mais de 8 mil militantes e
provocou o exílio e o cárcere de outros milhares. As Forças Armadas
bombardearam bairros populares, fuzilaram, prenderam milhares de pessoas nos
quartéis e, principalmente, no Estádio Nacional em Santiago do Chile. Por sua
vez, o imperialismo norte-americano, através da CIA, ajudou ativamente a
preparação do golpe. Esse massacre esteve a serviço de assegurar a
recolonização do país e a destruição das conquistas da classe operária. O
“pinochetaço” e o estabelecimento da ditadura militar finalizaram a curta
experiência do governo da UP. Hoje, assim como no passado, a política de
colaboração de classes da frente popular limita a radicalidade do movimento de
massas e sem uma plataforma revolucionária as lutas operárias e estudantis em
curso tem acabado por servir à demagogia “antineoliberal” do PS que, convertido
integralmente ao capital, retornou à presidência já não mais em nome da defesa
da “via pacífica ao socialismo”. Bachelet
voltou à presidência para gerir a reacionária ordem burguesa
“democrática” que mantém intacto o mesmo regime social de exploração da classe
trabalhadora vigente na ditadura militar!
Os longos anos de colaboração de classes do PS e do PC, em
razão da ausência de uma alternativa de direção revolucionária para as massas,
abriram caminho para o neopinochetismo, hoje reciclado com a máscara de uma
direita parlamentar, em face estar mantido intactas as bases políticas, o poder
dos militares torturadores genocidas e, inclusive, a reacionária constituição
de 1980, aprofundando de maneira combinada tudo isto o ataque sobre os
trabalhadores com novas e antioperárias reformas neoliberais.. Assim como no
passado, a política frentepopulista é a responsável pelas maiores derrotas
impostas à classe operária em nome da institucionalidade e da ordem burguesa,
seja no Chile ou no Brasil. Está colocada para a vanguarda classista chilena a
superação deste quadro de conciliação de classes, denunciando que os partidos
da “Concertación”, incluindo o PC e seus satélites patrocinam ilusões no regime
cívico-militar atual, apontando sua bússola para o norte da revolução
socialista para que não se repita a trágica experiência da “via pacífica ao
socialismo” interrompida há exatamente 46 anos pelo genocida golpe pinochetista
no Chile!