Um dado da pesquisa DataFolha de hoje (02/09) chamou
particularmente a atenção da esquerda reformista, sedenta de voltar a ocupar o
Planalto pela via eleitoral, para levar adiante sua política de colaboração de
classes. Não é o do aumento do desemprego ou mesmo a elevação do índice de
reprovação do governo neofascista de Bolsonaro, previsível diante do espetáculo
diário de ataques as conquistas e direitos da classe trabalhadora. O dado mais
relevante da pesquisa do ponto de vista político para a Frente Popular é o dos
“arrependidos”, pessoas que votaram em Bolsonaro no segundo turno, mas não
repetiriam o gesto se a eleição fosse hoje. De acordo com o DataFolha se o
segundo turno da eleição para presidente da República fosse hoje, Fernando
Haddad seria eleito com 42% dos votos, contra 36% de Jair Bolsonaro. Bastou a
divulgação destes “elementos estatísticos” para o PT e seus apêndices políticos
(PSOL e PCdoB) “abrirem a champanhe” para festejar o retorno à presidência da
República em 2022. O cretinismo parlamentar de uma esquerda reformista que tem
como seu único horizonte estratégico as eleições e a gestão burguesa do Estado
capitalista, parece não ter limites, mesmo quando está em pleno curso político
no país uma brutal ofensiva neofascista que tem como objetivo central a
destruição de todas as conquistas históricas do proletariado e da população
oprimida. Os cretinos da esquerda reformista “sonham” que poderão derrotar o
regime bonapartista de exceção, instaurado no Brasil após o golpe institucional
ocorrido em 2016, com a realização das futuras eleições, quando nem mesmo as
liberdades democráticas estão garantidas se depender da escalada fascista
desatada pelo governo Bolsonaro. Em meio a destruição da Previdência Pública,
ao sucateamento das universidades federais e o colapso do sistema de saúde
social (SUS), a Frente Popular sabotou conscientemente a organização da Greve
Geral e agora convoca a população a “votar certo” em 2022...
O “instituto” DataFolha também revelou que passados oito meses de governo neofascista o percentual dos que não aprovam a sua gerência aumentou de 33%, na pesquisa feita em julho, para 38% atualmente. Uma leitura completamente equivocada desses dados, desconectados da correlação de forças entre as classes sociais, leva a crer que o fim político de Bolsonaro é apenas uma questão de “contagem de tempo”, acelerado é claro pelas idiotices vocalizadas pelo fascista. Por esta lógica da Frente Popular, o melhor mesmo para o movimento operário é “esperar (quase) parado” o “armagedom”, ou no máximo “ir tocando” alguns “atos show” e “caminhadas” de caráter meramente eleitoral e sem o menor grau de radicalidade contra a ofensiva neoliberal em curso. O que a esquerda reformista não quer “enxergar” é o fato deste regime golpista estar assentado em sólidas bases do rentismo financeiro internacional, e por mais que a burguesia nacional (Famiglia Marinho, FIESP, clã Ferreira Gomes, etc..) faça o teatro de “oposição responsável”, Bolsonaro vem conseguindo cumprir integralmente a agenda do mercado financeiro, uma exigência econômica das classes dominantes diante da conjuntura de agravamento da crise capitalista, ficando o papel de “poder moderador” para o “Centrão” corrigir os “excessos” da besta fascista. Mantendo um suporte social mínimo, algo em torno de 20% da população, lastreado nas hordas reacionárias da classe média, é mais do que suficiente para Bolsonaro manter-se estável no Planalto, pelo menos até o momento em que deixe de “entregar o pacote” encomendado pelos rentistas e a burguesia: O draconiano “ajuste” neoliberal...
Mas as expectativas do PT e seus aliados não se resumem no
“desastre natural” do governo Bolsonaro, como se este desastre se levado por
mais tempo e até 2022, não fosse a própria catástrofe social para a conjunto da
condições de vida do povo brasileiro. Para Lula, encarcerado político da
famigerada Lava Jato, a conjuntura de “crise” exigiria a formação de uma
“Frente Antifascista”, porém a articulação proposta pela liderança do PT não
seria para ação direta do proletariado derrotar o governo, mas sim uma Frente
Ampla com o “Centrão” e setores do tucanato para se postar como “alternativa
democrática” a Bolsonaro nas próximas eleições presidenciais de 2022. Seguindo
essa orientação estratégica da Frente Popular o movimento de massas está
condenado a colher as mais graves derrotas diante da reação capitalista e por
consequência ficar paralisado e refém da própria decisão política da burguesia
de até quando Bolsonaro será útil para finalizar toda a agenda neoliberal do
imperialismo.