80 ANOS DA BATALHA DE STALINGRADO: PARA ALÉM DA “GRANDE GUERRA PATRIÓTICA”... UMA VITÓRIA
MILITAR HISTÓRICA CONTRA AS TROPAS NAZISTAS EM DEFESA DAS CONQUISTAS DA
REVOLUÇÃO DE OUTUBRO!
A batalha de Stalingrado, iniciada há 80 anos às margens do rio Volga durou 200 dias (17 de julho de 1942 a 2 de fevereiro de 1943) decidiu os rumos da Segunda
Guerra Mundial, marcando um ponto de virada favorável ao Exército Vermelho, já
que, desde o início da operação Barbarossa, os soviéticos se encontravam na
defensiva contra as estratégias da blitzkrieg utilizada pelos alemães nazistas.
No início da ocupação, a Alemanha buscava uma invasão rápida da URSS para
destruir o Estado Operário e, ao mesmo tempo, apropriar-se das riquezas
naturais para alimentar sua indústria bélica. Os primeiros momentos da invasão
da URSS foram positivos para os nazistas e indicavam que Hitler rapidamente
alcançaria o controle do leste europeu. Contudo, a partir da batalha de
Stalingrado, a resistência dos trabalhadores soviética mudou completamente o
sentido da Segunda Guerra Mundial, ao impor uma grande derrota ao exército
alemão e, logo em seguida, colocar de joelhos o regime nazista.
Apesar dos
“historiadores” a soldo do capital buscarem falsificar a história e para além da Grande Guerra Patriótica", a derrota do
nazismo foi efetivamente uma vitória militar do Exército Vermelho fundado por
Trotsky em defesa das conquistas da Revolução de Outubro. A batalha de Stalingrado foi um momento decisivo da Segunda Guerra
Mundial. Foi a primeira derrota do Exército nazista, a que preparou sua derrota
final. Além disso, foi o Exército Vermelho que esmagou o nazismo, enquanto os
norte-americanos mediam forças com o Japão pelo controle do Pacífico e os
ingleses se ocupavam prioritariamente em defender seu império colonial
ameaçado. Mas esta vitória, que custou caro em vidas ao Exército Vermelho, foi
obtida não graças a Stálin, mas apesar dele. A vitória soviética, como era de se esperar fortaleceu enormemente o stalinismo como principal direção política para o proletariado mundial, reduzindo a influência da IV Internacional a um pequeno círculo de propaganda, mas sem dúvida representou um golpe de morte no nazismo. Apesar das traições stalinistas, a onda revolucionária que se abriu no pós-guerra era uma evidência de que a heroica resistência do Estado operário soviético, ainda que burocratizado, foi um colossal estímulo para a luta de classes do proletariado mundial. Nos dias atuais, é fundamental resgatar o legado da vitória da resistência soviética sobre o nazismo, ainda que sob o comando de Stálin, para combater a atual ofensiva imperialista. Essa luta assume hoje na batalha contra o imperialismo que cada vez mais recorre à reação burguesa para impor seus interesses no planeta, como nas intervenções militares na Síria, provocações contra o Irã ou patrocinando os golpistas de extrema direita na Venezuela.
Desde 1937, Stálin fez de tudo para paralisar o Exército
Vermelho. Em nome dos interesses de seu grupo de burocratas e de seu próprio
poder, ele, entre 1937 e 1939, dizimou o alto comando do Exército Vermelho e o
corpo de oficiais. Em 1939, a partir da assinatura do pacto germano-soviético,
Stálin proibiu a propaganda antifascista, a ponto de bloquear a difusão na
Alemanha de um panfleto antifascista do Partido Comunista Alemão, reforçando
assim um pouco mais o regime de Hitler. Em 1º de dezembro de 1939, Stálin
desencadeou a invasão da Finlândia por empurrar a fronteira da URSS cerca de 30
quilômetros para o norte. O Exército Vermelho, desorganizado pelos expurgos,
privado de um comando experimentado, se paralisa longo tempo diante da forte
linha Mannerheim (linha de defesa da Finlândia) e sofre duras perdas durante
quatro meses. O Exército Vermelho perde então 126.875 homens, mortos,
desaparecidos ou aprisionados, contra apenas 20 mil baixas do Exército
finlandês. A URSS, revelando sua fraqueza militar, encoraja Hitler a atacar.
Hitler tinha feito ataques esparsos à União Soviética algumas vezes, mas o
comportamento do Exército Vermelho ajuda o nazista a convencer seu Estado Maior
de que poderia atacar a URSS antes de pôr a Inglaterra de joelhos, em um
momento em que a vitória parecia muito fácil… Eis porque, em dezembro, ele
adota o plano Barbarossa de ataque à URSS. Mas Stálin não toma nenhuma medida
para preparar a defesa da URSS. Ele espera persuadir Hitler com sua passividade
e com a pontualidade pela qual atende todos os pedidos da Alemanha nazista de
minerais diversos. O marechal Joukov assinala: “Até o início da agressão à
União Soviética, a esperança de adiar a guerra nunca abandonou Stálin”. Sua
incompreensão total da política e da psicologia de Hitler levou-o a proibir
qualquer medida que o nazista pudesse ver como uma provocação. Stálin ignora
todas as advertências que lhe vêm de toda parte – de seu agente no Japão,
Sorge; do residente da NKVD (polícia política, depois KGB) em Kichinev,
Goglidzé; e do adido soviético-ad junto em Berlim, Khlopov. Stálin não reage
aos 324 casos de violação do espaço aéreo soviético pela Luftwaffe (força aérea
alemã) entre 1º de janeiro e 22 de junho de 1941. Pior ainda, ele – que vê
espiões por todos os lados, inclusive entre seus auxiliares próximos – autoriza
grupos de especialistas alemães a entrar no território soviético para fazer
levantamentos topográficos, sob o pretexto de encontrar túmulos de soldados
alemães da Primeira Guerra Mundial. As violações do espaço aéreo e os
levantamentos feitos no solo permitem aos alemães mapear os locais que vão
bombardear impunemente em 22 de junho. Stálin declara então ao marechal
Timochenko: “A Alemanha não combaterá jamais sozinha contra a Rússia”. Em 21 de
junho, o chefe da NKVD, Beria, envia a Stálin duas notas. Sabendo que Stálin,
julgando-se infalível, não suporta a menor crÍtica, denuncia um informante
soviético “que mente, afirmando que Hitler concentrou 170 divisões contra nós
sobre nossa fronteira ocidental”, e conclui: “Mas eu e meus homens, Iossif
Vissarionovicht [Stálin], nos apegamos firmemente em vossa sagaz previsão:
Hitler não nos atacará em 1941”. Assim que Stálin é informado, em 22 de junho
de 1941, às 3 horas da manhã, que a Wermacht (Forças Armadas da Alemanha) havia
entrado na URSS, ele se recusa durante horas a ordenar uma reação, e permite
assim à aviação alemã destruir sem dificuldades cerca de mil aviões soviéticos
em solo. Ele envia Molotov para verificar com o embaixador da Alemanha se seu
país realmente declarou guerra à URSS antes de tomar a menor providência! O
avanço relâmpago da Wehrmacht, em face do despreparo de Stálin, permite que os
alemães capturarem centenas de milhares de soldados soviéticos pegos de
surpresa. Stálin, recolhido em seu escritório no Kremlin, qualifica de
traidores essas vítimas de sua irresponsabilidade. Centenas de milhares de
outros soldados se desorientam e fogem. Numa estratégia “genial”, Stálin proíbe
qualquer recuo em face da ataque em massa alemão. Em 29 de julho, Jukov,
constatando que o Exército da frente sudoeste corre o risco de ser cercado pela
Wehrmacht, propõe reagrupá-lo atrás do rio Dnieper e abandonar Kiev, a seu ver
indefensável. Stálin o demite das funções de chefe do grande quartel-general do
Exército Vermelho e exige de Khruschov que ele não recue de Kiev custe o que
custar. Em 10 de setembro, os blindados alemães abrem uma cunha no Exército
Vermelho e ameaçam Kiev. Stálin proíbe que se evacue a cidade. Resultado: meio
milhão de soldados soviéticos é feito prisioneiro. E foi assim até a batalha de
Stalingrado. Um relatório encaminhado a Beria pelo comissário da NKVD,
Milstein, em outubro de 1941, informa que 657.364 desertores abandonaram suas
unidades militares e foram capturados pelas seções especiais do NKVD, que
fuzilaram 10.201. Quem é responsável por esta debandada, senão aquele que
esperou a invasão para tomar alguma providência? Sem os erros catastróficos de
Stálin, “o maior homem de todos os tempos e de todos os povos”, segundo a
propaganda oficial, jamais as tropas alemães poderiam ter se aproximado da
cidade. Em 1946, Jukov será acusado de haver declarado a alguns generais
soviéticos: “Stálin era e ainda é um zé ninguém”. À sua incompetência militar
se somava uma prática política que consistia em resolver os problemas somente
pelo terror. Os aviões soviéticos voam mal? Ele fez fuzilar Rytchagov, o chefe
da aviação soviética. No entanto, os aviões não passaram a voar melhor! Em
1942, Stálin mandou fuzilar 32 generais acusados de serem os culpados por todas
as derrotas que suas decisões causaram, e assim por diante… Durante os cinco
meses da batalha de Stalingrado, 13.500 soldados e oficiais acusados de covardia,
deserção, recuo sem autorização e automutilação foram fuzilados pela NKVD.
A campanha militar de Hitler não havia sofrido um só revés
até dezembro de 1941, quando fracassou a tentativa de conquistar Moscou. Porém,
a batalha decisiva da Segunda Guerra só ocorreu no ano seguinte, na famosa
Stalingrado. Em agosto os alemães fizeram a primeira investida contra a cidade
com pesados bombardeios. Mas os combates que determinaram a derrota nazista
ocorreram a partir de novembro. Em 30 de janeiro de 1943, no décimo aniversário
de sua ascensão ao poder, Hitler, fazendo um solene pronunciamento pelo rádio,
declarou: “Daqui a mil anos os alemães falarão sobre a Batalha de Stalingrado
com reverência e respeito, e se lembrarão que a despeito de tudo, a vitória da Alemanha
foi ali decidida”. Ocorreu justamente o contrário! Em 31 de janeiro de 1943,
cercadas em Stalingrado desde o fim de novembro do ano anterior, as tropas
alemãs se rendem ao Exército Vermelho. A aviação alemã já nem conseguia mais
abastecer seus soldados imobilizados no lugar que chamavam de “caldeirão”.
Hitler, em desespero, tentou evitar a capitulação de Paulus, elevando-o à
patente de marechal do Reich. Em 28 de janeiro, o que restara de um grande
exército dividiu-se em três pequenos bolsões. Na manhã do dia 30 (décimo
aniversário da chegada dos nazistas ao poder), segundo uma testemunha ocular, o
comandante sentou-se em seu leito de campanha, mergulhado em profunda
depressão, e telegrafou de novo para Hitler: “Não se pode protelar o colapso
final por mais 24 horas”. O final foi tétrico! Na manhã do dia 31, Paulus
enviou sua última mensagem ao quartel-general em Berlim: “O 6º Exército, fiel
ao seu juramento e ciente da grande importância de sua missão, manteve até o
fim sua posição, até o último homem e o último cartucho, pelo Führer e pela
Pátria”. O radiotelegrafista acrescentou, por conta própria: “Os russos
encontram-se à porta de nosso abrigo. Estamos destruindo nosso equipamento.
CL”. No código internacional telegráfico, a sigla CL significa: “esta estação
não mais fará transmissões”. Um esquadrão de soldados soviéticos, comandados
pelo General Chuikov, espreitou o porão escuro onde estava Paulus. O chefe do
Estado-Maior, general Schmidt, o recebeu. Os soviéticos exigiram a rendição
incondicional. Schmidt consultou Paulus, deitado em sua cama de campanha. A
resposta foi o silêncio. Schmidt, sem hesitar, assinou a rendição que
oficialmente ocorreu em 3 de fevereiro de 1943.