domingo, 3 de julho de 2022

CLUBE DE BILDERBERG DESCONGELA UMA GUERRA: É A ELITE FINANCEIRA GERENCIANDO A “NOVA DESORDEM” MUNDIAL

A “claustrofobia ideológica” da esquerda reformista, acelerada por bloqueios e restrições e que estão sendo agora reeditados de forma sistêmica (ainda que com um impacto menor), tornou as “teorias da conspiração” ainda mais atraentes para o Marxismo Revolucionário. Apesar da sua pretensão, por vezes sedutora, de explicar uma realidade cada vez mais mutável e complexa, vale a pena lembrar que o motor da história é a luta de classes, relembrando a frase brilhantemente sucinta de um dos melhores analistas do poder, Charles Wright Mills, nos anos cinquenta do século passado: “Há muitas conspirações ao longo da história, mas a história não é uma conspiração”.

Mas os “mitos” reais existem, e não sem uma razão histórica. Um deles é o extremamente discreto Bilderberg Club, uma cúpula anual em que chefes de Estado, executivos das transnacionais, grandes rentistas e os barões da mídia murdochiana, principalmente do Ocidento, se reúnem a portas fechadas em torno de uma série de questões consideradas candentes e estratégicas. Todo uma governança mundial “informal”, unificada por diferentes setores das classes dominantes, como representação da hierarquia de um mundo atual, na realidade, muito pequeno em seu cume.

Bilderberg leva o nome do hotel holandês onde se realizou o primeiro encontro entre este tipo de líderes públicos e privados em 1954. Aquele encontro refletia a preocupação com a mais incandescente guerra fria, com uma poderosa União Soviética que vivia a sucessão do burocrata Josef Stalin e com uma China que iniciava uma longa hegemonia de ferro do Partido Comunista de Mao Tse-Tung.

Uma “guerra descongelada” também marcou o encontro de 2022 do Clube da governança planetária, no qual essas duas potências nucleares e supostamente alternativas a ordem ocidental cada vez menos liberal estão entre as preferências dos participantes, cerca de 130 escolhidos para dialogar e conspirar por apenas quatro dias.

A ausência de documentos gráficos (virtuais ou materiais) sublinha a extrema importância exclusiva de uma sociedade tão acostumada ao espetáculo e de um Clube que não pode se deixar fotografar e tampouco repetir “ad nauseam” a pauta de suas reuniões na mídia corporativa. É o rugido de um silêncio que, no entanto, atrai cada vez mais a atenção.

Representantes e diretores da CIA, da OTAN, do serviço secreto britânico (Deep State), das grandes multinacionais, Google-Alphabet, Meta, Goldman Sachs, Deutsche Bank, AXA, Pfizer e dos grandes meios de comunicação como The Economist, Financial Times, juntamente com a presença do eterno Henry Kissinger (99 anos), fizeram deste evento mais uma caricatura sinistra em ascensão, em uma data capaz de decidir o futuro do mundo, pelo mundo se não lhe oporem resistência.

Paradoxalmente, entre as figuras mundiais selecionadas para este encontro, destaca-se a presença do insignificante ex-presidente do reacionário Partido Popular espanhol, Pablo Casado. Para ele, esse convite pode ter sido relacionado a recente reunião de cúpula da OTAN em Madri. Este ano, esteve ausente uma figura ibérica de peso, Ana Patricia Botín, presidente do Banco Santander e membro do conselho diretor do Cl de Bilderberg. 

A apenas 25 dias da cúpula da OTAN em Madrid, o Bilderberg reproduz, pelo menos nos seus temas principais, o pessimismo do recém-concluído Fórum de Davos, outro dos lugares-chave para o encontro das elites capitalistas mundiais. Desigualdades, migrações e problemas derivados das mudanças climáticas parecem ocupar o segundo lugar entre as causas da instabilidade global com base nos principais tópicos que aparecem no site oficial. A guerra e as tensões globais latentes voltaram à tona. Como nos velhos tempos da antiga “Guerra Fria”.

Esses pontos da “pauta do dia” do Clube são bem diversos, porém tem um foco: a ampliação da OTAN e os problemas políticos e econômicos da China, cada vez mais central nas esferas tecnológica, econômica e da geopolítica, contrastando com a paralisia econômica e política da União Europeia, totalmente dependente dos EUA.

As elites dominantes conspiram e Bilderberg é uma testemunha fiel e quase folclórica disso, somente os “inocentes úteis” da esquerda domesticada pelo capital financeiro não reconhecem este fato histórico.

O crescente silêncio em torno desse Clube, legitimado pelos reformistas da esquerda Social Democrata, acaba por favorecer seu caráter estratégico: menos mistério e mais espaço para se chegar a acordos entre as frações rentistas no fortalecimento de uma maior governança global que sempre abandonou a teoria da “livre concorrência” em favor da conspiração contra a classe operária internacional.