Acaba de ser lançado pelo jornalista Leonencio Nossa o
primeiro volume da biografia de Roberto Marinho - “O Poder está no ar” - abordando
o seu nascimento em 1904 até 1969, ano de criação do Jornal Nacional. Apesar de
anunciar ser uma “biografia independente” que busca o “rigor jornalístico”,
fica evidente que as supostas pesquisas do autor do livro encobrem o verdadeiro
papel das “Organizações Globo” e seu dono na manutenção da ordem burguesa no
país. Não por caso o jornal da Famiglia Marinho e sua rede de TV deram grande
destaque ao seu lançamento no mercado editorial brasileiro, apresentando-o como
um relato “imparcial” da vida de Roberto Marinho. Trata-se na verdade de uma
farsa global (com a licença poética do trocadilho) elaborada por um escriba a
soldo dos Marinho que visa diluir ao máximo o papel da nefasta figura do chefe
falecido do clã burguês mais poderoso do país no retrocesso político e cultural
que vivemos no Brasil hoje, imposto pelos fortes laços da “Organização” com o
imperialismo ianque. Fica evidente ser uma biografia feita sob encomenda para
encobrir a “História secreta da Rede Globo”, esse sim um livro magistral e de
rigor jornalístico, onde Daniel Herz denunciou em todos os detalhes a criação
da Rede Globo durante a ditadura militar brasileira. Não esqueçamos que a TV Globo
acabou de completar seus 54 anos de existência neste 26 de abril, data em que
começou a funcionar no ano de 1965, fundada por Roberto Marinho. A emissora é
criatura do golpe militar de 1964. O então diretor do jornal “O Globo” Roberto
Marinho foi um dos principais incentivadores da deposição do presidente João
Goulart, dando sustentação política, ideológica e logística à ação das FFAA. Um
ano depois, foi fundada a sua emissora de televisão, que ganhou graças a ação
dos generais gorilas em parceria com investimentos financeiros de corporações
da mídia ianque. O império foi construído com incentivos públicos, isenções
fiscais e outras mutretas, passadas e recentes. Com a sedimentação da ditadura
militar o jornal "O Globo" transformou-se rapidamente em uma rede
nacional de TV, desbancando o império das comunicações nacional, construído por
Assis Chateaubriand. Em plena sintonia com o imperialismo ianque, que financiou
inicialmente todo o megaprojeto dos Marinho em parceria com o grupo Time Life,
a TV Globo converteu-se na principal base de apoio de “massas” do regime
militar (o monopólio da cobertura da copa do mundo em 70 foi o ponto
determinante da inflexão), sendo muito bem gratificada pelos serviços
prestados.
Se no caso dos milicos a “ideologia” reacionária dos Marinho
casava muito bem com seus interesses empresariais, não se pode dizer o mesmo da
última década dos governos petistas, onde mesmo sendo beneficiada com generosas
verbas estatais (faturadas diretamente por anúncios públicos ou via empréstimos
do BNDES) a rede Globo não conseguiu digerir uma longa sequência histórica de
“poder” da Frente Popular. Por suas viscerais ligações com o grande “Amo do
Norte”, os Marinho se oferecem mais uma vez para serem parceiros da ofensiva
imperialista contra os governos da “centro-esquerda” na América Latina, só que
desta vez “jurando amor” pela democracia! Somente muito tolos ou inocentes
úteis podem acreditar que a participação dos Marinho em 64 se restringiu a um
“apoio editorial” aos militares golpistas. Como esquecer nas páginas de O Globo
a fotografia de nossos combatentes sendo expostas com a chamada de “Procura-se
os perigosos terroristas”! Será que a “amnésia” dos Marinho os fizeram esquecer
de seus inúmeros editoriais, ao longo de vinte anos celebrando figuras
sinistras como os torturadores Fleury, Costa e Silva e Médici. E quando
vociferaram por repressão brutal ao movimento operário, os Marinho por acaso
estavam vivendo em um momentâneo “surto” autoritário? Mas não mais que de
repente a rede Globo se declarou contrária a censura e até “protetora” de
intelectuais comunistas perseguidos pelos militares, e como justificar a
completa legitimidade que deu ao famigerado AI-5? Realmente a “autocrítica” dos
Marinho não é capaz de convencer a ninguém minimamente esclarecido sobre a
história recente do país.
Em 2015 em um editorial do pastelão “O Globo”, sua direção
anunciou uma “autocrítica” pelo “apoio editorial” ao golpe militar desferido
contra o povo brasileiro em 1964. Agora a Globo está colhendo os frutos do
golpe parlamentar vitorioso contra o governo Dilma desferido em 2016 e semeando
um golpe de estado para o próximo período, inclusive emparedando o fascista
Bolsonaro para este levar adiante sem vacilo o ajuste neoliberal como exigem os
rentistas. O controle político que os Marinho hoje detém da maioria do STF e
sua relação de parceria no poder estatal com o ex-Juiz e atual ministro da
Justiça, Sérgio Moro, é um claro sinal de seus objetivos golpistas, que podem
percorrer várias trilhas. Só este elemento deveria receber a mais veemente
repulsa de todo o arco das forças que reivindicam a democracia formal em nosso
país, a exigência da renúncia do conjunto desta comprometida Corte Suprema se
coloca como tarefa imediata do movimento de massas. Desgraçadamente muitos dos
que faziam oposição de “esquerda” ao governo Dilma pensavam que era progressiva
a “chicana” feita pelo STF e pelo então Juiz Moro (premiado pelas Organizações
como “o Homem do Ano” há pouco tempo) contra o PT, ignorando que se trata de um
ataque ao conjunto da esquerda e das próprias liberdades democráticas.
Não esqueçamos que recentemente, o Blog “O Cafezinho” de
Miguel do Rosário foi penalizado pela justiça a pagar R$ 20 mil de indenização
em processo movido por Ali Kamel, diretor-geral de jornalismo da Rede Globo.
Por trás dessa clara perseguição político-judicial, encontra-se o fato dele ter
denunciado seguidamente e com farta documentação a sonegação fiscal milionária
das Organizações Globo e suas manobras obscuras para escapar do Fisco. Soma-se
a isso que o blogueiro colocou a nu o papel da emissora na manipulação midiática
de nosso povo e a colaboração íntima da Globo, sob o comando de Roberto
Marinho, com a ditadura militar que perseguiu e matou centenas de lutadores no
Brasil nos anos de chumbo. Mais recentemente “O Cafezinho” dedicou-se a
investigar a lista de políticos burgueses e altos-executivos brasileiros
envolvidos no escândalo do HSBC suíço encoberta pelos jornalões e redes de TV,
inclusive ligadas a Globo (como o Sistema Verdes Mares e a RBS) porque também
envolve nomes plumados do tucanato e globais. Esta ofensiva contra a chamada
“imprensa alternativa” que não está alinhada aos grandes meios corporativos de
alienação de massa da burguesia em nosso país é parte de uma cruzada maior
contra o conjunto dos movimentos sociais e a luta dos trabalhadores,
recrudescimento que vem se aprofundando desde as “Jornadas de Junho” com a
prisão dos Black Bloc´s e, depois, no processo contra os 23 ativistas do Rio de
Janeiro, entre eles Sininho, Igor Mendes e Karlaine, farsa jurídica que levou
esses companheiros ao cárcere, em uma ação orquestrada pela justiça a serviço
do governo Cabral-Pezão e que teve apoio de Dilma. Enquanto isso, tanto “zelo”
por parte da Rede Globo e do PIG quando se tratou do caso do helicóptero com
500 kg de cocaína pertencente ao deputado estadual Gustavo Perrella e a seu
pai, o atual senador Zezé Perrella, ainda mais quando se sabe que os
diretores da emissora do Jardim Botânico têm ligações comerciais com
contrabandistas, traficantes e bicheiros, realidade denunciada com detalhes por
um alto executivo das Organizações Globo durante 10 anos, Roméro da Costa
Machado, ex-assessor especial de Boni, que conheceu a fundo os negócios
obscuros do grupo e seus escândalos.
No momento em que é lançada a biografia de Roberto Marinho com o
sugestivo nome “O Poder está no ar”, aproveitamos para declarar ser impossível
existir uma “mídia independente” dos grandes monopólios dos meios de
comunicação, sem a ruptura revolucionária com o Estado burguês e a expropriação
dos meios de comunicação capitalistas, que manipulam a população segundo seus
interesses de classe sob o silêncio cúmplice do governo do PT, gerência que
servilmente chegou a financiar fartamente os barões da mídia e que teve como
“retribuição” o apoio decidido da Globo a prisão de Lula e a perseguição aos
dirigentes petistas. A única forma de ter uma mídia comprometida com os
interesses dos trabalhadores e do povo pobre é lutando pela liquidação do
próprio Estado burguês, pondo abaixo o “quarto poder” que aliena as massas para
manter a exploração capitalista e a hegemonia do imperialismo sobre os povos do
planeta.